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“A cada tentativa de explicação,
o caldo entorna mais. O sistema “técnico” de identificação da PF brasileira não
é tão ‘técnico’ assim. Elaborado fundado em valores racistas, não poderia
expressar outra coisa”. Almoço das Horas.
FOLHAPRESS 17/07/2014
Mulher fez desabafo no Facebook
reclamando do procedimento
Ao procurar um posto da Polícia
Federal em Salvador para solicitar um passaporte, na quarta-feira (16), a
jornalista Lília de Souza, 34, teve de prender os cabelos estilo "black
power" para fazer a foto que será usada no documento.
Segundo ela, após várias
tentativas de tirar a foto com os cabelos soltos, uma policial disse que o
sistema eletrônico não estava aceitando a imagem por causa do cabelo.
"Fiquei muito
constrangida. Eu ainda insisti em fazer a foto com o cabelo solto, a policial
tentou algumas vezes e o sistema não permitiu", escreveu Lília em sua
página no Facebook.
A jornalista contou que prendeu
o cabelo com um elástico emprestado pelos policiais e o sistema funcionou.
"Saí de lá arrasada",
escreveu Lília. Ela contou que, depois de chorar do lado de fora do posto,
voltou ao local para protestar.
Segundo a jornalista, as
policiais disseram que não se tratava de racismo, mas que o sistema de fotos é
problemático e, por isso, às vezes também é difícil fazer imagens de pessoas
muito negras. Nesses casos, é preciso clarear um pouco a imagem.
Ela ressaltou em sua página do
Facebook que não tem nenhuma queixa contra as três policiais que a atenderam,
mas sim em relação ao sistema eletrônico. Para Lília, há algo errado num
sistema que não aceita o seu cabelo do jeito que ele é.
Em nota, a Polícia Federal
informou que adota um sistema com padrão da Organização da Aviação Civil
Internacional, que exige requisitos mínimos para a identificação dos viajantes.
Segundo a PF, o sistema pode
reprovar uma foto por várias razões, o que exige que a imagem seja refeita em
situações como cabelo solto, na frente dos olhos ou com muito volume, olhos
fechados, entre outras.
"Os chips desses
passaportes armazenam inúmeros dados biográficos e vários requisitos são exigidos
para uniformização de procedimentos", diz a nota.
O Centro de Referência de
Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela, de Salvador, vai
pedir explicações à Polícia Federal. Segundo o coordenador Ivonei Pires, Lília
reuniu-se com o grupo nesta quinta-feira (17).
O texto dela no Facebook teve
grande repercussão, com cerca de 600 compartilhamentos. O Centro Nelson Mandela
também informou ter recebido 15 ligações de pessoas que relataram ter passado
pela mesma situação.
"Se esse sistema leva
pessoas negras ao constrangimento, precisa ser melhorado", afirma Pires,
que pretende marcar uma reunião com o setor de passaportes da Polícia Federal
para ouvir explicações.
Fã de jogadores da seleção
brasileira que assumem suas raízes negras e usam cabelo "black
power", Lília usou o Facebook no início do mês para elogiar alguns deles.
"Amo ver os 'blacks' de Marcelo, Willian, Dante, todos lindos. Uma seleção
com forte presença de negros", escreveu.
Fonte: Correio do Estado
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