Antônio Ozaí da Silva*
A primeira eleição que
participei foi a de 1982. Foi a primeira após a reforma partidária de 1979, que
abriu a possibilidade para a criação de novos partidos, mas mantinha os
partidos comunistas na ilegalidade. O PCB, PCdoB, MR-8 e outras organizações vinculadas
à tradição marxista, atuavam no interior do MDB (depois PMDB). Foi a primeira
participação do PT no processo eleitoral com candidaturas próprias e
independentes, sob o lema Trabalho, Terra e Liberdade! A jovem militância – uma
geração sem experiência política partidária anterior ao PT – se lançou com
entusiasmo na campanha eleitoral. Essa esperança foi frustrada nos anos
posteriores e a estrela vermelha pouco a pouco perdeu o seu brilho
Desde 1967 que não havia não
havia eleição direta para governador! No Estado de São Paulo, o PT lançou as
candidaturas de Lula (Governador), Hélio Bicudo (vice-governador), Jacó Bittar
(Senador) e Lélia Abramo (suplente de senador) O número da candidatura Lula era
o 3. Então, orgulhosamente, afirmávamos: “Vote no três porque o resto é
burguês”. “Trabalhador vota em trabalhador” e “Vote no Lula, um brasileiro
igualzinho a você” eram outros slogans de campanha que bradávamos contra os
nossos adversários, inclusive os camaradas que ousavam não “oPTar”. E, claro,
esperávamos convencer os trabalhadores.
Os resultados eleitorais foram
frustrantes. Ao que parece, os trabalhadores não se espelharam na imagem do
Lula, “um brasileiro igualzinho a você”. O Lula precisou mudar sua aparência e
o discurso para ser aceito. O Lula Presidente, eleito em 2002, é muito
diferente do Lula de 1982 – em todos os sentidos –, bem como o PT. Durante
muitos anos, ao contrário do que esperávamos, os trabalhadores votavam nos
outros candidatos – uma parcela deles aceitou o slogan, mas não a maioria.
Em 1994 e 1998, FHC foi
vitorioso nas eleições presidenciais. Lógico, os trabalhadores também votaram
nele. Ninguém se elege presidente – ou qualquer outro cargo público – apenas
com os votos dos ricos. Não é possível aprofundar esta análise, mas um olhar
sobre a história política do Brasil mostra que os trabalhadores, em geral, agem
eleitoralmente de maneira conservadora. Racionalmente avaliam o que ganham e o
que perdem em cada opção. O discurso de Lula em 1982 não os convenceu, muito
pelo contrário.
Da mesma forma, a história tem
mostrado que a retórica revolucionária dos partidos que se consideram à
esquerda do PT convencem apenas a militância e a minoria eleitoral em torno do
1%. A cada eleição, salvo exceções que confirmam a regra, a votação desses
partidos tem sido pífia. Por que será? Se expressam os interesses da classe
trabalhadora por que não convencem-na? Claro, há o poder econômico, o tempo
exíguo na TV, a manipulação da mídia e etc. Mas será que estes argumentos são
suficientes? Seja como for, reproduzem os slogans de 30 anos atrás.
Se o eleitor se recusa a
aceitar os slogans reciclados, deve ser respeitado. Até porque, votar na
minoria que se considera revolucionária tem o mesmo efeito prático da anulação
consciente do voto. Ninguém deixa de ser trabalhador pelo simples fato de não
embarcar na canoa da pregação revolucionária. Há quem pense que só é possível
adquirir o status de revolucionário com a adesão à sua organização. Nisto,
repete o stalinismo!
A história mostra que ao
vanguardismo sucede o substitucionismo, ou seja, o partido que arvora ser a
vanguarda da classe termina por tomar o lugar desta. Começa por afirmar a
missão da classe trabalhadora e termina por agir como seu porta-voz. O
vanguardismo tende a nutrir o espírito de seita, a se imaginar arrogantemente
como portador da utopia, ainda que esta se revele autoritária.
*Professor do Departamento de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Maringá (DCS/UEM), editor da Revista Espaço Acadêmico, Revista Urutágua e Acta Scientiarum. Human and Social Sciences e autor de Maurício Tragtenberg: Militância e Pedagogia Libertária (Ijuí: Editora Unijuí, 2008).
Fonte: Blog
do Ozaí
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