Ricardo Senese
São Paulo, 14 Abril de 2013
Ildo Sauer é professor titular
e diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP. Foi diretor de gás e
energia da Petrobras no primeiro Governo Lula. É um dos maiores cientistas
brasileiros na área de energia com diversos artigos publicados em periódicos
internacionais e livros. A Verdade foi ouvir este especialista para mostrar os
sérios riscos que correm hoje as riquezas naturais do Brasil, sua economia e
sua soberania.
A
Verdade – No momento se fala muito das divisões dos royalties, mas
pouco se discute no Congresso Nacional sobre a nova rodada de leilões do
pré-sal. O que isso significa, quais os ganhos e as perdas desses leilões para
os brasileiros?
Ildo
Sauer – O grande problema é que não sabemos quanto petróleo foi
entregue pelos leilões. Isso significa que o Brasil leiloou uma riqueza sem
saber o seu valor. É uma grande irresponsabilidade o Governo organizar outra
rodada desta mesma maneira, considerando ainda o momento de valorização do óleo
existe nos blocos.
As perdas são enormes numa
situação como essa. A luta pelo lucro suplementar, definida por Karl Marx, é
uma luta radical entre a burguesia. Seus interesses são contraditórios. O
petróleo tem o poder de, com um investimento baixo, gerar uma margem de lucro
enorme.
A
Verdade – Há muita divulgação na imprensa sobre os prejuízos da
Petrobras. Qual é a situação real da empresa?
Ildo
Sauer – Na minha opinião, são três disputas que existem em
relação aos rumos do controle e produção de petróleo no Brasil.
Os acionistas fazem uma enorme
pressão política para que a Petrobras seja extremamente produtiva. Afinal,
querem o retorno do que investiu o quanto antes, levando em conta também a
pressão do capital em época de crise. Portanto, quanto mais alto o valor de
venda, maior o lucro, e não importam as consequências para a economia.
Outra tendência capitalista é a
da indústria nacional. Para a economia interna interessa que os derivados de
petróleo acompanhem o mercado internacional. Para empresas como a Gerdau e a
Vale, quanto mais baixo o valor dos derivados, mais lucros poderão ter.
Essa disputa tem reflexão na
imprensa do Brasil, pois se trata de uma disputa para pressionar o Governo para
que consigam seu objetivo.
A
Verdade – Qual deve ser a posição do movimento popular diante dos
leilões?
Ildo
Sauer – Os setores populares do Brasil, desde a luta “O petróleo
é nosso”, liderada pela UNE, até hoje, defendem que os recursos gerados pelo
petróleo sejam utilizados para o povo: reforma urbana e agrária, saúde,
educação, investimento em ciência, tecnologia e agroecologia, é o que eu
defendo.
Diante desse quadro, o Governo
brasileiro, com o PT assumindo em 2002 com a esperança de o programa popular
ser atendido, sucumbiu às pressões do capital financeiro e traiu o povo que o
elegeu.
O Governo Lula organizou cinco
rodadas de leilão contra quatro de FHC. Além disso, manteve a ANP (Agência
Nacional de Petróleo), criada pelo Governo tucano, que é uma agência que
fundamentalmente cumpre o papel de expor e oferecer as riquezas nacionais para
o superlucro.
Diante dessa realidade, o
Governo joga uma cortina de fumaça para a população e para fazer propaganda
política nas próximas eleições. Os royalties não passam de 15% do valor total
gerado pelo petróleo nacional. A UNE deveria defender a estatização e o
controle público do pré-sal e toda a cadeia petroleira do Brasil. A UNE não
pode ser pautada pelos royalties, que é um jeito inócuo de resolver os grandes
problemas de nosso país. Esse debate gerou também uma luta fratricida entre o
bloco São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo contra os outros estados. A
verdade que é o Estado brasileiro é que tem ficar com o lucro. Os locais de
extração, em sua maioria, são longe da costa e sob responsabilidade da marinha
brasileira.
A
Verdade – Estão privatizando o nosso petróleo?
Ildo
Sauer – Tenho informações seguras, do Consulado americano, de que
a Dilma sempre defendeu os interesses do capital financeiro. Quando secretária
no Rio Grande do Sul, seu nome sempre esteve ligado às privatizações.
Inclusive, o Governo vem criando empresas extremamente lucrativas financiadas
pelo endividamento público, coordenadas pelo BNDES, por exemplo.
Por fim, o capital quer retirar
o óleo e transformá-lo em dinheiro o mais rápido possível. Deixando migalhas
para serem repartidas pela população. Estão no Brasil todas as grandes empresas
mundiais do setor. A novidade é a agressividade das três petroleiras chinesas
que estão com mais dinheiro para comprar, sob qualquer custo, o lhes
interessarem. O correto seria o Brasil deixar o petróleo debaixo da terra e
controlar a produção. Por isso, a imprensa ataca tanto a Venezuela, que produz
e investe sob o interesse da população venezuelana. O papel da esquerda e de
entidades como a UNE, não é ficar submetidas às contradições da burguesia, mas
sim defender os interesses populares, que historicamente foram de uma Petrobras
pública, sob o controle do povo.
Fonte: A
Verdade
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