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sábado, 21 de junho de 2014

ACERCA DA PAZ

Carlos Maia

Todo e qualquer vivente dos quatro cantos do planeta Terra prefere, de uma maneira geral, a PAZ. Mesmo quando ela é colocada como premissa básica para se defender guerras e matanças indiscriminadas. Mas, a PAZ não existe e não pode ser duradoura, enquanto predominar, na sociedade, interesses de classes conflitantes e divergentes, que acabam pondo em risco a sobrevivência dos setores oprimidos e por demais explorados pela força da acumulação avassaladora do capital. Para se por um fim a toda e qualquer consequência da miserabilidade material e espiritual do mundo capitalista, é, acima de tudo, mais que importante e urgente, o estabelecimento de objetivos programáticos estratégicos de um futuro verdadeiramente humano, que se paute, inevitavelmente, pelo princípio do bem comum.

O capitalismo, apesar de todas suas guerras e contradições, ainda consegue manter-se no mundo. Muito embora estas contradições tendem, constantemente, a se aguçarem mais e mais, gerando lucros astronômicos e miséria galopantes por todos os rincões do globo. Mesmo ocorrendo de tempos em tempos uma queda na taxa de lucro global do capital, que acaba por emperrar o mecanismo de funcionamento da economia – a exploração capitalista é desenfreada e atinge o conjunto dos trabalhadores, com traços de crueldade jamais vistos em nenhuma fase da história do desenvolvimento humano. O capitalismo consegue criar os mais requintados e diversificados tipos de mercadorias e produtos altamente desenvolvidos tecnologicamente, com um nível de sofisticação nunca visto, devido ao alto grau de exploração da força de trabalho do proletariado, cada vez mais massacrado no que tange às condições materiais e espirituais de sua existência.

O capitalismo é desumano e cruel, pois consegue realizar a façanha de manter no desemprego mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo: homens, mulheres e jovens pertencentes à força do proletariado internacional. Esta situação tende acirrar ainda mais a luta do proletariado contra a burguesia, a luta de classes mesmo, apesar das falácias de que esta já tenha acabado. Enquanto persistirem as diferenças entre os detentores dos meios de produção ( as fábricas, as terras, etc.) e os detentores apenas da força de trabalho, a contradição básica da sociedade capitalista se mantém inalterada, e com ela, os interesses antagônicos de duas classes radicalmente opostas: a burguesia e o proletariado.

A burguesia explora o proletariado internacionalmente e dentro das fronteiras de cada país. Isso não ocorre porque o proletariado goste de ser explorado, mas, sim,  devido a todo o aparato econômico, político, ideológico e militar que a burguesia montou historicamente para escravizar as forças do trabalho. Ela sabe, por exemplo, que a sua economia entra em crise e que esta por sua vez traz, em seu bojo, o descontentamento popular das massas. O que ela faz? Ela se prepara para este momento, usa quando necessário o aparato militar, corrompe políticos e lideranças dos trabalhadores, utiliza exaustivamente o mecanismo da cooptação ideológica para confundir ainda mais os trabalhadores que não têm claros os seus interesses históricos de classe. Enfim, trava sem tréguas a sua guerra de classe contra o proletariado, os camponeses e demais massas de trabalhadores. A burguesia para governar, utiliza-se ainda, de planos, projetos político-econômicos das mais variadas matizes, para atender a determinada conjuntura histórica específica. Atualmente a burguesia trabalha com um projeto mesclado de neoliberalismo, social-democracia e populismo de tonalidade fascista, levando em consideração as diferenças regionais de país para país. A implementação destas medidas não deixa de ser uma saída momentânea para a burguesia, porém, apenas por um período, até esgotar-se – enquanto projeto – ou até que o proletariado se levante de forma conseqüente, devido os efeitos destes planos e do aprofundamento da crise.

O levante dos trabalhadores se dá, em primeiro lugar, devido às condições objetivas de suas existências, ou seja, devido ao arrocho dos salários, ameaça e aumento do desemprego, cortes nas conquistas históricas, etc. Em segundo lugar, devido a sua vontade política de se levantar contra a ordem estabelecida, devido ao seu despertar para a consciência de classe. Em terceiro lugar, para que a situação seja ainda mais favorável aos trabalhadores, por conta mesmo da crise que se abre em situações conjunturais como estas, há, sem sombra de dúvida, os desentendimentos e as divergências no seio da burguesia em torno do seu projeto de dominação, que a enfraquece momentaneamente e faz com que o movimento dos trabalhadores adquira mais força. Porém, isso por si só não basta para acabar com o capitalismo.  É preciso que o proletariado, os camponeses pobres e a massa dos explorados tenham em torno de si um projeto desenvolvido de uma nova sociedade, uma nova ordem internacional: o socialismo.

Mas, para que isso ocorra, muitos caminhos devem ser percorridos. O proletariado não deverá, entretanto, esperar passivamente pelo socialismo. Ele deverá ir, aos poucos, se organizando, realizando ensaios de lutas e criando espaços de militância e preparação política do seu projeto.  As forças autônomas e independentes dos trabalhadores deverão travar ainda, uma luta contínua contra as forças da conciliação de classes: o reformismo e a social-democracia, que só têm levado a um mundo de derrotas e traições em todas as vezes que estiveram à frente de movimentos de massa reivindicatórios ou de revoluções.

Enfim, falar de PAZ num estágio social da humanidade em que prevalece a luta (guerra) de classes, não deixa de ser um recurso meramente ideológico, que vai no sentido de esconder a verdadeira face da realidade. O fim das guerras não se dará por decreto, nem por nenhuma medida pacificadora da burguesia. Ela deverá ser sempre uma conquista histórica. Tal baile de máscaras, antigo e aristocrático se apresenta a sociedade atual. Tenta-se, a todo custo, esconder a gravidade da situação econômica, política e social do país e do mundo. Quando muito, permite-se aplicar doses homeopáticas ao paciente, que, na verdade, necessita de procedimentos cirúrgicos mais sérios e profundos. Desta forma, é que os governos do capital vão passando para a população - acostumada a pensar segundo o senso comum, às vezes o mais rebaixado possível – argumentos baseados numa falsa consciência da realidade, com o intuito simplesmente de ludibriar e enganar as massas. Mas, mesmo assim, diante de uma situação de necessidade concreta, é possível se tomar a iniciativa política e preparar o salto para um novo momento histórico.

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