Reprodução
06/03/2014
Maíra Gomes
De Belo Horizonte (MG)
De Belo Horizonte (MG)
Após a morte
do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, da TV Bandeirantes, atingido na cabeça
por um rojão durante protesto contra o aumento da passagem de ônibus, no Rio de
Janeiro, iniciou-se uma verdadeira caça às bruxas no país e passou a ficar mais
frequente o pedido por mais segurança.
O Governo
Federal anunciou a presença das Forças Armadas na Copa do Mundo se necessário.
A presidenta Dilma Rousseff disse que foram investidos R$ 1,9 bilhão para
estruturar o sistema de segurança e para coibir atos de vandalismo. Em Minas
Gerais, o governador Anastasia anunciou o aumento de 800 policias militares nas
ruas de BH e Região Metropolitana, já em vigor, o que totaliza cerca de 7800
PMs no policiamento ostensivo.
Especialista
em Segurança Pública, Robson Sávio aponta que existe uma demanda pelo aumento
da repressão policial no país, capitaneada pela grande mídia. “Isso responde a
uma sociedade patrimonialista, aos donos de concessionárias, bancos e
instituições que foram vitimadas nas manifestações de junho do ano passado”,
aponta Robson, que frisa a inversão do papel da polícia, que deve trabalhar por
garantia de direitos e não da manutenção patrimonial.
Robson
destaca que o problema principal são as lacunas com relação ao mandato policial
no Brasil. “Não existe clareza sobre o que o PM pode ou não fazer, e isso é
resquício do modelo policial adotado durante a ditadura no país”, explica. O
especialista diz que se preocupa com a dificuldade em distinguir, entre os
grupos participantes de uma manifestação, entre os que praticam a violência e
os que não, o que pode gerar uma repressão de forma desmedida.
Integrante
do Comitê Contra a Copa de Belo Horizonte, Fidélis Alcântara compartilha da
mesma preocupação. “A violência vem se acirrando nas ruas e o papel do Estado
tem sido aumentá-la. As forças policias não conseguem conter violência com mais
violência. Na manifestação do dia 22 [de junho de 2013], a polícia veio do
Mineirão até o centro jogando bomba atrás dos manifestantes com o Caveirão”,
declara. Ele aponta que durante as manifestações do ano passado, a grande
maioria dos conflitos violentos começaram depois que a polícia usou a força,
como balas de borracha e bombas de gás.
Preparação para a Copa
A Polícia Militar já está se preparando para a Copa
do Mundo. O Tenente Coronel Alberto Luiz Alves, assessor de comunicação da
PMMG, declarou que a corporação receberá cerca de 10 mil homens durante o
evento, incluindo aqueles que estão na Academia atualmente, e um efetivo que
virá de cidades do interior. Além disso, a corporação contará com o efetivo
especializado, como o Gate, a Rotam, o Choque e a Cavalaria. O Tenente Coronel
diz que as forças estarão trabalhando em locais de concentração de pessoas,
seja os estádios, ou até mesmo shopping ou lugares onde turistas possam
frequentar. “Vamos contemplar tudo, até o pior. Nós não podemos descartar a
possibilidade de manifestações, mas não estamos focados apenas nisso”, declara.
A PM pretende utilizar grande diversidade de
armamento. A novidade são as granadas de tinta. Lançada a cinco ou 19 metros de
distância, ela se parte em pequenos pedaços emborrachados, emitindo uma emulsão
de cor vermelha que vai tingir roupas e pessoas que estiverem em algum
conflito. Os equipamentos convencionais como capacetes, escudos balísticos, gás
e bala de borracha também serão usados. “Faremos o uso de forma diferenciada,
primeiro o diálogo, depois a aproximação”, diz o Tenente.
Para Robson, o uso da violência policial é
compreensível desde que com proporcionalidade, ou seja, quando a polícia está
com o mesmo arsenal bélico que o grupo que tenta coibir. “A perspectiva
da segurança pública é trabalhar para que o caldo não entorne, porque seria
ruim para todo mundo. Obviamente vai ter reação a uma manifestação, mas se
espera que seja na lógica da proporcionalidade”, diz.
Fonte: Brasil de Fato
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