Getty Images - Após as obras, controle do complexo do Maracanã será cedido à iniciativa privada |
“Privatizar o Maracanã mostra
cegueira histórica sem precedentes do Governo”, diz membro do Comitê Popular da
Copa.
Seguindo a velha sanha
privatizacionista dos governos neoliberais brasileiros, o atual governo
perpetua a prática de gastar dinheiro público em grandes obras e, depois,
transferi-las par o capital privado. Os custos são sociais; os lucros privados.
Quando faremos diferente?
Edital de licitação apresentado
na segunda-feira prevê demolição do Julio Delamare, Célio de Barros e Museu do
Índio
por Pedro Muxfeldt
Em 1983, Moraes Moreira
expressou em versos a melancolia do rubro-negro com a transferência de Zico
para a Udinese, da Itália, indagando “e agora, como é que eu fico nas tardes de
domingo sem Zico no Maracanã?”. Se, cerca de trinta anos depois, um novo baiano
surgisse para cantar a tristeza do torcedor carioca, bastaria perguntar “como é
que eu fico sem o Maracanã?”.
Nesta segunda-feira, em
entrevista coletiva concedida por Régis Fichtner, chefe da Casa Civil, e Márcia
Lins, secretária de Esporte e Lazer, o Governo do Estado do Rio de Janeiro
apresentou o edital de licitação do complexo esportivo do Maracanã.
Trocando em miúdos, o projeto
prevê a concessão das dependências do estádio, que englobam o Maracanãzinho,
parque aquático Julio Delamare e o estádio de atletismo Célio de Barros, à
iniciativa privada pelos próximos 35 anos ao preço de R$ 7 milhões ao ano, que
não cobriram nem 30% do valor investido na atual obra do estádio.
Procurado pela reportagem do
Yahoo! Esporte Interativo, o membro do Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas,
coletivo criado para fiscalizar as obras com vistas aos grandes eventos
esportivos que o país sediará, Gustavo Mehl classificou a privatização do
estádio do Maracanã de “cegueira histórica sem precedentes”.
“A minuta do edital lançada
ontem (segunda-feira) escancara a visão do Governo, que entende o Maracanã como
um equipamento rentável, de consumo. Essa perspectiva é antagônica à da
sociedade civil, que enxerga no estádio um bem sociocultural da cidade e do
Brasil”, disse.
Comparando a obra atual com a
construção do estádio, em 1950, o jornalista integrante do Comitê Rio expôs as
diferenças entre os projetos.
“Quando o estádio foi erguido,
houve a preocupação em realizar uma divisão setorial proporcional à abrangência
de classes sociais da cidade, possibilitando que todos fossem capazes de ir ao
Maracanã acompanhar os jogos. Já este novo estádio que está sendo gestado visa
atender somente os interesses econômicos dominantes e será frequentado basicamente
pelas elites”, afirmou.
Julio Delamare e Célio de
Barros
Durante a entrevista do dia 22,
realizada no Palácio Guanabara, sede do Governo, Régis Fichtner ressaltou que a
concessionária vencedora irá responsabilizar-se pelas obras, da ordem de R$ 400
milhões, de demolição do Julio Delamare e do Célio de Barros para erguer um
museu do futebol, amplo estacionamento, bares e restaurantes. Os equipamentos
esportivos seriam reconstruídos em área próxima que abriga atualmente um
quartel do Exército.
Para viabilizar a derrubada das
instalações, o prefeito Eduardo Paes assinou, na própria segunda-feira, decreto
autorizando o destombamento das construções, que haviam recebido a honraria em
2002.
Quanto à previsão de reerguer o
Julio Delamare e o Célio de Barros no entorno do Maracanã, Gustavo
demonstrou-se cético. “Aos olhos do empresário que assumir o controle do
complexo, será descabido investir nessas obras, pois a prática de esportes
nesses espaços constitui-se como um projeto social, que não dá lucro”.
Mantido na área do complexo, o
ginásio do Maracanãzinho, que passou por obras no valor de R$ 92 milhões antes
dos Jogos Pan-Americanos de 2007, sofrerá reformas. A principal delas atenderá
uma necessidade imposta pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que exige a
construção de duas quadras de aquecimento em instalações olímpicas.
Para que as quadras sejam
erguidas, a escola municipal Arthur Friedenreich, que funciona no complexo,
será retirada do local. O terreno que a instituição de ensino ocupará ainda não
foi definido e ela segue com seu futuro incerto.
Comitê prepara ação
Para o lançamento oficial do
edital de licitação, resta ainda uma última etapa. O Governo do Estado,
cumprindo obrigatoriedade legal, convocou audiência pública para discutir o
projeto apresentado.
Após confirmar a presença de
integrantes do Comitê da Copa no evento, Gustavo Mehl mostrou preocupação com o
andamento da audiência. “No processo de licitação das obras da Linha 4 do
metrô, o Governo ignorou as opiniões dadas pelas associações de moradores.
Esperamos que, desta vez, a atitude seja mais democrática, na forma de uma
consulta real”, ressaltou.
Marcado para as 18h do dia 8 de
novembro, a audiência pública acontecerá no Galpão da Cidadania, na Rua Barão
de Tefé, 75, bairro da Saúde.
Museu do Índio
Fora da seara esportiva, o
prédio que sediava o Museu do Índio também será demolido pela concessionária
vencedora da licitação. A construção, datada de 1853, foi a primeira sede da
instituição criada pelo sociólogo Darcy Ribeiro. Abandonado pelo poder público,
o prédio é atualmente habitado por cerca de 20 indígenas.
Questionado sobre o destino da
chamada Aldeia Maracanã, o governador Sérgio Cabral saiu-se com uma declaração
no mínimo impensada. “Isso não é problema meu, cabe apenas à Funai (Fundação
Nacional do Índio)”.
A polêmica sobre a derrubada do
edifício, aliás, vem desde a semana passada. Em cerimônia realizada na
quinta-feira, Sérgio Cabral afirmou que a retirada do prédio ia de encontro a
uma exigência da Fifa. Porém, pouco depois, a entidade máxima do futebol veio a
público externar que nunca pediu a demolição do antigo museu.
Corrigindo-se Cabral afirmou
que a exigência era indireta, através da cobrança de maior mobilidade e
capacidade de escoamento de público. Completando, o governador declarou que o
local “não possui valor histórico” e está “no meio do caminho de uma concepção
de segurança e conforto” para os futuros frequentadores do estádio.
Mobilizados, os índios,
liderados por Carlos Tucano, estiveram presentes à Assembleia Legislativa
(Alerj) em busca de apoio por parte de parlamentares e prometeram “não arredar
o pé” do prédio. O recado do cacique, aliás, é o melhor exemplo a ser seguido
por arquibaldos e geraldinos, atualmente alijados do seu Maracanã.
Fonte: Br.Esporte Interativo
Um comentário:
Acho que não há problema e mudar o museu de lugar, desde que seja garantido o novo local. E tenho certeza que o governador vai providenciar.
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