Pesquisadora defende que as crianças são erotizadas cada vez mais cedo e que estaríamos potencializando grupos de pedófilos
Elas estão presentes no dia-a-dia e nem nos damos conta, mas agrupadas assim parece fazer mais sentido. Estaríamos potencializando uma erotização cada vez mais precoce das crianças? Mais que isso: estaríamos desenvolvendo um olhar pedófilo, em tempos de novas formas de experimentação do desejo?
Bom, é isso que eu pergunto a Jane Felipe, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), logo depois de sua apresentação em um seminário.
“No Brasil há um borramento de fronteiras entre idade adulta, juventude e infância. As crianças não querem mais ser identificadas como crianças, a infância é muito curta. E se você ver a produção de roupas, calçados, maquiagem, jogos, revistas, danças, músicas, percebe que todo o consumo é voltado para a criança como um pequeno adulto”, me diz a pesquisadora.
Realmente as imagens agora fazem mais sentido. Ela prossegue.
“No momento em que você vive a espetacularização do corpo e da sexualidade, também vê um apelo muito grande para que as pessoas sejam criativas nesse sentido. O apelo é: seja criativo, transe de diversas maneiras. Então dentro desse espectro, porque não usar também as criancinhas?”
Ano a ano tem aumentado as denúncias dos abusos. Dados da Secretaria de Direitos Humanos mostram o número casos de exploração sexual de crianças e adolescentes denunciados pelo Disque 100 cresceu no Brasil no último ano. Entre janeiro e março de 2011 foram registradas 4.200 denúncias, 35% mais que no mesmo período do ano passado, quando foram contabilizadas 3.125. Mas, claro, são dados subnotificados.
E a internet com isso?
“Com a democratização dos meios de comunicação, o acesso à informação e a redes sociais, muitos pedófilos utilizam sites infantis para acessar as crianças, e não há uma legislação muito especifica sobre isso”, diz.
Para sua pesquisa, Jane analisou o Orkut e mapeou 229 comunidades, como “Eu tenho 12 anos” e “Eu nasci em 1995”, contabilizando mais de 220 mil pessoas. Também analisou comunidades assumidamente pedófilas, como “Lolitomania”, que ultrapassava 3.500 membros.
“A pedofilia e o abuso sexual sempre existiram. A internet vem para potencializar esses grupos que podem se tornar muito mais organizados pela internet. Por outro lado, o conceito de pedofilização é produtivo para pensar que hoje, de certa forma, estamos produzindo pedófilos ou pessoas curiosas, atentas a esse corpo infantil também”.
Fonte: OUTRASPALAVRAS
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