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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O mundo vai acabar!!

É o que prevê o "trader" Alessio Rastani. Claro que se trata do mundo capitalista.
Quando os próprios capitalistas teleologicamente concebem que a situação de crise é apocalíptica, como o vê Alessio Rastani, capitalista de carteirinha, sua classe tem que sae preocupar com isto. Existe muita verdade no que diz - o que passa disso em sua entrevista não me interessa neste momento -, como por exemplo: 1) É mentira que a acumulação nunca teve ética e que ela sempre foi predatoria? É mentira que o modelo social empregado como consequência da acumulação de capitais é insustentável, e por sê-lo, cedo ou tarde irá entrar em colapso?
Não tem grandes novidades o vídeo que agora postamos, mas é emblemático do momento atual do processo de acumulação capitalista mundial. Assista e tire suas próprias conclusões
A quem serve a democracia burguesa? E o quanto burguesa é a democracia e seus parlamentos?

Lutas.doc

Lutas.doc é uma série de documentários, com reflexões profundas sobre a violência, seus contextos e formas de representação na história do Brasil.
A série combina densidade de reflexão com uma linguagem dinâmica e acessível.
Grandes pensadores brasileiros, doutores em filosofia, psicologia, economia, história e sociologia, como Eduardo Gianneti, Olgária Mattos, Laura de Mello e Souza e Contardo Calligaris analisam a realidade brasileira em pé de igualdade.
A história do país é revista, com um olhar crítico e ousado.
Com um ritmo dinâmico e trechos de animação, os episódios procuram levar audiências intelectualizadas e jovens sem grande formação intelectual, do mesmo modo, à reflexão.

Farda? Nunca mais!!!

Por Renan Antunes de Oliveira
Ele era um pracinha que amava a banda Restart e usava calças coloridas como as dos ídolos, mas pro pelotão dele seu gosto é coisa gay. Durou três meses no quartel, até o estupro na frente de 14 colegas – nenhum o ajudou. IPM sob medida recomenda expulsá-lo do Exército.
O pracinha gaúcho de iniciais DPK, 19, enfrenta o Exército na Justiça Militar. Ele tem poucas chances de ganhar, mas pelo menos honra a tradição de luta do uniforme verde-oliva.
DPK está ameaçado de pegar cadeia depois de denunciar ter sido estuprado no quartel por quatro dos 19 colegas de alojamento – os demais disseram que não viram nada acontecer.
“Eu fui violentado e quero Justiça”, afirma DPK, 120 dias depois do incidente, acontecido em 17 de maio no quartel do Parque de Manutenção do 3º Exército, em Santa Maria (RS). Um inquérito policial militar (IPM) concluiu que foi sexo consensual. O caso corre em segredo na 3ª Auditoria Militar.
A ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário mandou o ouvidor nacional de DH Domingos Silveira investigar o IPM. Ela quer “verificar a situação desta violência que está sendo tratada com tamanho desrespeito”.
Durante entrevista no sábado 17, o soldado afirmou que enfrentará a acusação no tribunal. Ele disse que o Exército convenceu seus quatro agressores a mentirem no IPM, oferecendo para eles penas menores em troca de acusá-lo de homossexualismo – o objetivo seria isentar a instituição da responsabilidade sobre o suposto estupro.
Pelo relato, seu pesadelo começou quando se apagaram as luzes do alojamento do 3º Pelotão, às 10 da noite: “Eu fui atacado de surpresa pelos quatro e não tive como reagir”. Um quinto soldado ficou vigiando a porta e, nos beliches, outros 14 assistiram tudo e nada fizeram.
(...)
Dia 15, o Ministério Público Militar (MPM) acatou a versão do IPM, denunciando DPK e os demais envolvidos pelo crime de “pederastia e outros atos libidinosos”, artigo 235 do Código Penal Militar, passível de um ano de cadeia e expulsão (no CPM só existe estupro se for entre pessoas de sexos diferentes). A turma dos beliches escapou.
O Exército jogou pesado contra DPK durante o IPM. Oficiais, sob a condição de anonimato, foram revelando aos poucos para jornalistas partes escolhidas do inquérito sigiloso, difamando o jovem como homossexual, aidético, suicida e mentiroso.
(...)
Ela afirma que o resultado do IPM teria sido manipulado porque foi antecipado em 70 dias pelo general comandante da guarnição de Santa Maria: “Os militares fizeram uma campanha de mentiras para condenar meu filho” (os citados nesta reportagem foram procurados, mas o único a falar foi o comandante).
(...)
Depois do ataque, DPK não quis mais sair da cama. No dia seguinte, quarta 18 de maio, um sargento estranha sua apatia e logo descobre tudo, alertando superiores. O soldado é internado no hospital da guarnição, onde seria periciado pelo tal enfermeiro. Um aspirante a oficial anota que ele parecia deprimido e suicida, receitando antidepressivos.
Um recruta do mesmo pelotão é destacado para vigiá-lo no leito, mas piora as coisas porque o ameaça: “Se falar, você vai se ferrar”.
(...)
DPK revela o sonho que tinha de permanecer no Exército depois do serviço obrigatório, mas sabe que agora não será mais possível.
A mãe fecha o papo: “Esta farda você não veste mais”.
Para ler a matéria por completo, clicar Jornal Já

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Trocando mitos por História - Entrevista a Eric Hobsbawm

Entrevista com Eric Hobsbawm, por Laura Greenhalg*
Eric Hobsbawm é um historiador merecedor de todo o respeito. Num tempo em que a actividade central da grande maioria dos historiadores burgueses consiste na reescrita da história de acordo com as conveniências da ideologia dominante, a sua fidelidade à matriz marxista na investigação e no método serve de exemplo, independentemente das discordâncias que este ou aquele aspecto da sua obra suscitem, discordâncias que ele próprio assume frontalmente: “O que busco é o entendimento da história, e não concordância, aprovação ou comiseração”.
Esta interessante entrevista é um exemplo da importância da reflexão de alguém que conta 94 anos, ou seja, de alguém que nasceu no ano da grande revolução socialista de Outubro.

No livro Globalização, Democracia e Terrorismo, de 2007, o senhor passa para os leitores certo pessimismo ao lhes colocar uma perspectiva crucial e ao mesmo tempo desconfortante: ‘’Não sabemos para onde estamos indo'’, diz, referindo-se aos rumos mundiais. Olhando as últimas décadas pelo retrovisor da história esse sentimento parece ter se intensificado. Em que outros momentos a humanidade viveu períodos marcados por essa mesma sensação de falta de rumos?
Embora existam diferenças entre os países, e também entre as gerações, sobre a percepção do futuro - por exemplo, hoje há visões mais optimistas na China ou no Brasil do que em países da União Europeia e nos Estados Unidos -, ainda assim acredito que, ao pensar seriamente na situação mundial, muita gente experimente esse pessimismo ao qual você se refere. Porque de facto atravessamos um tempo de rápidas transformações e não sabemos para onde estamos indo, mas isso não constitui um elemento novo em tempos críticos. Tempos que nos remetem ao mundo em ruínas depois de 1914, ou mesmo a vários lugares daquela Europa entre duas grandes guerras ou na expectativa de uma terceira. Aqueles anos durante e após a 2ª Guerra foram catastróficos, ali ninguém poderia prever que formato o futuro teria ou mesmo se haveria algum futuro. Cruzamos também os anos da Guerra Fria, sempre assustadores pela possibilidade de uma guerra nuclear. E, mais recentemente, notamos a mesma sensação de desorientação ao vermos como os Estados Unidos mergulharam numa crise económica que até parece ser o breakdown do capitalismo liberal.
Nações saíram empobrecidas, arruinadas mesmo, das guerras mundiais, mas é adequado pensar que havia naqueles escombros o desenho de um futuro?
Sim. Se de um lado o futuro nos era desconhecido e cada vez mais inesperado, havia por outro lado uma ideia mais nítida sobre as opções que se apresentavam. No entreguerras, a escolha principal de um modelo se dava entre o capitalismo reformado e o socialismo com forte planeamento económico - supremacia de mercado sem controlo era algo impensável. Havia ainda a opção entre uma democracia liberal, o fascismo ultranacionalista e o comunismo. Depois de 1945, o mundo claramente se dividiu numa zona de democracia liberal e bem-estar social a partir de um capitalismo reformado, sob a égide dos EUA, e uma zona sob orientação comunista. E havia também uma zona de emancipação de colónias, que era algo indefinido e preocupante. Mas veja que os países poderiam encontrar modelos de desenvolvimento importados do Ocidente, do Leste e até mesmo resultante da combinação dos dois. Hoje esses marcos sinalizadores desapareceram e os “pilotos” que guiariam nossos destinos, também.
Como o senhor avalia o poder das imagens de destruição nos ataques do 11/9 a Nova York, tão repetidas nos últimos dias? Tornaram-se o símbolo de uma guinada histórica, apontando novas relações entre Ocidente e Oriente? Por que imagens do cenário de morte de Bin Laden surtiram menos impacto?
A queda das torres do World Trade Center foi certamente a mais abrangente experiência de catástrofe que se tem na história, inclusive por ter sido acompanhada em cada aparelho de televisão, nos dois hemisférios do planeta. Nunca houve algo assim. E sendo imagens tão dramáticas, não surpreende que ainda causem forte impressão e tenham se convertido em ícones. Agora, elas representam uma guinada histórica? Não tenho dúvida de que os Estados Unidos tratam o 11/9 dessa forma, como um turning point, mas não vejo as coisas desse modo. A não ser pelo fato de que o ataque deu ao governo americano a ocasião perfeita para o país demonstrar sua supremacia militar ao mundo. E com sucesso bastante discutível, diga-se. Já o retrato de Bin Laden morto (que não foi divulgado) talvez fosse uma imagem menos icónica para nós, mas poderia se converter num ícone para o mundo islâmico. Da maneira deles, porque não é costume nesse mundo dar tanta importância a imagens, diferentemente do que fazemos no Ocidente, com nossas camisetas estampando o rosto de Che Guevara.
Mas além da oportunidade de demonstrar poderio militar, os Estados Unidos deram uma guinada na sua política externa a partir de 2001, ajustando o foco naquilo que George W. Bush baptizou como “war on terror”. Outro encaminhamento seria possível?

Eu diria que a política externa americana, depois de 2001, foi parcialmente orientada para a guerra ao terror, e fundamentalmente orientada pela certeza de que o 11/9 trouxe para os EUA a primeira grande oportunidade, depois do colapso soviético, de estabelecer uma supremacia global, combinando poder político-económico e poder militar. Criou-se a situação propícia para espalhar e reforçar bases militares americanas na Ásia central, ainda uma região muito ligada à Rússia. Sob esse aspecto, houve uma confluência de objectivos - combate-se o inimigo ampliando enormemente a presença militar americana. Mas, sob outro aspecto, esses objectivos conflituaram. A guerra no Iraque, que no fundo nada tinha a ver com a Al-Qaeda, consumiu atenção e uma enormidade de recursos dos EUA, e ainda permitiu à organização liderada por Bin Laden criar bases não só no Iraque, mas no Paquistão e extensões pelo Oriente Médio.
Os Estados Unidos lançaram-se nessa campanha sabendo o tamanho do inimigo?
O perigo do terrorismo islâmico ficou exagerado, a meu ver. Ele matou milhares de pessoas, é certo, mas o risco para a vida e a sobrevivência da humanidade que ele possa representar é muito menor do que o que se estima. Exemplo disso são as importantes mudanças que ocorreram neste ano no mundo árabe, mudanças que nada devem ao terrorismo islâmico. E não só: elas o deixaram à margem. Agora, o mais duradouro efeito da war on terror, aliás, uma expressão que os diplomatas americanos finalmente estão abandonando, terá sido permitir que os Estados Unidos revivessem a prática da tortura, bem como permitir que os cidadãos fossem alvo de vigilância oficial. Isso, claro, sem falar das medidas que fazem com que a vida das pessoas fique mais desconfortável, como ao viajar de avião.
Diante dos problemas económicos que hoje afligem os Estados Unidos, ainda sem um horizonte de recuperação à vista, o senhor diria que seguimos em direcção a um tempo de declínio da hegemonia americana?
Nós de facto caminhamos em direcção à Era do Declínio Americano. As guerras dos últimos dez anos demonstram como vem falhando a tentativa americana de consolidar sua solitária hegemonia mundial. Isso porque o mundo hoje é politicamente pluralista, e não monopolista. Junto com toda a região que alavancou a industrialização na passagem do século 19 para o século 20, hoje a América assiste à mudança do centro de gravidade económica do Atlântico Norte para o Leste e o Sul. Enquanto o Ocidente vive sua maior crise desde os anos 30, a economia global ainda assim continua a crescer, empurrada pela China e também pelos outros Brics. Ainda assim, não devemos subestimar os Estados Unidos. Qualquer que venha a ser a configuração do mundo no futuro, eles ainda se manterão como um grande país e não apenas porque são a terceira população do planeta. Ainda vão desfrutar, por um bom tempo, da notável acumulação científica que conseguiram fazer, além de todo o soft power global representado por sua indústria cultural, seus filmes, sua música, etc.
Não só por desdobramentos político-militares do 11/9, mas também pela emergência de novos actores no mundo globalizado, criam-se situações bem desafiadoras. Por exemplo, o que o Ocidente sabe do Islão? E dos países árabes que hoje se levantam contra seus regimes? Qual é o grau de entendimento da China? Enfim, o Ocidente enfrenta dificuldades decorrentes de uma certa superioridade cultural ou arrogância histórica?
Ao longo de toda uma era de dominação, o Ocidente não só assumiu que seus triunfos são maiores do que os de qualquer outra civilização, e que suas conquistas são superiores, como também que não haveria outro caminho a seguir. Portanto, ao Ocidente restaria unicamente ser imitado. Quando aconteciam falhas nesse processo de imitação, isso só reforçava nosso senso de superioridade cultural e arrogância histórica. Assim, países consolidados em termos territoriais e políticos, monopolizando autoridade e poder, olharam de cima para baixo para países que aparentemente estavam falhando na busca de uma organização nas mesmas linhas. Países com instituições democráticas liberais também olharam de cima para baixo para países que não as tinham. Políticos do Ocidente passaram a pensar democracia como uma espécie de contabilidade de cidadãos em termos de maiorias e minorias, negando inclusive a essência histórica da democracia. E os colonizadores europeus também se acharam no direito de olhar populações locais de cima para baixo, subjugando-as ou até erradicando-as, mesmo quando viam que aqueles modos de vida originais eram muito mais adequados ao meio ambiente das colónias do que os modos de vida trazidos de fora. Tudo isso fez com que o Ocidente realmente desenvolvesse essa dificuldade de entender e apreciar avanços que não fossem os próprios.
Essa superioridade do Ocidente pode mudar com a emergência de uma potência como a China?
Mas mesmo a China, que no passado remoto era tida como uma civilização superior, foi subestimada por longo tempo. Só depois da 2ª Guerra é que seus avanços em ciência e tecnologia começaram a ser reconhecidos. E só recentemente historiadores têm levantado as extraordinárias contribuições chinesas até o século 19. Veja bem, ainda não sabemos em que medida a cultura, a língua e mesmo as práticas espirituais da Pérsia, hoje Irão, enfim, em que medida aquele fraco e frequentemente conquistado império influenciou uma grande parte da Ásia, do Império Otomano até as fronteiras da China. Sabemos? Temos grande dificuldade em compreender a natureza das sociedades nómadas, bem como sua interacção com sociedades agrícolas assentadas, e hoje a falta dessa compreensão torna quase impossível traduzir o que se passa em vastas áreas da África e da região do Sara, por exemplo, no Sudão e na Somália. A política internacional fica completamente perdida quando confrontada por sociedades que rejeitam qualquer tipo de estado territorial ou poder superior ao do clã ou da tribo, como no Afeganistão e nas terras altas do sudoeste asiático. Hoje achamos que já sabemos muito sobre o Islão, sem nem sequer nos darmos conta que o radicalismo chiita dos aiatolas iranianos e o sonho de restauração do califado por grupos sunitas não são expressões de um Islão tradicional, mas adaptações modernistas, processadas o longo século 20, de uma religião prismática e adaptável.
Com todos esses exemplos de ‘’mundos'’ que se estranham, o senhor diria que a história corre o risco das distorções?
Apesar de todos esses exemplos, sou forçado a admitir que a arrogância histórica ocidental inevitavelmente se enfraquece, excepto em alguns países, entre eles os EUA, cujo senso de identidade colectiva ainda consiste na crença de sua própria superioridade. Nos últimos dez anos, a história tomou outro curso, muito afectada pelas imigrações internacionais que permitem a mulheres e homens de outras culturas virem para os “nossos” países. Dou um exemplo: hoje a informação municipal na região de Londres onde vivo está disponível não apenas em inglês, mas em albanês, chinês, somali e urdu. A questão preocupante é que, como reacção a tudo isso, surge também uma xenofobia de carácter populista, que se propaga até nas camadas mais educadas da população. Mas, inegavelmente, numa cidade como Londres ou Nova York, onde a presença dos imigrantes de várias partes é forte, existe hoje um reconhecimento maior da diversidade do mundo do que se tinha no passado. Turistas que buscam destinos na Ásia, África ou até mesmo no Caribe costumam não entender a natureza das sociedades que cercam seus hotéis, mas jovens mulheres e homens que hoje viajam, em trabalho ou estudos, para esses lugares, já criam outra compreensão. Em resumo, apesar da expansão de xenofobia, há motivos para optimismo porque a compreensão abrangente do nosso tempo complexo requer mais do que conhecimento ou admiração por outras culturas. Requer conhecimento, estudo e, não menos importante, imaginação.

Imaginação?

Sim, porque essa compreensão abrangente é frequentemente dificultada pelo persistente hábito de políticos e generais passarem por cima do passado. O Afeganistão é um clamoroso exemplo do que estou dizendo. Temo que não seja o único.

Na sua opinião, estaríamos atravessando um momento regressivo da humanidade quando fundamentalismos religiosos impõem visões de mundo e modos de vida?

O que vem a ser um momento regressivo? Esta é a pergunta que faço. Não acredito que nossa civilização esteja encarando séculos de regressão como ocorreu na Europa Ocidental depois da queda do Império Romano. Por outro lado, devemos abandonar a antiga crença de que o progresso moral e político seja tão inevitável quanto o progresso científico, técnico e material. Essa crença tinha alguma base no século 19. Hoje o problema real que se coloca, o maior deles, é que o poder do progresso material e tecnocientífico, baseado em crescente e acelerado crescimento económico, num sistema capitalista sem controlo, gera uma crise global de meio ambiente que coloca a humanidade em risco. E, à falta de uma entidade internacional efectiva no plano da tomada de decisão, nem o conhecimento consolidado do que fazer, nem o desejo político de governos nacionais de fazer alguma coisa estão presentes. Esse vazio decisório e de acção pode, sim, levar o nosso século para um momento regressivo. E certamente isso tem a ver com aquele “sentido de desorientação” que discutimos no início da entrevista.
Apoiado na sua longa trajectória académica, que conselhos o senhor daria aos jovens historiadores de hoje?
Hoje pesquisar e escrever a história são actividades fundamentais, e a missão mais importante dos historiadores é combater mitos ideológicos, boa parte deles de feitio nacionalista e religioso. Combater mitos para substituí-los justamente por história, com o apoio e o estímulo de muitos governos, inclusive. Se eu fosse jovem o suficiente, gostaria de participar de um excitante projecto interdisciplinar que recorresse à moderna arqueologia e às técnicas de DNA para compor uma história global do desenvolvimento humano, desde quando os primeiros Homo sapiens tenham aparecido na África oriental e como elas se espalharam pelo globo. Agora, se eu fosse um jovem historiador latino-americano, daí eu poderia ser tentado a investigar o impacto do meu continente sobre o resto do mundo. Isso, desde 1492, na era dos descobrimentos, passando pela contribuição material desse continente a tantos países, com metais preciosos, alimentos e remédios, até o efeito da América Latina sobre a cultura moderna e a compreensão do mundo, influenciando intelectuais como Montaigne, Humboldt, Darwin. E, evidentemente, eu pesquisaria a riqueza musical do continente, fosse eu um latino-americano. Isso é tudo o que eu quero dizer.
*Publicada no “Estado de S.Paulo”, 11.09.2011
Fonte: O Diário.info

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O Brasil e o capital-imperialismo. Teoria e história

Virgínia Fontes, historiadora, professora-pesquisadora da EPSJV e da Universidade Federal Fluminense, é a autora do livro ‘O Brasil e o capital-imperialismo. Teoria e história’, uma parceria entre a EPSJV e a Editora UFRJ. A obra, que faz parte da Coleção Pensamento Crítico, da Editora UFRJ, propõe um retorno aos clássicos para compreender o papel desempenhado pelo Brasil nas formas contemporâneas do imperialismo capitalista. Ancorada num referencial marxista, Virgínia revisita e atualiza o trabalho de Lenin sobre imperialismo e recorre a Gramsci para entender, entre outras coisas, a sociedade civil brasileira. As condições de luta de classe no Brasil contemporâneo e o aprofundamento das relações capitalistas brasileiras, que aconteceu sobre um pano de fundo de expropriações intensificadas, também são um pano de fundo do livro.Acesse o Livro na íntegra

Chamam-na democracia. E não é!

Se não me deixas sonhar, não te deixarei dormir
“Quem dita as regras do jogo são formidáveis corporações econômico-financeiras”, diz escritor Carlos Taibo à Puerta del Sol ocupada
Por Carlos Taibo | Tradução: Luis F. C. Nagao
Nós, que estamos aqui, somos certamente, pessoas muito diversas. Temos projetos e ideais diferentes. Já conseguimos, contudo, nos colocar de acordo em um punhado de ideias básicas. Tentarei resumi-las de maneira muito rápida.
Primeira. Chamam-na democracia e não é. As principais instituições e, com elas, os principais partidos têm mostrado enorme capacidade para funcionar à margem do ruído incômodo que emite a população. Os dois partidos mais importantes, em particular, encenam há tempos uma confrontação aparentemente dura, que esconde, em essência, uma identidade de ideias. Um e outro mantêm em suas fileiras, por certo, a pessoas de moralidade mais que duvidosa. Não é difícil adivinhar o que há por trás: na realidade, quem dita as regras do jogo são formidáveis corporações econômico-financeiras.
Segunda. Somos vítimas com frequência de grandes cifras que nos são impostas. Em maio de 2010, por exemplo, a União Europeia exigiu do governo espanhol que reduzisse em 15 bilhões de euros os gastos públicos.
Para compreender, vale a pena uma rápida comparação com outras cifras. Há alguns anos, esse governo espanhol que acabo de mencionar destinou, a princípio, 9 bilhões de euros ao saneamento de uma única instituição de poupança, a de Castilha-La Mancha, que estava à beira da falência. Estou falando, portanto, de uma cifra que se aproximava a dois terços da exigida em cortes pela União Europeia. Durante dois anos fiscais consecutivos, esse mesmo governo ofereceu 400 euros a todos os que fazemos uma declaração de renda. A todos o mesmo, diga-se de passagem: do senhor Botín1 ao cidadão mais pobre. Segundo estimativas, esse presente custou, a cada ano, 10 bilhões de euros. Estou falando do mesmo governo, que se autointitula socialista, que não vacilou em suprimir o imposto sobre patrimônio (que pela lógica incide sobre os ricos), enquanto   incrementava outro tributo, o IVA2, que castiga os pobres. O mesmo governo, por fim, que nada faz para lutar contra a fraude fiscal e que mantém a legislação mais frouxa da União Europeia no que toca a evasão de capitais e paraísos fiscais.
Terceira. Se há um deus que adora políticos, economistas e muitos sindicalistas, esse deus é o da competitividade. Qualquer pessoa com cérebro sabe, contudo, em que se traduziram, para a maioria dos que estão aqui, os formidáveis lucros nos últimos anos, em matéria de competitividade: salários cada vez mais baixos, jornadas de trabalho cada vez mais prolongadas, direitos sociais que retrocedem, precariedade por todas as partes.
Não é difícil identificar as vítimas de tanta miséria. A primeira a são os jovens, que engrossam maciçamente nosso exército de reserva de desempregados. Se não houvesse muitas tragédias por trás, seria divertido examinar esta evolução terminológica, que há cinco anos criou a expressão mileuristas3 para retratar uma situação delicada. Hoje, somos tentados a falar em quinhentoseuristas e amanhã, se as coisas persistirem como vão, seremos obrigados a inventar trezentoseuristas.
A segunda vítima são as mulheres, sempre com os piores salários e condenadas a ocupar as escalas inferiores da pirâmide produtiva, muitas vezes obrigadas a fazer o trabalho doméstico. Uma terceira vítima são os esquecidos de sempre: os anciãos, ignorados em particular por esse dois maravilhosos sindicatos, Comissões Operárias e UGT, sempre dispostos a firmar o infirmável. Não quero esquecer, um quarto e último lugar, nossos amigos imigrantes, convertidos, segundo as conjunturas, em mercadorias de reposição. Estou falando, ao fim e ao cabo, de uma pequena minoria da população: jovens, mulheres, anciãos e imigrantes…
Quarta. Não quero deixar no esquecimento os direitos das gerações vindouras e, com eles, os das demais espécies que nos acompanham no planeta Terra. Digo-o porque neste país confundimos há muito crescimento e consumo, por um lado, com felicidade e bem-estar, por outro. Falo do mesmo país que permitiu, orgulhoso, o enorme aumento de sua pegada ecológica e a ruptura de precários equilíbrios ambientais. Aqui estão, para testemunhá-lo, a idolatria do automóvel e de sua cultura, esses maravilhosos trens de alta velocidade que permitem que os ricos se movam com rapidez enquanto deterioram-se as alternativas de transporte ao alcance das classes populares, a destruição talvez irreversível, de nosso litoral ou, para não esquecer, a dramática desaparição da vida rural. Nada retrata melhor onde estamos que a posição da Espanha diante do aquecimento global. Estamos no último vagão da União Europeia, com um governo que alimenta a vergonhosa compra de cotas de contaminação em países pobres que não estão em condições de esgotar as suas.
Quinta. Entre as reivindicações levantadas pela plataforma que promove estas manifestações e concentrações, uma refere-se expressamente à urgência de reduzir o gasto militar. Parece de grande pertinência, ainda mais porque, nos últimos anos, pudemos comprovar como nossos diferentes governantes rebaixaram de maneira muito sensível a ajuda ao desenvolvimento. Nunca será demais repetir: o momento mais tétrico de nossa crise nos coloca num cenário claramente preferível ao momento mais confortável da situação da maioria dos países do Sul.
Volto, contudo, ao gasto militar. Este último, visivelmente subestimado, responde a dois grandes objetivos. O primeiro é manter a Espanha no núcleo dos países poderosos, com os deveres correspondentes, em matéria de apoio às guerras de rapina global que os Estados Unidos lideram. O segundo vincula-se com a vontade de preservar franco apoio ao que fazem tantas empresas espanholas no exterior. Alguém já teve notícia de que algum porta-voz do Partido Socialista ou do Partido Popular se atreveu a criticar, ainda que levianamente, as violações de direitos humanos básicos praticadas por empresas espanholas na Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Argentina ou Brasil?
Acabo. Gostaria nestas horas de recordar alguém que nos deixou em Madri, na última terça-feira. Falo de Ramón Fernández Durán, que iluminou nosso conhecimento no que respeita às misérias do capitalismo global e nos alertou sobre o que nos espera nesta verdadeira idade das trevas em que, se não lutarmos, entraremos a força. Não me ocorre melhor maneira de fazê-lo que resgatar uma frase repetida muitas vezes por meu amigo José Luis Sampedro, cuja saudação escutaremos, por certo, dentro de uns minutos. A frase em questão, que reflete com muita clareza nossa intenção dessa tarde, foi pronunciada por Martin Luther King, o principal animador do movimento de direitos civis nos Estados Unidos, cinquenta anos atrás. Diz assim: “Quando refletirmos sobre nosso século, o que nos parecerá mais grave não serão os urros dos maus, mas o silêncio dos bons”. Obrigado por terem me escutado.

1 Referência a Emílio Botín, o principal acionista do grupo financeiro Santander – nota do tradutor
2 Semelhante ao ICMS brasileiro, o IVA incide sobre o preço das mercadorias, independentemente da renda de quem as adquire. Por isso, é insignificante para os endinheirados e onera os monetariamente pobres – nota do tradutor
3 O termo mileuristas designa, na Espanha, profissionais qualificados forçados a aceitar empregos precários, em que recebem em torno de mil euros – nota do tradutor.

Espanha: multidão agregada à Porta do Sol conclama Chavez

A multidão que ocupa todas as praças da España, INDIGNADOS cansados do bipartidarismo..., exigem a presença do líder latinoamericano Chávez, para que lhes dé una palestra de como fez na Venezuela…

José Varela | FUNDALATIN | 27-9-2011

“Sem panfletagens políticas, que Chávez venha explicar suas ações de governo, emm La Puerta De Madrid” disse uma participante…
“Queremos o que não se calou” falava uma senhora com cartazes com ares de basca…
“Que o ditador ou animal, como dizem Rajoy, Aznar e Zapatero, de Chávez, que venha”…
A multitdão que enche todas as plazas da España, repleta de cansados do bipartidarismo e dos políticos que só governan para as elites, os donos do grande capital, transnacionais e consorcios, exigem a presença do líder latinoamericano, para que lhes fale como vez em seu país...“DE TODO LO QUE HIZO EN VENEZUELA”
Que fale tres dias continuos, se assim o quiser, afirma alguém que, seguramente, sabe das longas falas do comandante.

domingo, 25 de setembro de 2011

Quando os trabalhadores perderem a paciência

Mauro Iasi
As pessoas comerão três vezes ao dia
E passearão de mãos dadas ao entardecer
A vida será livre e não a concorrência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência

A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a pac iência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juizes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências

Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obscelescência
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
“declaro vaga a presidência”!

Extraído de:  Palavras Acesas

Charge: Veto de Obama na ONU

Fonte: Nicarágua Socialista

Aliança de direita impede avanço nos direitos humanos

Acordo com empresários que financiaram ditadura é uma das principais causas do entrave; entidades e ministra defendem abertura de arquivos.
Fonte: mingaudeaco.blogspot.com
Por Lúcia Rodrigues
O Brasil é o país mais atrasado do Cone Sul quando o assunto é direitos humanos. Enquanto Argentina, Chile e Uruguai já condenaram centenas de agentes do Estado que perseguiram, sequestraram, torturaram e assassinaram milhares de ativistas de esquerda durante os anos de chumbo, aqui nenhum repressor sentou no banco dos réus.

O máximo que se conseguiu até agora foi uma sentença da Justiça paulista reconhecendo publicamente o ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo, Carlos Alberto Brilhante Ustra, como torturador. A sentença, no entanto, é apenas declaratória, não tem desdobramento penal. E ele continua solto.

A diferença na condução das questões ligadas aos direitos humanos pelo Brasil e por seus vizinhos é abissal. Na Argentina, por exemplo, já ocorreram mais de 700 julgamentos de militares com condenações, inclusive, à prisão perpétua. Mas qual seria o motivo de tanta benevolência por parte do Estado brasileiro para com seus criminosos de farda? A chave para o enigma deve ser procurada no baú de empresários que financiaram o golpe e sustentaram a ditadura durante mais de duas décadas.

Praticamente todas as empresas envolvidas com a repressão continuam atuando no mercado. Agora não mais financiando os fios elétricos que descarregavam voltagem no corpo dos “subversivos” nos anos 60 e 70. Os tempos são outros. Uma demão de verniz conferiu a um passado sombrio o brilho da plasticidade democrática. Esses empresários continuam doando polpudas quantias, mas agora na forma de contribuição declarada ou de recursos não contabilizados, como é conhecido popularmente o famoso caixa dois das campanhas eleitorais.

Paralelamente à atividade econômica que continuaram desenvolvendo, se converteram nos grandes timoneiros do rumo político do país. Como se sabe generosidade tem limites. E apoio é via de mão dupla: pressupõe contrapartida. Lógico supor, então, que uma das imposições a seus financiados é para que estes impeçam qualquer possibilidade de envolvimento de seus nomes e da suas empresas em escândalos dessa magnitude.

Não é difícil imaginar o desgaste, que uma revelação dessa envergadura, provocaria na imagem de seus produtos. “Fica difícil justificar. A Folha perdeu leitores quando falou em ditabranda. Quando os empresários dão dinheiro (para campanhas políticas), estão dizendo: ‘limpa minha barra, senão não dou mais’. A lógica da rede de cumplicidade é essa. É um cala boca”, ressalta Ivan Seixas, representante do Fórum de Ex-Presos Políticos.

Cumplicidade

“A ditadura montou essa rede de cumplicidade quando montou a caixinha para a repressão”, frisa. Ivan destaca a Folha de S. Paulo, Rede Globo, o Grupo Ultra, Pão de Açúcar e as empreiteiras Camargo Correa e Andrade Gutierrez, como algumas das companhias que contribuíram com a repressão. “Essas empresas deram grana. Se o torturador Ustra sentar no banco dos réus vai alegar que, além de cumprir ordens, foi financiado por empresários”, destaca o ex-preso político.

sábado, 24 de setembro de 2011

Cuba: território livre da desnutrição infantil


O relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), intitulado Progresso para as Crianças, revelou que existem, hoje, no mundo 146 milhões de crianças menores de cinco anos com desnutrição infantil grave. Segundo o documento, 28% destas crianças é da África, 17% do Oriente Médio, 15% da Ásia%, 7%, na América Latina e Caribe, 5% da Europa Central e 27% de outros países em desenvolvimento.
Cuba, no entanto, não tem esses problemas. É o único país da América Latina e Caribe onde a desnutrição infantil foi eliminada, graças aos esforços do governo para melhorar a nutrição especialmente dos grupos mais vulneráveis​​. Além disso, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) também reconheceu Cuba como o país com mais progresso na América Latina na luta contra a desnutrição.
Isso ocorre porque o Estado cubano garante uma cesta básica de alimentos e promove os benefícios da amamentação, mantendo-se no quarto mês de vida o aleitamento materno, exclusivo e complementar com outros alimentos até os seis meses de idade. Além disso, é feita a entrega diária de um litro de leite para todas as crianças com até sete anos de idade. Junto com outros alimentos, como geléias, sucos e carnes, que são distribuídos de forma eqüitativa.
Não causa estranheza o fato de que, há muito, a Organização das Nações Unidas (ONU) coloca o país na vanguarda do cumprimento do desenvolvimento humano.
E tudo isto apesar dos 50 anos de bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos.
Fonte: Gramma de 21/09/2011