por Luciana Genro
Publicado em 16 de agosto de 2014
No sábado, dia 9 de agosto, um
jovem negro de 18 anos foi assassinado pela polícia na pequena cidade de Ferguson,
nos Estados Unidos. Michael Brown tinha recém se formado no Ensino Médio e iria
iniciar as aulas na universidade. Ele estava indo visitar sua avó quando foi
abordado por um policial por estar caminhando sobre o asfalto, e não sobre a
calçada.
Há muitas versões em disputa
sobre o que teria ocorrido durante a abordagem policial, mas alguns consensos,
reconhecidos até mesmo pela polícia, são fundamentais para se compreender o
caso. Michael Brown estava desarmado. Pelo menos duas testemunhas afirmam que
ele não reagiu à abordagem e teria permanecido com as mãos ao alto, conforme
solicitado pelo agente. A polícia, contudo, diz que o jovem teria tentado sacar
a arma do policial.
O fato é que a morte de um
jovem negro por um policial branco despertou uma onda de protestos na cidade e
no país, motivando até mesmo um pronunciamento nacional do presidente Barack
Obama. Dados do censo federal dos Estados Unidos nos ajudam a entender melhor a
situação. Com pouco mais de 21 mil habitantes, a cidade de Ferguson é composta,
em 67% de sua população, por pessoas negras. Contudo, isso não se reflete nas
estruturas locais de poder. O prefeito, o chefe de polícia e cinco dos seis
vereadores do município são brancos. E um relatório do Ministério Público do
estado do Missouri, onde fica localizada a cidade, informa que, em 2013, 93%
dos presos pela polícia em Ferguson eram negros.
Esses dados são estarrecedores
e nos ajudam a compreender a complexa realidade de racismo institucional em
vigor tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. A onda de protestos em virtude
da morte de Michael Brown tem sido duramente reprimida pela polícia. Nos
Estados Unidos, apesar de as forças policiais não serem militarizadas, possuem
armamentos militares oferecidos pelo governo federal.
A reação popular legítima que
ocorre atualmente em Ferguson está se espalhando para outras cidades do país,
inclusive Nova York. O assassinato deste jovem negro pela polícia ocorreu nos
Estados Unidos, mas poderia ter sido no Brasil. A vítima se chamava Michael Brown,
mas poderia se chamar Amarildo, Cláudia Silva Ferreira ou DG. O extermínio da
juventude pobre e negra não escolhe nacionalidade.
No Brasil é a famigerada guerra
às drogas que serve de justificativa para as execuções sumárias de jovens
pobres e negros, como foi o caso de Amarildo, DG e Cláudia. Aqui também o
racismo permeia as relações sociais e principalmente as ações da polícia.
Defendemos uma profunda transformação na estrutura policial brasileira. O caso
dos Estados Unidos – onde as polícias são locais e não são militarizadas – é a
prova de que não basta apenas desmilitarizarmos as polícias estaduais. A polícia não pode ser preparada para
combater um inimigo, dentro de uma lógica militar de guerra. É preciso construir
uma polícia democrática, com sólida formação em direitos humanos, onde o agente
exerça a função de mediador dos conflitos sociais através do enraizamento nas
comunidades.
Além disso, é preciso acabar
com esta legitimação das execuções sumárias via guerra às drogas. E por fim, é
preciso combater o racismo com politicas afirmativas e educacionais. Essa
são propostas que defendo para o país,
enquanto candidata à Presidência da República. É nesta condição que apresento,
também, minhas condolências à família de Michael Brown. À comunidade de
Ferguson, manifesto meu apoio às manifestações e a convicção de que somente a
luta dos oprimidos é capaz de modificar as estruturas que favorecem os
opressores e a opressão.
Por fim, é preciso dizer que o
exemplo da comunidade de Ferguson, que não aceitou calada mais este assassinato
a sangue frio e saiu às ruas, contagiando o país, é um exemplo de combate ao
racismo e à violência.
Fonte: Geledés, Instituto da
Mulher Negra
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