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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Polícia Federal obriga mulher a prender 'black power' para foto de passaporte

Foto: reprodução

“A cada tentativa de explicação, o caldo entorna mais. O sistema “técnico” de identificação da PF brasileira não é tão ‘técnico’ assim. Elaborado fundado em valores racistas, não poderia expressar outra coisa”. Almoço das Horas.


 FOLHAPRESS 17/07/2014
 
Mulher fez desabafo no Facebook reclamando do procedimento

Ao procurar um posto da Polícia Federal em Salvador para solicitar um passaporte, na quarta-feira (16), a jornalista Lília de Souza, 34, teve de prender os cabelos estilo "black power" para fazer a foto que será usada no documento.

Segundo ela, após várias tentativas de tirar a foto com os cabelos soltos, uma policial disse que o sistema eletrônico não estava aceitando a imagem por causa do cabelo.

"Fiquei muito constrangida. Eu ainda insisti em fazer a foto com o cabelo solto, a policial tentou algumas vezes e o sistema não permitiu", escreveu Lília em sua página no Facebook.

A jornalista contou que prendeu o cabelo com um elástico emprestado pelos policiais e o sistema funcionou.

"Saí de lá arrasada", escreveu Lília. Ela contou que, depois de chorar do lado de fora do posto, voltou ao local para protestar.

Segundo a jornalista, as policiais disseram que não se tratava de racismo, mas que o sistema de fotos é problemático e, por isso, às vezes também é difícil fazer imagens de pessoas muito negras. Nesses casos, é preciso clarear um pouco a imagem.

Ela ressaltou em sua página do Facebook que não tem nenhuma queixa contra as três policiais que a atenderam, mas sim em relação ao sistema eletrônico. Para Lília, há algo errado num sistema que não aceita o seu cabelo do jeito que ele é.

Em nota, a Polícia Federal informou que adota um sistema com padrão da Organização da Aviação Civil Internacional, que exige requisitos mínimos para a identificação dos viajantes.

Segundo a PF, o sistema pode reprovar uma foto por várias razões, o que exige que a imagem seja refeita em situações como cabelo solto, na frente dos olhos ou com muito volume, olhos fechados, entre outras.

"Os chips desses passaportes armazenam inúmeros dados biográficos e vários requisitos são exigidos para uniformização de procedimentos", diz a nota.

O Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela, de Salvador, vai pedir explicações à Polícia Federal. Segundo o coordenador Ivonei Pires, Lília reuniu-se com o grupo nesta quinta-feira (17).

O texto dela no Facebook teve grande repercussão, com cerca de 600 compartilhamentos. O Centro Nelson Mandela também informou ter recebido 15 ligações de pessoas que relataram ter passado pela mesma situação.

"Se esse sistema leva pessoas negras ao constrangimento, precisa ser melhorado", afirma Pires, que pretende marcar uma reunião com o setor de passaportes da Polícia Federal para ouvir explicações.

Fã de jogadores da seleção brasileira que assumem suas raízes negras e usam cabelo "black power", Lília usou o Facebook no início do mês para elogiar alguns deles. "Amo ver os 'blacks' de Marcelo, Willian, Dante, todos lindos. Uma seleção com forte presença de negros", escreveu.

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