Entre 2002 e 2012 o número de homicídios de jovens brancos caiu 32,3% e o dos jovens negros aumentou 32,4%
Da Agência Brasil
02/07/2014
Em média, 100 a cada 1.000
jovens com idade entre 19 e 26 anos morreram de forma violenta no Brasil em
2012, mostra o Mapa da Violência 2014, que considera morte violenta a
resultante de homicídios, suicídios ou acidentes de transporte (que incluem
aviões e barcos, além dos que ocorrem nas vias terrestres de circulação).
O estudo mostra ainda que a
situação não é nova. Nos anos 1980, a taxa era 146 mortes por 100 mil jovens, e
passou para 149, em 2012. A diferença também é diagnosticada quando comparados
homens e mulheres. Entre 1980 e 2012, no total das mulheres, as taxas passam de
2,3 para 4,8 homicídios por 100 mil. Um crescimento de 111%. Entre os homens, a
taxa passa de 21,2 para 54,3. Um aumento de 156%.
No caso dos suicídios, a
pesquisa revela mortalidade três a quatro vezes maior no caso dos homens, no
Brasil. Entre as décadas citadas, as taxas masculinas cresceram 84,9%. Já as
femininas, 15,8%.
Uma terceira variável chama a
atenção na pesquisa: a vitimização dos negros é bem maior que a de brancos.
Morreram proporcionalmente 146,5% mais negros do que brancos no Brasil, em
2012. Considerando a década entre 2002 e 2012, a vitimização negra, isso é, a
comparação da taxa de morte desse segmento com a da população branca, mais que
duplicou.
Segundo o responsável pela
análise, Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência
da Faculdade Latino-Americana de Ciências, o recorte racial ajuda a explicar o
fato de não ter se verificado na pesquisa grandes mudanças nas taxas globais de
homicídios, embora o número registrado a cada ano tenha aumentado. Os brancos
têm morrido menos. Os negros, mais. Entre 2002 e 2012, por exemplo, o número de
homicídios de jovens brancos caiu 32,3% e o dos jovens negros aumentou 32,4%.
De acordo com Jacobo, essa
seletividade foi construída por diversos mecanismos, entre os quais o
desenvolvimento de políticas públicas de enfrentamento à violência em áreas
onde havia mais população branca do que negra, bem como o acesso, por parte dos
brancos, à segurança privada. Assim, os negros são excluídos duplamente - pelo
Estado e por causa do poder aquisitivo. “Isso faz com que seja mais difícil a
morte de um branco do que a de um negro”, destaca o sociólogo.
Ele alerta que essa situação
não pode ser encarada com naturalidade pela população brasileira. “Não pode
haver a culpabilização da vítima”, diz Jacobo, para quem o preconceito acaba
justificando a violência contra setores vulneráveis. O sociólogo, que em 2013
recebeu o Prêmio Nacional de Segurança Pública e Direitos Humanos da
Presidência da República, defende o estabelecimento de políticas de proteção
específicas, que respeitem os direitos dos diferentes grupos e busquem garantir
a vida da população.
Fonte: Brasil de Fato
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