Como sempre, o crime ronda o Estado brasileiro. No entanto, como um Estado de classe, esta instituição tem livre-passe para a criminalidade.
por Ricardo
Brandt
Uma ordem assinada por um
comandante da Polícia Militar em Campinas (SP) determinando a abordagem de
suspeitos de "cor parda e negra", acusados de praticarem assaltos em
residências em um bairro nobre da cidade, provocou a reação de entidades de
direitos humanos, que denunciaram a PM por discriminação. "A ordem
leva-nos a entender que, se os policiais cruzarem com suspeitos brancos, não
devem desconfiar deles. Se foram pardos e negros, abordem-nos
imediatamente", afirma o diretor presidente da Educafro, Frei David
Santos.
O representante da entidade
entregou na manhã desta quarta-feira para o secretário-adjunto de Segurança
Pública, Antônio Ponte, uma carta em que cobra explicações sobre a ordem
emitida pela PM em Campinas. Pede também dados estatísticos sobre abordagens,
com ou sem mortes, realizadas pelo 8º Batalhão de Campinas - responsável pela
área - para verificar se há prática de racismo nas operações locais. A carta é
endereçada ao governador, Geraldo Alckmin, e ao secretário de Segurança
Pública, Fernando Grella.
No documento, Frei David
solicitou ainda a divulgação de dados étnicos das vítimas de abordagens
policiais registradas como "resistência seguida de morte" no Estado e
nas operações de confronto com membros da facção Primeiro Comando da Capital
(PCC), com base na Lei da Transparência. "É assustador saber que ainda
pode existir racismo dentro da polícia."
Polêmica
O documento que gerou a
polêmica foi uma ordem de serviço assinada pelo capitão Ubiratan Beneducci,
comandante da 2ª Companhia do 8º Batalhão da PM, em Campinas. Na ordem, de uma
folha, assinada dia 21 de dezembro do ano passado, o capitão determina aos
policiais que fazem o patrulhamento em dois bairros da região do Taquaral que
reforcem as operações em um quadrilátero de ruas onde um grupo de criminosos,
com características específicas descritas por moradores, estaria agindo.
Segundo a ordem, os PMs devem
atuar com rigor: "focando abordagens a transeuntes e em veículos em
atitude suspeita, especialmente indivíduos de cor parda e negra com idade
aparentemente de 18 a 25 anos, os quais sempre estão em grupo de 3 a 5
indivíduos na prática de roubo a residência naquela localidade".
"Infelizmente na elaboração do documento, o texto poderia ser mais
contextualizado, deixando claro que aquelas características foram dadas por
representantes da comunidade, que comunicaram a PM da ocorrência de crimes por
um grupo com tais elementos e solicitando reforço policial", explicou o
capitão Éder Araújo, porta-voz da PM.
Segundo ele, a ordem expedida
pelo capitão de Campinas decorre de um ofício enviado para o comando local por
moradores de dois bairros da região do Taquaral. Foram eles, vítimas dos
crimes, que informaram as ações aos sábados de um grupo de três a cinco
pessoas, com idades entre 18 e 25 anos, de cor parda e negra, informou a PM.
"Não se pode falar em discriminação ou em atitude racista. O capitão
Beneducci, que é pardo, emitiu essa ordem com base em indicadores concretos,
ele apenas expôs as características físicas dos suspeitos", afirma Araújo.
Para o representante do
Conselho de Defesa da Pessoa Humana do Estado, Dojival Vieira dos Santos, a
ordem explicita a discriminação por parte da PM. "É um comandante da
Polícia Militar do Estado assumindo uma postura discriminatória e manifestando
explicitamente esses atos nas ações de abordagens." Na carta encaminhada
pela Educafro ao governador, a entidade afirma que compreende "que a
orientação não é governamental", mas que o governo "pode combater com
determinação e direito esta medida aplicada por este servidor policial, mal
formado e não preparado para suas funções de comando". "Queremos que
a polícia se liberte da imagem do cidadão negro como sendo bandido",
completa o documento.
Fonte: Estadão
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