Foto: SDCIDADE |
Um relato revelador do descaso e penúria que grassa a realidade da saúde na Bahia. Vale ouvir essa pessoa que é também testemunha e sujeito dessa situação.
por Djalma Duarte
Hoje, 09/04/2013, acabo de chegar do Hospital Geral do Estado
da Bahia, onde dou plantão há muitos anos. Houve uma cerimônia comemorativa do
lançamento do "Anexo do HGE", panfletos informavam que seria algo
grandioso: uma UTI pediátrica e uma UTI de adultos, entre muitas outras coisas!
Estavam lá o Governador do Estado, o Secretário da Saúde e um sem número de
políticos e "agregados". Fiquei meditando sobre a realidade dos
fatos: há quase um ano o HGE está sem médico para realizar Ecocardiograma,
desde que o único médico que fazia isso afastou-se por licença para, em
seguida, ganhar uma eleição para prefeito e se ausentar definitivamente de um
serviço que era o protótipo da vergonhosa importância que dão à saúde: só havia
esse exame durante duas tardes por semana, ou seja, cerca de 48 horas por mês
(e não ter esse exame naquela emergência, para um doente do coração, é algo
assim como costurar uma roupa sem agulha). Sempre reclamei dessa pouca vergonha
(inclusive denunciei isso na Rádio Metrópole ano passado), sempre cobrei da
Coordenação Médica essa situação criminosa, e sempre me deram a mesma resposta:
"o Governo informava que não tinha verba para contratar mais um
médico"... e isso é apenas um pequeno detalhe do caos que não poderia ser
resumido se lhes contasse, meus amigos do Facebook, que na emergência do HGE
temos enfermaria unisex (homens dormindo ao lado de mulheres), sanitários sem
chuveiro elétrico, sem espelho, um para cada 20 a 30 pacientes (tão pequenos
que um grande obeso não conseguiria passar na porta) e sem qualquer condição de
entrar uma cadeira de rodas que, aliás, não existe na emergência do HGE;
pacientes tomam banho no leito às vistas de todos (pais, mães, nus para quem
quiser ver) porque o Governo não teria verba para comprar "biombos"
(aqueles isolantes que devem custar menos do que um daqueles ternos de luxo que
usavam na cerimônia acima relatada); quando um médico entra de férias não
colocam substituto, os pacientes ficam, simplesmente, sem prescrição,
literalmente abandonados naquele dia e setor específicos; pacientes ficam
internados às vezes durante meses a esperar uma simples cirurgia (e em
situações como, por exemplo, tumores cerebrais... quando o paciente é
transferido a expectativa é, quase, apenas a morte!). Enfim... se o Governo não
tem dinheiro para corrigir essas "falhas", como pode estar
construindo um centro de excelência? O que realmente querem que a população da
Bahia acredite? - eu, como cristão, não poderia ficar omisso, seria como trair
os meus princípios e, por isso, faço questão que todos saibam o que também sei.
Precisamos agir como cristãos e não apenas pensar como cristãos, somos um povo
maravilhoso e não merecemos os políticos que temos. Vamos compartilhar essa
situação para todos. Dr. Djalma Duarte (CREMEB 8072).
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