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sexta-feira, 7 de março de 2014

Segurança ou repressão na Copa do Mundo?


Reprodução

06/03/2014

Maíra Gomes
De Belo Horizonte (MG)

Após a morte do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, da TV Bandeirantes, atingido na cabeça por um rojão durante protesto contra o aumento da passagem de ônibus, no Rio de Janeiro, iniciou-se uma verdadeira caça às bruxas no país e passou a ficar mais frequente o pedido por mais segurança.

O Governo Federal anunciou a presença das Forças Armadas na Copa do Mundo se necessário. A presidenta Dilma Rousseff disse que foram investidos R$ 1,9 bilhão para estruturar o sistema de segurança e para coibir atos de vandalismo. Em Minas Gerais, o governador Anastasia anunciou o aumento de 800 policias militares nas ruas de BH e Região Metropolitana, já em vigor, o que totaliza cerca de 7800 PMs no policiamento ostensivo.

Especialista em Segurança Pública, Robson Sávio aponta que existe uma demanda pelo aumento da repressão policial no país, capitaneada pela grande mídia. “Isso responde a uma sociedade patrimonialista, aos donos de concessionárias, bancos e instituições que foram vitimadas nas manifestações de junho do ano passado”, aponta Robson, que frisa a inversão do papel da polícia, que deve trabalhar por garantia de direitos e não da manutenção patrimonial. 

Robson destaca que o problema principal são as lacunas com relação ao mandato policial no Brasil. “Não existe clareza sobre o que o PM pode ou não fazer, e isso é resquício do modelo policial adotado durante a ditadura no país”, explica. O especialista diz que se preocupa com a dificuldade em distinguir, entre os grupos participantes de uma manifestação, entre os que praticam a violência e os que não, o que pode gerar uma repressão de forma desmedida. 

Integrante do Comitê Contra a Copa de Belo Horizonte, Fidélis Alcântara compartilha da mesma preocupação. “A violência vem se acirrando nas ruas e o papel do Estado tem sido aumentá-la. As forças policias não conseguem conter violência com mais violência. Na manifestação do dia 22 [de junho de 2013], a polícia veio do Mineirão até o centro jogando bomba atrás dos manifestantes com o Caveirão”, declara. Ele aponta que  durante as manifestações do ano passado, a grande maioria dos conflitos violentos começaram depois que a polícia usou a força, como balas de borracha e bombas de gás. 

Preparação para a Copa 

 

A Polícia Militar já está se preparando para a Copa do Mundo. O Tenente Coronel Alberto Luiz Alves, assessor de comunicação da PMMG, declarou que a corporação receberá cerca de 10 mil homens durante o evento, incluindo aqueles que estão na Academia atualmente, e um efetivo que virá de cidades do interior. Além disso, a corporação contará com o efetivo especializado, como o Gate, a Rotam, o Choque e a Cavalaria. O Tenente Coronel diz que as forças estarão trabalhando em locais de concentração de pessoas, seja os estádios, ou até mesmo shopping ou lugares onde turistas possam frequentar. “Vamos contemplar tudo, até o pior. Nós não podemos descartar a possibilidade de manifestações, mas não estamos focados apenas nisso”, declara.  

A PM pretende utilizar grande diversidade de armamento. A novidade são as granadas de tinta. Lançada a cinco ou 19 metros de distância, ela se parte em pequenos pedaços emborrachados, emitindo uma emulsão de cor vermelha que vai tingir roupas e pessoas que estiverem em algum conflito. Os equipamentos convencionais como capacetes, escudos balísticos, gás e bala de borracha também serão usados. “Faremos o uso de forma diferenciada, primeiro o diálogo, depois a aproximação”, diz o Tenente. 

Para Robson, o uso da violência policial é compreensível desde que com proporcionalidade, ou seja, quando a polícia está com o mesmo arsenal bélico que o grupo que tenta coibir.  “A perspectiva da segurança pública é trabalhar para que o caldo não entorne, porque seria ruim para todo mundo. Obviamente vai ter reação a uma manifestação, mas se espera que seja na lógica da proporcionalidade”, diz.

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