Carlos Maia
Todo e qualquer vivente dos
quatro cantos do planeta Terra prefere, de uma maneira geral, a PAZ. Mesmo
quando ela é colocada como premissa básica para se defender guerras e matanças
indiscriminadas. Mas, a PAZ não existe e não pode ser duradoura, enquanto
predominar, na sociedade, interesses de classes conflitantes e divergentes, que
acabam pondo em risco a sobrevivência dos setores oprimidos e por demais
explorados pela força da acumulação avassaladora do capital. Para se por um fim
a toda e qualquer consequência da miserabilidade material e espiritual do mundo
capitalista, é, acima de tudo, mais que importante e urgente, o estabelecimento
de objetivos programáticos estratégicos de um futuro verdadeiramente humano,
que se paute, inevitavelmente, pelo princípio do bem comum.
O capitalismo, apesar de todas
suas guerras e contradições, ainda consegue manter-se no mundo. Muito embora
estas contradições tendem, constantemente, a se aguçarem mais e mais, gerando
lucros astronômicos e miséria galopantes por todos os rincões do globo. Mesmo
ocorrendo de tempos em tempos uma queda na taxa de lucro global do capital, que
acaba por emperrar o mecanismo de funcionamento da economia – a exploração
capitalista é desenfreada e atinge o conjunto dos trabalhadores, com traços de
crueldade jamais vistos em nenhuma fase da história do desenvolvimento humano.
O capitalismo consegue criar os mais requintados e diversificados tipos de
mercadorias e produtos altamente desenvolvidos tecnologicamente, com um nível
de sofisticação nunca visto, devido ao alto grau de exploração da força de
trabalho do proletariado, cada vez mais massacrado no que tange às condições
materiais e espirituais de sua existência.
O capitalismo é desumano e cruel,
pois consegue realizar a façanha de manter no desemprego mais de um bilhão de
pessoas em todo o mundo: homens, mulheres e jovens pertencentes à força do
proletariado internacional. Esta situação tende acirrar ainda mais a luta do proletariado
contra a burguesia, a luta de classes mesmo, apesar das falácias de que esta já
tenha acabado. Enquanto persistirem as diferenças entre os detentores dos meios
de produção ( as fábricas, as terras, etc.) e os detentores apenas da força de
trabalho, a contradição básica da sociedade capitalista se mantém inalterada, e
com ela, os interesses antagônicos de duas classes radicalmente opostas: a
burguesia e o proletariado.
A burguesia explora o
proletariado internacionalmente e dentro das fronteiras de cada país. Isso não
ocorre porque o proletariado goste de ser explorado, mas, sim, devido a todo o aparato econômico, político,
ideológico e militar que a burguesia montou historicamente para escravizar as
forças do trabalho. Ela sabe, por exemplo, que a sua economia entra em crise e
que esta por sua vez traz, em seu bojo, o descontentamento popular das massas.
O que ela faz? Ela se prepara para este momento, usa quando necessário o
aparato militar, corrompe políticos e lideranças dos trabalhadores, utiliza
exaustivamente o mecanismo da cooptação ideológica para confundir ainda mais os
trabalhadores que não têm claros os seus interesses históricos de classe.
Enfim, trava sem tréguas a sua guerra de classe contra o proletariado, os
camponeses e demais massas de trabalhadores. A burguesia para governar, utiliza-se
ainda, de planos, projetos político-econômicos das mais variadas matizes, para
atender a determinada conjuntura histórica específica. Atualmente a burguesia
trabalha com um projeto mesclado de neoliberalismo, social-democracia e
populismo de tonalidade fascista, levando em consideração as diferenças
regionais de país para país. A implementação destas medidas não deixa de ser uma
saída momentânea para a burguesia, porém, apenas por um período, até esgotar-se
– enquanto projeto – ou até que o proletariado se levante de forma conseqüente,
devido os efeitos destes planos e do aprofundamento da crise.
O levante dos trabalhadores se
dá, em primeiro lugar, devido às condições objetivas de suas existências, ou
seja, devido ao arrocho dos salários, ameaça e aumento do desemprego, cortes
nas conquistas históricas, etc. Em segundo lugar, devido a sua vontade política
de se levantar contra a ordem estabelecida, devido ao seu despertar para a
consciência de classe. Em terceiro lugar, para que a situação seja ainda mais
favorável aos trabalhadores, por conta mesmo da crise que se abre em situações
conjunturais como estas, há, sem sombra de dúvida, os desentendimentos e as divergências
no seio da burguesia em torno do seu projeto de dominação, que a enfraquece
momentaneamente e faz com que o movimento dos trabalhadores adquira mais força.
Porém, isso por si só não basta para acabar com o capitalismo. É preciso que o proletariado, os camponeses
pobres e a massa dos explorados tenham em torno de si um projeto desenvolvido
de uma nova sociedade, uma nova ordem internacional: o socialismo.
Mas, para que isso ocorra,
muitos caminhos devem ser percorridos. O proletariado não deverá, entretanto, esperar
passivamente pelo socialismo. Ele deverá ir, aos poucos, se organizando,
realizando ensaios de lutas e criando espaços de militância e preparação
política do seu projeto. As forças
autônomas e independentes dos trabalhadores deverão travar ainda, uma luta
contínua contra as forças da conciliação de classes: o reformismo e a
social-democracia, que só têm levado a um mundo de derrotas e traições em todas
as vezes que estiveram à frente de movimentos de massa reivindicatórios ou de
revoluções.
Enfim, falar de PAZ num estágio
social da humanidade em que prevalece a luta (guerra) de classes, não deixa de
ser um recurso meramente ideológico, que vai no sentido de esconder a
verdadeira face da realidade. O fim das guerras não se dará por decreto, nem
por nenhuma medida pacificadora da burguesia. Ela deverá ser sempre uma
conquista histórica. Tal baile de máscaras, antigo e aristocrático se apresenta
a sociedade atual. Tenta-se, a todo custo, esconder a gravidade da situação
econômica, política e social do país e do mundo. Quando muito, permite-se
aplicar doses homeopáticas ao paciente, que, na verdade, necessita de
procedimentos cirúrgicos mais sérios e profundos. Desta forma, é que os
governos do capital vão passando para a população - acostumada a pensar segundo
o senso comum, às vezes o mais rebaixado possível – argumentos baseados numa
falsa consciência da realidade, com o intuito simplesmente de ludibriar e
enganar as massas. Mas, mesmo assim, diante de uma situação de necessidade
concreta, é possível se tomar a iniciativa política e preparar o salto para um
novo momento histórico.
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