Josevaldo Campos
DOMINGO, 23 DE OUTUBRO DE 2011
Os limites entre o público e o privado, dentro do universo da convivência em rede, tema sugerido para a prova de redação do Enem desse ano, não podia ter exemplo mais prático durante a aplicação das provas. Refiro-me às notícias de jovens estudantes que foram eliminados do processo ao serem flagrados usando o celular para acessar as redes sociais nos dois dias de prova, em regiões diferentes do país.
Com a popularização dos preços de aparelhos eletrônicos de última geração, o que significa possibilidade de realização de sonhos de muitos adolescentes e jovens, como iPads, iPhones, tablets, smartphones e notes, dentre tantos outros, a vida em rede tem se tornado cada vez mais habitual. Ter um perfil hoje no Facebook ou dizer what’s happening no Twitter tornou-se uma questão de identidade, de não apenas dizer o que você pensa, mas que você existe.
Embora a ideia proposta pelo MEC com o termo “público” não se refira necessariamente a espaço geográfico, a exemplo de uma sala de aula, e sim à perspectiva de quebra de privacidade, esses casos de desclassificação nos levam a refletir um pouco sobre a proporção e a forma com que as redes sociais têm crescido. Um espaço primordialmente sem regras, que confina milhões de pessoas por segundo, movidas por interesses variados, e que tem se transformado, em muitos casos, numa espécie de “prisão digital”.
Os sintomas dessa nova febre, que tem, surpreendentemente, superado o poder atrativo da televisão entre o público infanto-juvenil com acesso à internet, podem se manifestar das formas mais esdrúxulas. Tentar twittar durante uma prova, em um ambiente em que aparelhos eletrônicos de qualquer espécie são proibidos, é um caso emblemático e não pode ser interpretado apenas como uma demonstração de ingenuidade.
Fonte: Retratos Avessos
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