A depender dos critérios adotados, no Brasil morador de rua pode
ser enquadrado como classe média (Almoço das Horas).
por Flávia Villela
Publicado em 20/02/2013
Apesar do enorme potencial de consumo de uma
população de cerca de 12 milhões de habitantes, esse nicho de mercado ainda é
pouco explorado devido ao preconceito, segundo o Data Popular (Francisco
Valdean/Arquivo RdB)
Rio de Janeiro – Os moradores
das favelas brasileiras consomem cerca de R$ 56 bilhões por ano, o que equivale
ao Produto Interno Bruto (PIB) da vizinha Bolívia. A constatação é de pesquisa
realizada pelo instituto Data Popular, em parceria com a Central Única de
Favelas (Cufa) divulgada hoje (20).
De acordo com o estudo, feito a
partir de entrevistas e do cruzamento de dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (Pnad) com os da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), o
consumo popular triplicou nos últimos dez anos.
No entanto, apesar do enorme
potencial de consumo de uma população de cerca de 12 milhões de habitantes,
esse nicho de mercado ainda é pouco explorado devido ao preconceito, segundo o
diretor do Data Popular, Renato Meirelles.
“O morador de favela não quer
sair da favela, ele quer capitalizar isso nas marcas que ele usa. Esse era um
mercado invisível, pois estava debaixo dos nossos narizes, mas as pessoas só
enxergavam a favela pela ótica da violência e do tráfico”, disse Meirelles.
Segundo ele, dois terços dos moradores de favelas do país pertencem à metade
mais rica do mundo.
A pesquisa revela que a classe
C cresceu muito mais nas comunidades das metrópoles do que no interior do país,
com alta de quase 50% na última década (de 45% para 66%), assim como a média de
escolaridade, que subiu de quatro para seis anos no mesmo período.
O dono da empresa Vai Voando,
Tomas Rabe, é um dos empresários que apostaram no consumidor de baixa renda e
hoje não se arrepende. Com cerca de 70 lojas de vendas de passagens áreas
somente em favelas, sobretudo do Rio e São Paulo, a empresa, criada há pouco
mais de dois anos, tem planos de abrir mais 50 lojas este ano, apenas no Rio de
Janeiro.
“Este mercado é invisível para
quem não está atento”, disse o empresário. Segundo ele, menos de três anos
depois, a empresa está embarcando uma média de 3 mil passageiros por mês, com
43 mil passageiros embarcados até hoje.
Rabe explicou que, uma vez
rompido o preconceito, é importante entender esse público e se adequar aos
hábitos de consumo e à realidade dessa população. “A maioria não usa cartão de
crédito e muitos não têm nem conta em banco. Então, nossa forma de pagamento é
por boleto pré-pago”, explicou ele.
Segundo o estudo, 69% dessas
populações utilizam dinheiro como forma de pagamento, 9% usam cartão de crédito
de terceiros e 10%, cartão de crédito próprio. Além disso, cerca de 69% dos
moradores de comunidades vão ao shopping toda a semana e 50% comem fora
semanalmente. Nos próximos 12 meses, 49% pretendem comprar móveis; 36% querem
um novo eletrodoméstico; e 24% pretendem contratar serviços de TV por
assinatura.
O empresário Elias Targilene é
outro exemplo de sucesso entre os que investiram nas classes C, D e E. Com
cinco shoppings populares construídos em um período de três anos, ele pretende
lançar daqui a três meses o primeiro shopping do Brasil dentro de uma favela,
no Complexo do Alemão, zona norte do Rio.
“Não podemos mais falar que ser
popular é ser feio, sujo, fedido e desorganizado. Hoje, somos uma nação rica e
ser pop hoje significa ter serviço, ser bonito, atender bem”, declarou o
empresário.
Fonte: Rede
Brasil Atual
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