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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Em 29 meses, 2882 pessoas foram mortas em supostos confrontos com policiais

PM recolhem os cadáveres de seis mortos no final
 de maio. 
Ocorrência foi registrada como resistência
 seguida de morte.
 
Foto: Eduardo Anizielli/ Folha Press

Os números representam os homicídios cometidos por policiais em quatro estados brasileiros; movimentos sociais pedem o fim dos autos de “resistência seguida de morte”, pois alegam que servem de “licença para matar”

José Francisco Neto

Entre janeiro de 2010 e junho de 2012, 2882 pessoas foram mortas em supostos confrontos com policiais em quatro estados brasileiros: Santa Catarina (137), Mato Grosso do Sul (57), Rio de Janeiro (1590) e São Paulo (1098). Os outros estados não divulgam o número de homicídios, segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR).
Devido ao alto número de homicídios, a ministra da SDH/PR, Maria do Rosário, recebeu na quinta-feira (11), em Brasília, integrantes do movimento Mães de Maio para tratar da questão da violência policial.
Um dos desdobramentos concretizados durante a reunião foi o conjunto no fim dos autos de "resistência seguida de morte" em todo o Brasil. Segundo o movimento, essa prática é uma verdadeira 'licença para matar' dada a policiais contra a juventude pobre, preta e periférica.
De acordo com Débora Maria, coordenadora do movimento Mães de Maio, o objetivo dessa reivindicação é para inibir a prática de extermínio que está institucionalizada na corporação da polícia militar. 
"A gente sabe que quem matou em 2006 continua matando até os dias de hoje, porque não foram punidos. Eles ganharam carta branca para matar. O governo do estado é omisso, ele não admite que dentro das corporações policiais existem grupos de extermínio", argumenta.
No Brasil não há pena de morte, salvo em caso de guerra declarada. No entanto, segundo dados da Anistia Internacional, em 2011 o número de mortes por autos de resistência apenas no Rio de Janeiro e São Paulo foi 42,16% maior do que todas as penas de morte executadas, após o devido processo legal, em 20 países.
Para o doutor em Antropologia e pesquisador do Departamento de Estudos Africanos e Afro-Americanos da Universidade do Texas (EUA), Jaime Amparo Alves, a resistência seguida de morte serve apenas para legitimar as práticas criminosas de agentes do estado para que continuem desempenhando sua força brutal nas periferias.
“O que temos é um instrumento burocrático que cria uma classe de funcionários públicos com poder soberano de vida e de morte sobre os tidos como 'bandidos', e que legaliza os homicídios praticados por agentes do Estado. É no mínimo estarrecedor ver que a polícia paulista mata em um mês o que a polícia de Nova York mata em um ano e que os números continuem crescendo assustadoramente.”

Consulta pública
O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH)) disponibilizou para consulta pública a proposta de Resolução Recomendatória sobre o uso dos termos “autos de resistência” ou “resistência seguida de morte”. O objetivo é abolir o uso desses termos nos registros policiais, de modo a garantir que todos os homicídios sejam devidamente investigados.
Até o dia 23 de outubro de 2012, o CDDPH disponibilizará o e-mail consultaautosderesistência@sdh.gov.br para o envio de sugestões para a proposta de resolução.

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