18/07/2014
Tradução: Vila Vudu
Tentativa
de culpar Rússia sem evidências sugere o pior: isolados e em declínio, EUA
tentariam manter supremacia por meio de provocação e guerra permanentes
Sobre o
tema:
Veja,
passo a passo, como jornal engana seus leitores, para levá-los a acreditar numa
mentira: a de que o mundo apoia a versão da Casa Branca sobre a derrubada do
avião malaio. Por Antonio Martins
As sanções unilaterais impostas
pelos EUA e anunciadas por Obama em 16/7, bloqueando o acesso a financiamentos
bancários de empresas russas de armas e energia, comprovam a impotência de
Washington. O resto do mundo, incluindo duas das maiores associações comerciais
dos EUA, já deram as costas ao presidente.
A Câmara de Comércio dos EUA e
a Associação Nacional de Fabricantes [orig. National Association of
Manufacturers] fizeram publicar anúncios e emitiram opiniões nas páginas do New
York Times, Wall Street Journal e Washington Post protestando contra as sanções
inventadas pelos EUA. A Associação Nacional de Fabricantes disse que “estamos
desapontados com os EUA, por ampliarem sanções unilaterais de modo que muito
prejudica a posição comercial norte-americana no mundo.” A Agência Bloomberg
noticia que “reunidos em Bruxelas, líderes da União Europeia recusaram-se a
acompanhar as medidas impostas pelos EUA.”[3]
Na tentativa de isolar a
Rússia, o insano habitante da Casa Branca isolou Washington. As sanções não terão efeito
sobre empresas russas. As empresas russas podem obter mais financiamentos do
que carecem, de bancos chineses, franceses e alemães.
Os três traços que definem a
cidade de Washington – arrogância, soberba e corrupção –, também emburrecem a
capital norte-americana e a fazem incapaz de aprender. Gente arrogante, tomada
de soberba, nunca aprende. Quando encontram resistência, respondem com
propinas, ameaças e coerção. A diplomacia exige capacidade razoável para
aprender com os erros — os próprios e os dos outros; mas já há anos Washington
esqueceu a diplomacia. Washington só conhece a força bruta.
Consequentemente, os EUA, com
as sanções, só são capazes de solapar o próprio poder e a própria influência.
As sanções só têm estimulado os países a se afastarem do sistema de pagamentos
em dólares, que é o fundamento do poder norte-americano.
Christian Noyer, presidente do
Banco da França e membro do Conselho de Administração do Banco Central Europeu,
disse que as sanções de Washington estão afastando as empresas e os países do
sistema de pagamentos em dólares. A soma gigantesca de dinheiro que os EUA
assaltaram, sob a forma de “multa” aplicada ao banco francês BNP Paribas, por
manter transações com países que os EUA “desaprovam”, mostra bem claramente os
graves riscos que ameaçam todos os que ainda insistam em negociar em dólares,
quando os EUA ditam as regras que bem entendam.
O ataque dos EUA contra o banco
francês serviu para que muitos recordassem as numerosas sanções passadas e se
pusessem em alerta contra sanções futuras, como as que ameaçam o banco
Commerzbank da Alemanha. Já é inevitável um movimento para diversificar as
moedas usadas no comércio internacional. Como Noyer destacou, o comércio entre
a Europa e a China não precisa do dólar e pode ser integralmente pago em euros
ou renminbi.
O fato de os EUA imporem regras
só deles a todas as transações denominadas em dólares, em todo o mundo, está
acelerando o movimento de países que se afastam do sistema de pagamento na
moeda norte-americana. Alguns países já criaram acordos bilaterais com seus
parceiros comerciais, para que os pagamentos se façam nas respectivas moedas
próprias.
Os países BRICS já estão
estabelecendo novos métodos de pagamento, independentes do dólar, e estão
criando seu próprio fundo monetário, para financiar seus negócios.
O valor do dólar dos EUA como
moeda de troca depende de seu papel no sistema internacional de pagamentos. Se
esse papel vai desaparecendo, também começa a sumir a demanda por dólar e o
valor de troca do dólar. A inflação entrará na economia dos EUA via preços de
importações, e os norte-americanos, já tão pressionados, verão cair ainda mais
os seus padrões de vida.
No século 21, a cada dia menos
gente confia nos EUA. As mentiras de Washington, como “armas de destruição em
massa” no Iraque (que nunca existiram); “armas químicas usadas por Assad” (que
jamais as usou); e “armas atômicas do Irã” (que absolutamente não existem) já
são tratadas como absolutas mentiras por outros governos. São mentiras e mais
mentiras, que os EUA usam para destruir países e ameaçar outros países com
destruição, para manter o mundo em eterno sobressalto.
Washington nada tem a oferecer
ao mundo, que consiga acalmar o sobressalto e a aflição que os EUA distribuem
pelo planeta. Ser nação amiga de Washington implica aceitar todas as suas
chantagens. E muitos já começam a concluir que a amizade de não compensa o
preço altíssimo que custa.
O escândalo da espionagem
universal pela Agência de Segurança Nacional dos EUA contra o mundo, e a recusa
dos EUA a se desculparem e desistirem da prática reiterada daqueles atos
aprofundaram ainda mais a desconfiança, que já se vê hoje até entre os próprios
aliados dos EUA. Pesquisas, em todo o planeta, mostram que outros países veem
os EUA como a maior ameaça à paz.
Nem o próprio povo
norte-americano confia no governo dos EUA. Pesquisas mostram que ampla maioria
de norte-americanos entendem que os políticos, a imprensa empresarial
prostituída [orig. presstitute media] e grupos de interesses privados, como
Wall Street e o complexo militar/de segurança, violentam todo o sistema para
servir seus próprios interesses, às custas do povo dos EUA.
O império de Washington está
começando a rachar, circunstância que provoca ação desesperada. Hoje, (17/7,
5ª-feira), ouvi notícias na National Public Radio sobre um avião de passageiros
malaio que caiu em território da Ucrânia. A notícia era verdadeira. Mas foi apresentada em tom de
fazer crer que teria havido alguma espécie de complô urdido pela Rússia e
“separatistas” ucranianos. Na BBC, mais e mais opiniões enviesadas, cada vez
mais enviesadas. Até que matéria sobre as “mídias sociais” “noticiava” que o
avião teria sido derrubado por um sistema russo de armas antiaéreas.
Nenhum dos “especialistas”
ouvidos sequer se preocupava com o que os “separatistas” teriam a ganhar com
derrubar um avião de passageiros. Nada disso. Elas já haviam decidido que a
Rússia “é culpada”, o que “evidentemente” “obriga(ria)” a União Europeia a
apoiar sanções ainda mais duras contra a Moscou A BBC acompanhava o script dos
EUA e “noticiava” o que Washington queria ver nas manchetes!
A operação tem, isso sim, todos
os indícios de ter sido concebida em Washington. Todos os promotores oficiais
de guerras rapidamente apareceram em todos os canais de televisão e em todas as
manchetes. O vice-presidente dos EUA Joe Biden declarou que “a aeronave foi
explodida em voo”. Que “não foi acidente”. Ora! Por que alguém teria tanta
certeza, antes de qualquer confirmação oficial? Visivelmente, Biden não
procurava culpar o governo ucraniano. Claro que quem abateu a aeronave em
“pleno voo” foi… a Rússia! É o modo como Washington opera: grita “culpado!”
tantas e tantas vezes, até que já ninguém se lembre de exigir provas.
O senador John McCain pôs-se
imediatamente a “declarar” que havia cidadãos norte-americanos no avião, o que
bastava para ele “exigir” ações punitivas contra a Rússia (tudo isso antes de
alguém conhecer a lista de passageiros do avião e as causas da queda).
As “investigações” estão sendo
feitas pelo regime de Kiev, fantoche de Washington. Acho que já se poderia
escrever a conclusão hoje, sem investigar coisa alguma.
É alta a probabilidade de que
apareçam provas fabricadas, como as provas fabricadas que o secretário de
Estado Colin Powell dos EUA apresentou à ONU, para “provar” a existência das
inexistentes “armas de destruição em massa” iraquianas. Washington safa-se há
tanto tempo, com tantas mentiras, golpes, encenações e crimes, que já se
convenceu de que se safará sempre.
No momento em que escrevo, não
há ainda informação confiável sobre o avião, mas a velha pergunta dos romanos
vale sempre: cui bono? Quem se
beneficia?
Os “separatistas” nada têm a
ganhar com derrubar um avião de passageiros, mas Washington, sim, tinha “bom”
motivo: culpar a Rússia. E bem poderia ter também um segundo motivo. Dentre os
muitos rumores, há um rumor que diz que o avião presidencial do presidente
Vladimir Putin voava rota semelhante à do avião malaio, com diferença de 37
minutos entre um e outro avião. Esse rumor disparou especulações de que
Washington teria decidido livrar-se de Putin, mas errou o alvo: tomou o avião
malaio pelo jato presidencial russo. O site Russia Today (RT) noticia que os
dois aviões teriam aparência semelhante.
Antes de começarem a “explicar”
que Washington seria sofisticada demais para ‘errar’ de avião, lembro que
quando os EUA derrubaram avião iraniano no espaço aéreo do Irã, a Marinha dos
EUA “explicou” que “pensara” que os 290 civis assassinados naquele atentado
estivessem num jato iraniano, um F-14 Tomcat, jato de combate fabricado pelos
EUA, e muito usado também pela Marinha dos EUA. Ora! Se a Marinha norte-americana
não consegue distinguir nem entre um jato de combate que usa todos os dias, e
um avião de passageiros iraniano… é claro que os EUA podem se atrapalhar e
confundir dois aviões de passageiros que, como diz RT são, sim, até que
“parecidos”.
Durante toda a matéria da BBC,
publicada para inventar a culpa da Rússia, nenhum “especialista” lembrou-se do
avião iraniano de passageiros que os EUA “abateram em pleno voo”. Ninguém
“exigiu” sanções contra os EUA.
Seja qual for o desfecho do
incidente com o avião malaio, os fatos indicam um perigo na política soft de
Putin contra a intervenção armada e violentíssima dos EUA na Ucrânia. A decisão
de Putin, de responder com diplomacia, não com recursos militares, às
provocações de Washington na Ucrânia, deu vantagem inicial ao governante russo
– como se comprova na reação da UE e de associações de empresários
norte-americanos contra as sanções de Obama. Contudo, ao não impor fim
imediato, por meios militares, ao conflito que Washington patrocina e comanda
na Ucrânia, Putin deixou a porta aberta para os crimes e complôs que Washington
está maquinando — e que são especialidade dos EUA.
Se Putin tivesse aceitado o
pedido dos antigos territórios russos do leste e sul da Ucrânia, para se
reincorporarem à Rússia, o imbróglio ucraniano teria acabado já há meses; e a
Rússia não estaria exposta a tantos riscos.
Putin não colheu o benefício de
ter-se recusado a enviar soldados para os antigos territórios russos: a posição
oficial” de Washington é que há soldados russos operando na Ucrânia. Quando os
fatos não ajudam a “confirmar” o que mais interessa à agenda de Washington,
“dá-se um jeitinho” nos fatos.
A imprensa empresarial
norte-americana culpa Putin; já decidiram que o presidente russo é autor de
toda a violência na Ucrânia. É coisa inventada na cabeça de Washington, mas
“virou fato” nos jornais e televisões: é o que basta como justificativa para
qualquer sanção.
Dado que não há prática ou ato,
por sujos que sejam, que Washington não abrace, Putin e a Rússia estão expostos
a alto risco de se tornarem vítima de atentados graves ou dos golpes mais
abjetos.
A Rússia parece hipnotizada
pelo Ocidente, sob forte motivação para ser incluída como parte. Esse anseio
por ser aceita trabalha a favor da agenda e dos golpes de Washington.
A Rússia não precisa do
Ocidente; a Europa, sim, precisa da Rússia. Opção interessante para a Rússia é
cuidar de seus interesses e esperar que a Europa a procure, interessada.
O governo russo não deve
esquecer que a atitude de Washington em relação à Rússia é modelada pela
“Doutrina Wolfowitz”, que diz:
“Nosso primeiro objetivo é
impedir a re-emergência de um novo rival, seja no território da ex-União
Soviética ou em qualquer ponto, que represente ameaça da ordem que exerceu,
antes, a União Soviética. Essa é a consideração dominante que subjaz à nova
estratégia regional de defesa, e exige que trabalhemos para impedir que
qualquer potência se imponha, numa região cujos recursos, sob controle
consolidado, bastarão para gerar poder global.”
Fonte: Outras
Palavras
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