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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O labirinto do ceticismo

 

CARTA AOS CORRELIGIONÁRIOS ATIVISTAS SOCIAIS
Alex Conceição*

"Que país é esse?"

“... é por isso que o país tá uma merda..."

"Vamos lutar pelo nosso Brasil!"

"Lutando talvez tenhamos um Brasil melhor...”.

Caros correligionários! Não posso dizer hoje que me incomodo com os problemas do Brasil. Muito menos posso dizer que invejo as condições sociais dos países de primeiro mundo. Não acredito na ascensão do Brasil como solução de problema algum. Eliminar a corrupção, melhorar a política partidária, melhorar a educação, a saúde, a “segurança” no Brasil é tudo conversa fiada. Sinto muito senhores, mas não vejo fronteiras separando as mazelas palestinas, haitianas, indianas, brasileiras ou mesmo estadunidenses; pelo contrário, vejo a globalização da fome, que sucede às guerras infindáveis num mundo de concorrências; vejo fronteiras, que nos impedem de ver os mazelados do outro lado como semelhantes a nós.

Queremos o bem dos brasileiros com um fervor altruísta tão sério, mas nos esquecemos de que antes de sermos brasileiros somos humanos; antes das bandeiras, dos hinos, das cores e das fronteiras, vem o sangue que não segue qualquer distinção patriótica; antes da falácia nacionalista vem a necessidade de comer, que é sentida de um extremo ao outro e em qualquer etnia. Acredito que o problema desta divergência com aqueles crentes naquilo que eu nego é fruto da força do opressor. Este se utiliza muito bem da contradição para nos tornar reféns; somos adoradores de bandeiras enquanto o inimigo é adorador do lucro; e digo-lhes senhores, este último não está atrelado a um só pigmento da coloração de qualquer bandeira. O lucro passa por cima dos nacionalismos os utilizando como curral para nós explorados. Lutamos por uma causa que não é nossa quando nos atrelamos à lógica patriótica.

Quando pedimos melhorias para o nosso país estamos, na verdade, louvando a lógica de precarização da vida em outro ponto do mundo (para não dizer de lugares aqui, que são distantes de vocês e de mim); estamos deixando de lado todo o altruísmo para dar vazão a um egoísmo – burro, pois que defendemos a causa do explorador – integrante da lógica capitalista. No mundo em que vivemos, querer ser do primeiro mundo é querer que os “capitalistas nacionais” (o termo é até contraditório) tomem parte maior do mundo.

Entristeço-me quando vejo e escuto espíritos rebeldes (quiçá anárquicos) defensores, pelo menos de uma das partes essenciais, de um sistema estruturado sobre corpos extenuados e com a falsa perspectiva de redenção... Senhores! Proponho aqui a semente da reflexão... Não. Para além! Proponho a reflexão crítica de uma situação que vemos ano após ano nos arrastar para o labirinto do ceticismo. Proponho a água para os olhos anuviados por uma porção de símbolos nacionais que nos impedem de entender o mundo visto do espaço ou de um livro de economia contemporânea...

*Artista e historiador.

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