O neoliberalismo do governo brasileiro ora agrada a imprensa burguesa internacional, ora desagrada.
O Brasil precisa correr para aproveitar o capital
internacional existente, que atualmente é barato e abundante, para aumentar o
investimento na economia. A sugestão é do jornal "Financial Times".
Em editorial publicado nesta segunda-feira, 20, a publicação diz que a sensação
de que tudo corre bem no Brasil é apenas uma "fachada" e diz que o
estilo "mandão" de Dilma Rousseff é bom para evitar a corrupção, mas
estaria atrasando a economia, especialmente o investimento. O texto critica ainda
a escolha do governo: em vez de reformas amplas, apoia setores
"mimados", como as montadoras.
O editorial diz que o Brasil "corre o risco, mais uma vez,
de frustrar imensas expectativas". "A aparente sensação de bem-estar
do Brasil é uma fachada. O crescimento da economia no ano passado foi de menos
de 1%, pouco melhor que a zona do euro. Este ano, o Brasil está crescendo menos
que o Japão. A inflação está corroendo a confiança do consumidor e há uma
sensação de mal-estar. A causa é o abrandamento do investimento, tendência que
começou em meados de 2011 e continua. Mais investimento é exatamente o que o
Brasil precisa para manter os empregos e tornar-se a potência global a que
aspira ser."
O texto lembra que o investimento brasileiro equivale a 18%
do Produto Interno Bruto (PIB), bem menos que os 24% destinados pelos vizinhos
latino-americanos e os quase 30% dos países da Ásia. A culpa, diz o FT, é dos governantes
e o problema não vem de hoje. "Brasília deve ter grande parte dessa culpa.
A extravagância do modelo econômico impulsionado pelo consumo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva se esgotou. O modelo Dilma, apesar dos primeiros
sinais promissores, está provando (apenas) ser um pouco melhor", diz o
texto.
"O estilo 'mandão' dela não é adequado para a persuasão
colaborativa exigida pelo tipo particular de política de coalizão do Brasil. A
tomada de decisão tem sido centralizada, o que evita a corrupção, mas retarda o
processo. Dilma também tem evitado consistentemente as reformas orientadas para
o mercado em favor do protecionismo de alguns setores preferidos e seus
lobbies, como as mimadas montadoras", critica o texto.
Para o FT, outro exemplo dessa falta de foco do governo
brasileiro está na infraestrutura. "O Brasil quer captar bilhões de
dólares para a construção de novos portos, aeroportos, viadutos e estradas.
Existe o interesse e o compromisso firme dos investidores. No entanto,
surpreendentemente, o marco regulatório em vigor não é apropriado para permitir
a construção dessa nova infraestrutura. O dinheiro está sendo deixado sobre a
mesa desnecessariamente", diz o texto.
"O Brasil precisa desesperadamente de mais investimento.
O baixo nível da poupança interna significa que grande parte desse financiamento
deve vir do exterior. O capital está barato no momento, mas não será para
sempre. O Brasil tem uma grande janela de oportunidade. Dilma Rousseff e seu
governo precisam fazer as coisas acontecerem enquanto essa janela segue
aberta", diz o editorial.
Fonte: Estadão
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