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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Militares persistem no poder e tentam desviar o foco das mobilizações

Aldo Sauda

A imprensa árabe evitou falar em números. Para quase todos que estavam presentes, as manifestações do dia 25 de janeiro deste ano, data que marcou o primeiro aniversário da revolução egípcia, foi a maior da história moderna do Oriente Médio. Boa parte dos militantes falou na presença de 3 milhões de pessoas, alguns colocaram o número mais pra baixo, outros, mais pra cima. A verdade é que dada a dimensão das manifestações, que durante o dia todo ocuparam boa parte da cidade, jamais teremos clareza da quantidade de pessoas que tomaram as ruas do Cairo.

Marco da Mobilização
O “25 de Janeiro” de 2011, data pela qual os egípcios batizaram sua revolução, iniciou uma mobilização em massa que em apenas 18 dias derrubou o então presidente Hosni Mubarak. A partir de então, uma sequência de mobilizações de rua resultaram na derrubada de 3 primeiros ministros, a invasão da embaixada israelense e a morte de centenas de civis em confrontos com a polícia o exército.
Para o Egito, há algo de especial no dia 25 de janeiro. Foi exatamente nesta mesma data, em 1952, que a coroa britânica começou a perder o controle do país. Durante aquele “25”, o Reino Unido, que então controlava militarmente o canal de Suez, massacrou 50 soldados egípcios em uma disputa pelo canal. No dia seguinte, em uma suposta resposta ao colonialismo europeu, a cidade do Cairo foi posta em chamas. O massacre do 25 e Janeiro imediatamente colocou operários em greve, estudantes nas ruas e quartéis em motim. Todos os símbolos do colonialismo – dos bares e hotéis à estação de trens do Cairo – foram incendiados. Há 60 anos, o “25 de Janeiro” já era marca de insubordinação à ordem posta.

Revolução encerrada?
Quase um ano após a queda de Mubarak, os rumos da revolução egípcia continuam incertos. O discurso dos militares, reproduzida de forma fiel pela imprensa estatal, insiste em afirmar no encerramento do processo revolucionário. A linha oficial é a de que a transição de poder sob tutela da junta até o final do ano tornará o Egito em uma democracia liberal moderna. A queda de Mubarak, a realização de eleições parlamentares e a agenda da transição de poder, que inclui uma constituinte supervisionada pelo exército, seriam a consolidação institucional dos ganhos da revolução.
Tal perspectiva entrou em direta contradição com as manifestações que marcaram o aniversário da revolução. Enquanto o exército buscou a todo tempo esvaziar o significado do dia, tornado-o uma celebração dos seus supostos feitos, para a juventude e os trabalhadores, o “25” foi um dia de protestos.

Mudanças e continuidades
O Egito de 2012, em grande medida, se encontra na mesma situação que durante os anos de Hosni Mubarak. Amplo desemprego e subemprego, poucos horizontes para a juventude e uma enorme crise de moradia marcam a atual conjuntura do país. Institucionalmente, quase nada mudou; a constituição de Mubarak, com exceção de alguns poucos artigos introduzidos pelos militares, continua intacta.
Pior do que a manutenção do status quo está clara a regressão de vários aspectos da vida política egípcia. Uma das primeiras medidas tomadas pela junta militar foi a criminalização das greves, que durante o regime Mubarak eram minimamente toleradas. Não que a medida tenha tido algum efeito real; a onda de greves que em setembro de 2011 mobilizou por volta de setecentos mil trabalhadores em nada foi afetada pela nova legislação antigrevista. Ela indica, porém, um claro temor por parte do exército das movimentações políticas do operariado.
Junto à criminalização das greves, o aprisionamento por parte do exército de mais de 12 mil civis explicita outro elemento de continuidade entre o regime atual e o do ditador deposto. A quantidade de presos políticos pela junta, inclusive, é maior do que a de todos os presos políticos ao longo dos quase 30 anos de regime Mubarak.
A grande maioria dos presos políticos da junta militar são jovens que não integram partidos políticos nem movimentos sociais. Quase todos são pobres e a grande maioria não possui histórico de militância política. Foram capturados por terem ido a passeatas, gritado palavras de ordem ou criticado, em algum momento, o governo da junta. Especula-se que a razão por trás destas prisões seja para reinserir o medo na população egípcia. Após a derrota humilhante da polícia no “25 de Janeiro”, o estado está buscando, a qualquer custo, reimpor o medo na população.
Para ler a matéria por completo, clicar Caros Amigos

Para entender mais sobre a conjuntura política egípcia, ouça a gravação da entrevista dada pelo autor desse artigo para o Passa Palavra.



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