Pensando com os meus botões...
O tema é delicado, pois os
próprios "movimentos" se autorefem como "sociais". Talvez
lá nos anos 1970/80 é que se falava mais em movimentos populares para se
referir aos "sem-", aos empregados, aos desempregados etc. A questão
é que este termo foi ganhando dimensão dentro e fora das universidades e poucos
têm apurado se tal disseminação, do ponto de vista teórico, é precisa ou não.
Afinal, numa sociedade cindida em classes sociais antagônicas, a partir da
organização política, econômica, cultural, ideológica etc. dos seus membros, o
que não seria "social"? E se estivermos de acordo da existência das
classes e das lutas entre elas, o que o termo "social" designa? Será
que, nas Ciências Sociais, não passa de um senso comum?
Em tal intento poderíamos
dividir os “movimentos” em dois grupos: a) movimentos oriundos da divisão
social do trabalho e b) movimentos que se encontram “fora” da esfera da
produção social (feministas, estudantis, gays etc.). Embora esta divisão
ilustre umas das possíveis diferenças entre os “movimentos”, ela não nos
satisfaz completamente na medida em que observamos a existência também de
movimentos sociais das classes dominantes e regressivos – estes últimos
vinculados principalmente às classes médias, como os “integralistas”,
“chauvinistas”, “fascistas” e “nazistas”.
Não há consenso nas Ciências
Sociais em torno do tema, mas é muito comum relacionar os “movimentos sociais”
aos oprimidos, aos dominados ou aos explorados. Esta relação, para nós, é
insuficiente teoricamente. Ou seja, em termos genéricos, “movimentos sociais”
não designam um conceito. Apresentados assim, dizem pouco sobre quem são os
sujeitos que os integram, mesmo se aceitos como objetos formais-concretos
(movimentos feministas, movimentos étnicos etc.). No máximo, trata-se de uma
expressão tomada sem acuidade teórica. Mas se o conceito não servir ao
entendimento dos objetos reais-concretos (“sem-terra” ou “ruralistas”, por
exemplo), dificilmente poderemos tratá-lo nestes termos. De certo modo, os
“movimentos sociais” quando expostos desta maneira, configuram-se numa espécie
de senso comum das Ciências Sociais. Se para entendê-los temos que dizer algo a
mais (de “quem” estamos falando), é sinal de sua insuficiência conceitual.
Os “movimentos sociais” não
constituem um conceito e não são um objeto único, homogêneo e indivisível. Para
compreendê-los, será preciso desdobrá-los a partir dos “sujeitos” que os
“ocupam” e, assim, constituí-los em objetos formais-concretos: “movimentos
populares que lutam por trabalho”, “movimentos populares que lutam pela
reprodução da força de trabalho”, “movimentos populares de gênero, etnia, cor
etc.”, “movimentos populares regressivos” e “movimentos das classes
dominantes”. Quando nos referimos aos diversos “movimentos populares”,
parece-nos que o pertencimento de classe fica mais claro (operários,
assalariados, pequenos proprietários, pequenos comerciantes, funcionários
públicos de baixo escalão, camponeses pobres etc.). Do mesmo modo, ao dizermos
“movimentos das classes dominantes”, o pertencimento também se evidencia:
industriais, banqueiros, ruralistas etc.
Dito isto, arriscamos uma
definição do que entendemos por “movimentos sociais”: referem-se à preservação
ou à contestação da ordem social existente, pois, se o Estado capitalista goza
de relativa autonomia em relação às classes e às relações de produção, as
classes se organizam em “movimentos” para direcionarem as suas demandas para
ele.
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