Renan Calheiros deve voltar à presidência do Senado nesta sexta-feira 1. Foto: Agência Senado |
“Renan Calheiros tem uma
virtude indispensável ao verdadeiro homem público: a coragem. Não tem medo dos
poderosos do dinheiro, dos facínoras da violência, dos aproveitadores da
corrupção, das sórdidas forças econômicas estrangeiras que querem colonizar esta
nação e sugar o trabalho oprimido de nossos trabalhadores”. A descrição do
senador, que volta nesta sexta-feira 1º à presidência do Senado, hoje parece
inverossímil. Foi escrita pelo então deputado federal Ulysses Guimarães (PMDB)
em seu prefácio para o primeiro livro de Renan, chamado “Contadores de
Balelas”, conforme republicado em blog do jornal O Globo. Na época, o atual
senador estava em seu primeiro mandato como deputado federal.
Nos últimos anos, as notícias
relacionadas a ele não parecem corresponder aos adjetivos empregados por
Ulysses num já distante 1983. Acuado pela mídia e por parte dos senadores,
Calheiros renunciou à presidência do Senado em 2007. Era acusado de ter seus
gastos pessoais, inclusive a pensão para sua ex-mulher Mônica Veloso, pagos
pelo lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior. Era suspeito também
de usar laranjas para controlar duas empresas de rádio e um jornal no seu
estado numa sociedade oculta com o usineiro João Lyra.
Mônica Veloso foi parar na capa
da Playboy. Enquanto isso, Renan submergia. Seus aliados agiram para preservar
os direitos políticos dele, que acabou mantendo seu cargo em votações secretas,
apoiado pela maioria dos seus colegas que não ousavam defende-lo em público.
Foram quase cinco anos longe do
centro dos noticiários. Com raras entrevistas, ele frequentou as colunas
políticas com sua atuação nos bastidores. Foi alvo de mais acusações durante o
escândalo dos atos secretos, estourado em 2009, no qual era suspeito de
favorecer aliados em publicações ocultas.
Na época, quase não se pronunciava.
Em 2011, Renan virou líder do
PMDB no Senado. Começou a reaparecer aos poucos. Hoje, de volta aos holofotes,
volta a ser alvo de novas e velhas suspeitas. Enquanto agia discretamente pela
sua eleição durante o mês de janeiro, a PGR (Procuradoria-Geral de República)
pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de um inquérito para
investigar supostas irregularidades na abertura de uma estrada dentro de uma
reserva ambiental para uma de suas empresas, a Agropecuária Alagoas. Além
disso, a revista Veja mostrou, em reportagem, que o alagoano usa dinheiro do
Senado para alugar um escritório na capital do seu estado, Maceió.
Na última semana, mais
problemas apareceram. Reportagem da Folha de S.Paulo mostra que Renan usou sua
influência para emplacar aliados no governo federal. Ele também teria feito
lobby para que outros amigos furassem a chamada “fila” para receber
indenizações baseadas na Lei da Anistia por suposta perseguição na ditadura.
Por fim, o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, apresentou há uma semana uma denúncia ao Supremo
sobre o caso Mônica Veloso. Gurgel sustenta que Renan não tinha dinheiro
suficiente para pagar a pensão da ex-mulher e o acusa de utilizar notas frias
para justificar a origem dos recursos para a pensão paga, supostamente, por um
lobista.
Mesmo assim, Renan foi eleito
por uma larga margem, com 56 votos. Seu único concorrente, Pedro Taques
(PDT-MT), teve 18. Outros quatro senadores estavam presentes, mas votaram em
branco ou em nulo. Após eleito, sua primeira promessa foi criar uma secretaria
da transparência na casa. Também insistiu no que chamou de “atrofia” do
Legislativo, dizendo que irá se encontrar com o novo presidente da Câmara já na
semana que vem para tomar atitudes para torna-lo mais forte.
O retorno, após tanto
bombardeio, rendeu a ele um apelido entre os colegas: mandacaru. Isso porque,
conforme noticiou recentemente a coluna “Painel”, da Folha de S.Paulo, o
senador tem casca dura, é espinhoso e parece à prova de intempéries.
Fonte: Carta
Capital
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