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domingo, 9 de outubro de 2011

Apple na China: condições de trabalho ocidentais

 A organização chinesa SACOM (Students & Scholars Against Corporate Misbehaviour) organiza um protesto no ato de inauguração da loja Apple do centro financeiro de Hong Kong.

Este coletivo de ativistas denuncia as sucessivas violações dos direitos trabalhistas das pessoas que trabalham na corrente de fornecimento da empresa estadunidense. Por trás dos inovadores produtos Apple, há fábricas onde milhares de operários e operárias enfrentam a longas jornadas de trabalho, sob uma grande pressão e expostos a produtos tóxicos sem a proteção adequada. Em 2009, 137 trabalhadores de Wintek (Suzhou) sofreram intoxicações por n-hexane. Um ano depois, 8 operários de Yun Heng Metal (que se dedicavam a polir os logos da Apple) também ficaram gravemente doentes por intoxicação pela mesma substância.
Já em 2011, uma explosão em uma fábrica de Foxconn, em Chengdu, que produz iPads, matou três pessoas e provocou graves feridas em outras 15. Ante estes acontecimentos, Apple manteve-se em silêncio. A imprensa ocidental também. Precisamente em Foxconn, produziram-se nos primeiros meses de 2010 uma série de suicídios de trabalhadores que se encontravam baixo uma pressão insuportável. A situação extrema teve certa repercussão em meios internacionais e os principais clientes de Foxconn, Apple e HP, asseguraram que se tomariam medidas para melhorar as condições trabalhistas. Em um ano depois a situação não só não mudou, senão que a empresa chinesa transladou parte da produção para novas fábrica em zonas mais afastadas dos antigos pólos industriais de Chengdu, para o interior. SACOM documentou agregados dentre 80 e 100 horas extraordinárias mensais, o cálculo à baixa sistemática dos salários, a desproteção das operárias e os operários que trabalham com substâncias tóxicas, e umas estratégias de recrutamento militares com brochuras publicitárias que prometem a quem queira ser incorporado a Foxconn "condições trabalhistas ocidentais".
Apple não é nem a melhor nem a pior das marcas de eletrônica que invadem o planeta com suas mercadorias. A exploração e a exposição de trabalhadores a substâncias tóxicas é uma constante do setor que sofre níveis de precariedade equiparáveis aos do setor global da moda e a confecção. HP, Dell ou Samsung também se encontram entre as empresas denunciadas por campanhas internacionais e organizações asiáticas. Apple, não obstante, pretende associar sua marca a uns valores corporativos muito longínquos à triste realidade das fábricas. Enquanto esta informação seja enterrada em uma espiral de silêncio mediático e continuemos incorporando as empresas, marcas e gurús da pós-modernidade, a vulnerabilidade dos direitos trabalhistas mais fundamentais continuará estendendo-se imparável. No atual sistema produtivo internacional, parece que a inovação e visão de futuro não são suficientes para construir um grande império. Steve Jobs descansa em paz. Esperamos que os operários e as operárias de Foxconn encontrem descanso em vida.
Albert Sai i Campos é professor (precário) de sociologia na UPF

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