POR WALDEMAR ROSSI*
SEXTA, 27 DE ABRIL DE 2012
No
século 19 (anos 1800), a classe operária européia e estadunidense era
brutalmente reprimida pela polícia porque reivindicava jornada de trabalho de 8
horas diárias – contra as 12, 15 ou até 18 horas de trabalho nas fábricas. Em
pleno século 21, essa repressão continua sendo praticada pelos Estados
capitalistas, agora estendidas aos trabalhadores pelo mundo inteiro. As greves
e manifestações populares massivas são brutalmente reprimidas na Europa,
África, Ásia e Américas, revelando que os Estados burgueses estão cada vez mais
a serviço dos interesses do capital, desprezando os mais elementares direitos
dos povos. Se não bastasse garantir pela força de leis injustas - portanto
ilegítimas - o crescimento da exploração sobre os trabalhadores, ainda colocam todo
seu aparato policial e militar para sufocar justos movimentos de contestação
contra o desrespeito aos seus direitos inalienáveis. Manifestantes vêm sendo
agredidos, presos e assassinados em vários cantos do mundo. A repressão se dá
na mesma proporção em que avançam os ataques e a eliminação dos direitos
trabalhistas e populares. No mundo do século 21, a barbárie vai sendo
implantada ocupando o lugar da justiça e da verdadeira democracia.
No
Brasil, as coisas não são diferentes. Apenas se revelam em suas
particularidades próprias. A ambição desmedida pela concentração das terras por
grandes empresas que visam o agronegócio exportador e a produção do etanol vem
ocasionando invasões das áreas indígenas e quilombolas; os jagunços,
verdadeiras quadrilhas de bandidos, continuam dizimando as principais
lideranças indigenistas, como foi o caso do cacique guarani-Kaiowá, Marco
Veron, no Mato Grosso do Sul, assassinado diante de seus filhos. Nos últimos
anos, foram constatados 248 assassinatos de indígenas. Quantos ainda são
desconhecidos por este Brasil afora? E, o que é rigorosamente absurdo, 423
indígenas estão presos nas cadeias brasileiras, pelo crime de defender suas
terras e vidas, enquanto os criminosos e seus mandantes, os empresários,
continuam impunes. A Justiça e a Polícia Federal nada ou quase nada fazem para,
realmente, investigar, julgar e punir os criminosos. A demarcação das terras
indígenas, assim como dos quilombolas (também reprimidos e assassinados),
continua letra morta na nossa Constituição.
Comprometido
com a FIFA e o COI em garantir as obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas em
nosso país, o governo brasileiro, além de bancar a construção desses “elefantes
brancos” com dinheiro do orçamento público federal, vai promovendo remoções de
milhares de famílias pobres obrigando-as a deixar suas moradias, sem qualquer
garantia oficial, sem destino certo. Tudo isto para garantir melhores condições
aos turistas que aqui possivelmente desembarcarão, à custa de piores condições
de moradia e de vida para o povo. Quando as famílias prejudicadas pelas
remoções protestam, governantes colocam suas polícias com todo seu arsenal
repressivo para “garantir a ordem” dos interesses das grandes construtoras,
financiadoras das campanhas eleitorais dos partidos políticos, governadores,
senadores e deputados. A truculência das polícias estaduais e municipais vem
ocorrendo com freqüência sobre milhares de famílias que habitam em terrenos
devolutos (propriedade do Estado) e que deveriam ser usadas prioritariamente para
sua função social, como manda a Constituição brasileira. Fatos como o da
expulsão de Pinheirinhos, em São José dos Campos – SP, se dão com freqüência e
tal brutalidade que vêm merecendo a condenação até mesmo de setores da mídia
burguesa.
A
repressão do Estado vem se fazendo presente contra os operários da construção
civil que se unem e lutam contra as precárias condições de alojamento, de
alimentação e de trabalho, nas obras das barragens que estão sendo construídas
na Amazônia. Além das truculentas polícias estaduais, a presidente Dilma
colocou a Força Nacional de Segurança para reprimir grevistas (*). A violência
oficial vai além e se estende para os habitantes das áreas que serão inundadas
expulsando milhares de famílias que ali residem e trabalham há dezenas de anos.
Não se
pode ignorar que os responsáveis por tantos crimes são, além dos exploradores
das terras urbanas e rurais, os membros dos Três Poderes do Estado, tanto em
nível federal, quanto estadual e municipal. Juízes vêm concedendo ordens de
despejo em total desrespeito às leis e à própria Constituição, ordenando o uso
da força para garantir suas “sentenças”; ministros de instâncias superiores da
Justiça são acusados de favorecimento ao capital; presidentes da República se
mancomunam com os exploradores e agem como se fossem donos absolutos do país,
traindo o povo e a nação; governadores e prefeitos seguem o mesmo caminho;
Congresso Nacional e Assembléias Legislativas legislam contra os interesses do
povo, em favor das grandes empresas.
A
insatisfação pelo caos reinante vem gerando reações de parcelas significativas
de trabalhadores do campo e da cidade. É neste clima de insatisfações e de
revoltas que celebraremos o 1º de Maio de 2012. As manifestações de caráter
classista estarão, em todo o país, denunciando tanta falcatrua e tantos crimes,
num amplo movimento de retomada, ainda que modesto, do seu protagonismo em
busca de profundas mudanças nas políticas públicas e em defesa dos direitos
populares.
(*) A
Força Nacional de Segurança é obra do “operário presidente” Luiz Inácio Lula da
Silva. Foi criada por decreto-lei no ano de 2005, quando uma unidade motorizada
(ou montada) do Exército, sediada na cidade de Campinas (SP), foi transformada
em unidade de infantaria para atuar em “defesa da ordem interna”. Isto é, Lula
colocou o Exército para reprimir trabalhadores.
*Waldemar
Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da
Arquidiocese de São Paulo.
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