Imagem: UMBUZADA |
O que deveria ser a maior preocupação, no momento, do Governo da
Bahia, passa ao longe de sua cabeça. Nenhuma política séria para a seca, a não
ser os antigos paliativos da Primeira República e dos velhos oligarcas baianos,
para sanar o sofrimento do catingueiro baiano que sofre com uma das piores estiagensdos últimos 50 anos. Mas, o agronegócio... Isso sim merece toda a atenção e
influência junto ao governo federal e uma lagartinha merece medidas urgentes do
Palácio de Ondina, inclusive para solicitar importação de inseticida ilegal no
país. Até quando? (Almoço das Horas)
O caso da lagarta Helicoverpa
foi parar em Brasília, via telefonema do governador Jacques Wagner para a
presidenta Dilma Roussef. Ele explicou que a situação era de emergência e
precisavam de um decreto autorizando a importação de três tipos de inseticidas
que não tem registro no país.
por Najar Tubino
O título tem dois sentidos. O
primeiro é literal, a lagarta Helicoverpa atacou lavouras de milho, soja e
algodão, causando prejuízo de R$1 bilhão no oeste baiano, uma das últimas
fronteiras do agronegócio, e se estendendo a outros 11 estados. No total
prejuízo de R$ 2 bilhões. O segundo é figurado, porque a lagarta abriu o leque
para mostrar que o glorificado setor do agronegócio no país, onde a soja
representa no valor bruto de produção R$86 bilhões, aplica métodos de
organização ultrapassados, mais parece prática de garimpo, do que outra coisa.
O caso da Helicoverpa foi parar
em Brasília, via telefonema do governador Jacques Wagner para a presidenta
Dilma Roussef. Ele explicou que a situação era de emergência e precisavam de um
decreto autorizando a importação de três tipos de inseticidas que não tem
registro no país. O decreto saiu no dia 14 de março, junto com a liberação de
dois produtos biológicos, o baculovirus e o bacilo thurigiensis. Em Luis
Eduardo Magalhães, central do agronegócio, um encontro reuniu pesquisadores da
Embrapa de várias partes e de muitos sojicultores. Participaram mais de mil
pessoas no evento.
O último cerrado
Vamos situar a encrenca.
Primeiro lugar o oeste baiano com seu mais de um milhão de hectares plantados
com soja, grande parte irrigada – são 982 pivôs centrais em funcionamento – é
uma região bastante tecnificada, onde se planta além da soja, milho, algodão,
em menor escala arroz e feijão. É uma área de cerrado, que foi desmatada e que,
segundo boletim técnico da Secretaria da Agricultura, tem água abundante, e ainda
três milhões de hectares para serem ocupados. No total a região tem uma área de
oito milhões de hectares de cerrado, uma das últimas do país. Portanto, se
ocuparem mais de quatro milhões, significa, mais da metade do cerrado
transformada em lavoura.
Um pivô pode irrigar 130
hectares. Três pivôs atuando em conjunto usam 20 milhões de litros de água num
ano. A água permite colher 82 sacos de soja por hectare, numa área sem
irrigação, a produtividade cairia pela metade, principalmente se sofrer com a
seca, como aconteceu no último ano. Acontece que os associados do agronegócio
usam a água para plantar o ano inteiro. Não tem intervalo. Sai uma safra de
soja, tiram outra de milho, e novamente, mais soja. O filme que poucos
assistiram no início do ano, com a decretação da emergência fitossanitária na
Bahia, eu acompanhei em 2006, no Mato Grosso.
Ritmo delirante
Estava em Primavera do Leste,
outra central do agronegócio, onde na época funcionava cerca de 150
equipamentos de irrigação,quando ocorreu um surto da ferrugem asiática, um
fungo que ataca a soja. Um fungo se expande com calor e umidade concentrada. Os
plantadores de soja reclamavam do atraso na liberação de verbas para comprar
fungicidas, falavam da inoperância do governo federal. Mas não informavam que plantavam
direto o ano inteiro. O que aconteceu? O governo estadual decretou o chamado
vazio sanitário, quando fica proibido por três meses o plantio.
E qual a recomendação dos
pesquisadores no oeste baiano? Vazio sanitário entre 20 de agosto e 20 de outubro.
Então esta é a mentalidade de garimpeiro, que abre o buraco, tira o que tem de
ouro, joga a terra contaminada com mercúrio ou cianeto no rio. É a mesma do
agronegócio. Tudo tem que ser rápido, faturar o mais rápido possível, sem
pensar em consequência. Depois embarca a produção em caminhões, que sairão
percorrendo três mil quilômetros em direção a Santos ou Paranaguá, para
embarcar a estrela do agronegócio em navios que entregarão na China. Duas mil
carretas são necessárias para encher o estoque de um navio.
A outra recomendação que escuto
desde a década de 1970, quando trabalhava na Cooperativa dos Jornalistas de
Porto Alegre (COOJORNAL), que editava a revista Agricultura e Cooperativismo,
na época órgão da Federação das Cooperativas de Trigo e Soja (FECOTRIGO), é o
controle biológico, utilizando os inimigos naturais das lagartas, no caso, uma
vespa chamada Trichogramma, que coloca os ovos junto com os ovos da lagarta. O
Baculovirus também é dessa época. E o Bacilo Thurigiensis os americanos
descobriram na década de 1960, é citado no livro da Rachel Carson sobre
venenos.
Ataque aumentou com transgênico
Aqui entra outro componente da
rede. Uma sequência do DNA do bacilo foi usada pela Monsanto na semente
transgênica de milho, por isso mesmo, tem o nome de semente BT.
Alguns pesquisadores e
produtores do oeste baiano chegaram a declarar que a incidência da lagarta
Helicoverpa zea, conhecida como lagarta do milho,aumentou com a proliferação do
milho BT. Depois invadiu as lavouras de soja e algodão, comendo folhas, grãos,
e o cartucho(fibra) do algodão. As discussões foram de todo tipo. Porque existe
outra lagarta Helicoverpa Armigera que ataca o algodão. Já fez isso na
Austrália na década de 1990. Quer dizer, o primeiro vacilo dos membros do
agronegócio foi não identificar o tipo da lagarta, o segundo foi duplicar as
aplicações de inseticida de oito para quinze, no caso baiano, daí a contagem do
prejuízo. O custo de aplicação passou de R$100 para R$200. No caso do algodão
de R$800 para R$1.600. Mais a perda da produtividade.
Mas nenhum inseticida
controlava a lagarta. Somente os importados, agora liberados. Então só para
recapitular: primeiro plantio o ano inteiro, segundo não fazem monitoramento
nas lavouras, para investigar a infestação, terceiro antes de identificar o
problema, duplicam o uso de inseticida. E agora teremos o quarto. Por uma
coincidência a Monsanto está lançando a sua mais nova produção transgênica, a
semente Intacta RR2. A planta transgênica vai secretar duas toxinas, ao invés
de uma, além de continuar imune ao herbicida Glifosato, também chamado
popularmente entre agricultores familiares de “mata-mato”. Mais o ganho de
produtividade. Na prática combateria as duas lagartas Helicoverpa.
No caso da soja transgênica
Roundup, a RR, o cliente da Monsanto tinha que pagar R$22 por hectare como
royalties. A Intacta custará R$115 por hectare. Porém, tem um complicador. Os
associados da Aprosoja, que é uma entidade poderosa no MT, entraram na justiça
federal e estadual, em três estados – RJ, RS e MT. Para não pagar royalties da
semente RR desde 2010, quando consideram que encerrou o prazo de validade da
patente. Ocorre que a Mosanto não tem a mesma visão, e para ela o prazo só
termina em 2014. Os associados da Aprosoja e outros que entraram individualmente
ganharam no Rio, no Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Também em Porto
Alegre, um juiz da 15ª Vara Cível decretou que a Monsanto tem que devolver os
royalties desde 2003. No MT um juiz deu direito dos sojicultores depositarem em
juízo, até definir uma sentença definitiva. Só no MT a causa envolve R$300
milhões, salientando que o estado é o maior produtor de soja do país, e este
ano deverá colher mais de 18 milhões de toneladas – das 80 milhões esperadas.
Contando os dois anos que falta até 2014, a conta sobe para R$1,7 bilhão. Se
ganharem, eles recebem em dobro.
Armistício mui amigo
E qual a posição da Monsanto,
que há 20 anos lançou a semente transgênica, fatura R$2,8 bilhões no país e tem
como sonho de consumo ganhar o mercado chinês de produção de milho com seus 30
milhões de hectares? Num primeiro momento fechou um acordo com a CNA e outras
10 federações patronais com o seguinte objetivo: o cliente interessado em
comprar a semente transgênica Intacta tinha que assinar um documento que não entraria
na justiça ou abriria mão do processo, para cobrar os royalties da soja
Roundup. Os dirigentes da Aprosoja subiram nas paredes, qualificaram de lesivo,
imoral e ilegal o tal “armistício” como a múlti definia o acordo.
Sem esquecer que as ligações
dessas entidades com as grandes detentoras de marcas e insumos do agronegócio
são de total integração. Sem contar que a Monsanto, este ano, investirá R$8,3
milhões em pesquisas de biotecnologia da Embrapa.
A última informação: a Aprosoja
entrou com um pedido na justiça do Mato Grosso para que a Monsanto apresente a
patente da soja Intacta. Quanto às lagartas, tanto das espécies Helicoverpa,
como de outras, ou de outros gêneros, todos integrantes do grupo dos insetos,
continuarão sua missão de controlar uma planta que não para de crescer no país
e no mundo, o que faz parte do sistema natural. Afinal, são cerca de um milhão
de espécies catalogadas de insetos, mas os pesquisadores estimam que esse
número possa ultrapassar cinco milhões.
As plantas transgênicas já
estão ocupando 170 milhões de hectares no planeta. Embora o crescimento no ano
passado tenha estagnado. Só cresceu no Brasil para 36 milhões de hectares.
Informações de lobistas dos transgênicos. Nos Estados Unidos, onde 95% das
lavouras de milho e soja são transgênicas, o crescimento foi de 1%, com 69,6
milhões de hectares e cerca de uma dezena de plantas resistentes ao glifosato –
chamadas ervas daninhas. Na China são quatro milhões de hectares ocupados e na
Índia 10 milhões. Somente 28 países no mundo plantam transgênicos, sendo que
Estados Unidos, Brasil e Argentina ocupam 75% da área.
Fonte: Carta
Maior
Um comentário:
Só no primeiro paragrafo da matéria, se relata o sucateamento de pelo menos 3 órgãos estaduais. A ADAB na vigilancia sanitária agropecuaria, a EBDA na assistencia técnica, e a CERB no combate à seca.
e do jeito que vai a tendencia é piorar.
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