Manifestação em Detroit contra o corte do fornecimento de água no dia 18 de julho |
A cada semana cerca de 3.000
famílias estão sofrendo corte no fornecimento de água na cidade de Detroit,
Michigan, EUA, por débitos de $150 dólares ou mais de dois meses de atraso no
pagamento.
Este foi o caso de Charity
Hicks*, uma respeitada líder comunitária afro-americana que sempre esteve à
frente de diversas campanhas para garantir aos cidadãos de Detroit o direito a
uma água pública e acessível.
Quando os representantes da
empresa chegaram ao seu prédio, Charity, caminhando em direção ao carro da companhia,
exigiu que lhe mostrassem a notificação de corte. A resposta do funcionário foi
avançar o veículo em sua direção, ferindo sua perna. Dois policiais brancos
chegaram rapidamente – não para fazer um boletim de ocorrência, mas para
prende-la. Ela foi conduzida à delegacia debaixo de zombarias e permaneceu
presa por dois dias.
Ao mesmo tempo em que os pobres
estadunidenses sofrem com a interrupção do fornecimento de água em suas casas,
privando-lhes de um direito básico para uma vida digna, grandes usuários também
estão devendo a companhia de água, como o clube de golfe de Detroit, a arena de
Hockey do Red Wings e o estádio de futebol da Ford, totalizando uma dívida de
cerca de $30 milhões de dólares. Mas nenhum funcionário da companhia, no
entanto, apareceu para cortar a água de nenhum deles.
Diversas manifestações
populares tem ocorrido em Detroit. Uma das mais expressivas ocorreu no dia 18
deste mês, quando milhares de pessoas marcharam rumo ao Detroit’s Hart Plaza e
conseguiram suspender os cortes por 15 dias. Com gritos de “banks got bailed
out, we got sold out” (algo como “os bancos são resgatados, nós somos rifados”,
em tradução livre), os manifestantes expressavam sua indignação com o fato de
que a empresa de abastecimento de água, a DWSD, doou $537 milhões de dólares a
bancos para evitar sua falência.
Outra manifestação, ocorrida
ontem (24), portava um abaixo-assinado com cerca de 6 mil assinaturas de todo o
país contra os cortes, e também solicitava que o Canadá, que faz fronteira com
a cidade de Detroit, fornecesse água para os cidadãos estadunidenses.
Segundo Cataria de Albuquerque,
relatora especial da ONU para o Direito à Água e ao Saneamento, o corte de água
constitui uma violação aos direitos humanos caso as pessoas afetadas realmente
não tenham condições de pagar.
Na última década o número de
famílias que apresentam atrasos na conta de água em Detroit aumentou 119%,
chegando agora a mais de 150 mil consumidores. E os principais atingidos são a
população negra, que constitui a parte mais pobre da cidade.
Glauber Ataide, com informações
de The Guardian e Truthout
Atualização: A ativista Charity
Hicks, citada nesta matéria, morreu poucos dias após o episódio aqui relatado.
Ela foi atropelada em um ponto de ônibus em Nova York por um motorista que
fugiu do local.
Fonte: A
Verdade
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