CARTA AOS CORRELIGIONÁRIOS ATIVISTAS SOCIAIS
Alex Conceição*
"Que país é esse?"
“... é por isso que o país tá
uma merda..."
"Vamos lutar pelo nosso
Brasil!"
"Lutando talvez tenhamos
um Brasil melhor...”.
Caros correligionários! Não
posso dizer hoje que me incomodo com os problemas do Brasil. Muito menos posso
dizer que invejo as condições sociais dos países de primeiro mundo. Não
acredito na ascensão do Brasil como solução de problema algum. Eliminar a corrupção,
melhorar a política partidária, melhorar a educação, a saúde, a “segurança” no
Brasil é tudo conversa fiada. Sinto muito senhores, mas não vejo fronteiras
separando as mazelas palestinas, haitianas, indianas, brasileiras ou mesmo
estadunidenses; pelo contrário, vejo a globalização da fome, que sucede às
guerras infindáveis num mundo de concorrências; vejo fronteiras, que nos
impedem de ver os mazelados do outro lado como semelhantes a nós.
Queremos o bem dos brasileiros
com um fervor altruísta tão sério, mas nos esquecemos de que antes de sermos
brasileiros somos humanos; antes das bandeiras, dos hinos, das cores e das
fronteiras, vem o sangue que não segue qualquer distinção patriótica; antes da
falácia nacionalista vem a necessidade de comer, que é sentida de um extremo ao
outro e em qualquer etnia. Acredito que o problema desta divergência com
aqueles crentes naquilo que eu nego é fruto da força do opressor. Este se
utiliza muito bem da contradição para nos tornar reféns; somos adoradores de
bandeiras enquanto o inimigo é adorador do lucro; e digo-lhes senhores, este
último não está atrelado a um só pigmento da coloração de qualquer bandeira. O
lucro passa por cima dos nacionalismos os utilizando como curral para nós
explorados. Lutamos por uma causa que não é nossa quando nos atrelamos à lógica
patriótica.
Quando pedimos melhorias para o
nosso país estamos, na verdade, louvando a lógica de precarização da vida em
outro ponto do mundo (para não dizer de lugares aqui, que são distantes de
vocês e de mim); estamos deixando de lado todo o altruísmo para dar vazão a um
egoísmo – burro, pois que defendemos a causa do explorador – integrante da
lógica capitalista. No mundo em que vivemos, querer ser do primeiro mundo é
querer que os “capitalistas nacionais” (o termo é até contraditório) tomem
parte maior do mundo.
Entristeço-me quando vejo e
escuto espíritos rebeldes (quiçá anárquicos) defensores, pelo menos de uma das
partes essenciais, de um sistema estruturado sobre corpos extenuados e com a
falsa perspectiva de redenção... Senhores! Proponho aqui a semente da
reflexão... Não. Para além! Proponho a reflexão crítica de uma situação que
vemos ano após ano nos arrastar para o labirinto do ceticismo. Proponho a água
para os olhos anuviados por uma porção de símbolos nacionais que nos impedem de
entender o mundo visto do espaço ou de um livro de economia contemporânea...
*Artista e historiador.
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