Até agora resistimos
teimosamente. Porém estamos longe de nosso sonho, de atuar de maneira mais
incisiva na formação da classe trabalhadora e na luta ideológica da sociedade
brasileira
Editoral de comemoração dos 10
anos do Brasil de Fato, edição do dia 23/01/2013
O nosso jornal está completando
– dia 25 de janeiro – dez anos de atividades ininterruptas. Todas as semanas,
disciplinadamente, sem nenhuma falha, o jornal foi para as bancas, para os
nossos assinantes, para os cursos de formação e disponibilizado em nossa página
na internet.
Sobreviver dez anos, como
imprensa popular, comprometida com a classe trabalhadora e a visão de esquerda
da luta de classes, é, sem dúvida, uma vitória. Um feito fantástico em qualquer
país do mundo, ainda mais em tempos de neoliberalismo, hegemonia do capital
financeiro e internacional, refluxo do movimento de massas e derrota ideológica
das diversas correntes de esquerda na década de 1990.
Sobreviver, aqui no Brasil, é
um feito ainda maior. A sociedade brasileira está fundada em graves injustiças
histórico-estruturais, que determinam sua condição de desigualdade social e
econômica, injustiças sociais, pobreza material e cultural, violência social, ausência
de direitos públicos e uma democracia burguesa capenga e hipócrita, que nega os
principais direitos humanos e oportunidades à imensa maioria dos seus cidadãos.
Esses problemas estruturais se
caracterizam pela concentração da propriedade da terra e dos bens da natureza
(minérios, florestas, água, energia). Concentração da riqueza acumulada por uma
minoria ao longo de 500 anos. Concentração da renda, pelas graves distorções
que ainda temos ao distribuir a produção entre trabalho e capital. Concentração
do patrimônio das cidades, em que uma minoria controla os melhores edifícios,
condomínios, o transporte público e os espaços da cidade. Ou seja, negam o
direito da ampla maioria da população ter moradia digna e conviver
democraticamente na cidade.
A educação como um direito
fundamental ao conhecimento, se universalizou no ensino fundamental, mas mantém
14 milhões de adultos analfabetos. E abre as portas da universidade para apenas
10% de nossa juventude.
Nossos empregos têm aumentado,
porém cada vez mais precarizados nos direitos trabalhistas. Nos envergonha
sermos o país de maior número de empregados domésticos, sendo que 80% deles não
têm direitos sociais e previdenciários.
A democracia é capenga e se
resume ao direito do povo votar. E o Estado todo poderoso continua sendo “pai e
mãe” dos ricos, que o utilizam para manter privilégios e acessar recursos
públicos na sua acumulação de riqueza, que destina todo ano quase 30% de toda
arrecadação pública para pagamento de juros aos banqueiros. E, entre essas
mazelas, a concentração da propriedade e do direito a comunicação de massa por
apenas sete grupos econômicos, transformou a mídia brasileira num verdadeiro
partido de dominação ideológica burguesa na sociedade. Alem de fonte de
acumulação de capital.
Foi nessas circunstâncias que o
Brasil de Fato sobreviveu dez anos. Um feito heróico, que somente foi possível
porque ao longo desses anos conseguimos manter uma linha editorial fiel à
classe trabalhadora, sem cair no adesismo governamental ou no sectarismo esquerdista,
do estilo “todos estão errados, menos nós”!
Sobrevivemos graças à
fidelidade aos movimentos sociais, populares e sindicais, que lhe deram
sustentação política, organizacional e que o utilizaram como instrumento de
luta ideológica.
Sobrevivemos graças aos
milhares de militantes sociais esparramados pelo país, que de forma voluntaria,
aqui e acolá, o carregam e o utilizam.
Sobrevivemos graças a um
coletivo de profissionais do jornalismo, em várias áreas, que de forma
militante, abnegada, sacrificada, colocou seu trabalho e sua sabedoria a
serviço dos trabalhadores, enfrentando todo tipo de dificuldades.
Enfim, tivemos muitos problemas
e muitas pequenas vitórias. Mas a maior delas é ter sobrevivido, por dez anos.
Nossos desafios
Até agora resistimos
teimosamente. Porém estamos longe de nosso sonho, de atuar de maneira mais
incisiva na formação da classe trabalhadora e na luta ideológica da sociedade
brasileira. Sonhávamos com tiragens massivas semanais, disputar nas bancas e
até transformar-se em diário. Não conseguimos. Fomos boicotados de todas as
formas. Enfrentamos a luta de classes na prática, com boicote de distribuição,
de publicidade e de difusão. Mas sofremos, sobretudo, pelo longo período
histórico de apatia das massas e do refluxo das mobilizações populares, que
poderiam ter retomado com as vitórias eleitorais antineoliberais. Nos
enganamos! Ainda estamos longe do reascenso.
Procuramos fazer edições
especiais, massivas, temáticas ou em disputas políticas contundentes. E nisso
chegamos a ter edições de mais de um milhão de exemplares, que é um feito para
qualquer veiculo de comunicação impresso.
Mas não podemos “chorar o leite
derramado”, como se diz no interior. Precisamos redobrar os esforços, aglutinar
mais energias e pensar o jornal para os próximos dez anos. Em dezembro passado
realizamos uma reunião de balanço, com todas as forças populares que sustentam
o jornal. Decidimos fazer vários ajustes. Entre eles, articular mais as nossas
energias entre o jornal impresso semanal, a página na internet e a
RadioagênciaNP, que passa a se chamar Radioagência Brasil de Fato. Devemos
impulsionar de forma mais sistemática o boletim semanal de notícias, enviado
pela internet para mais de cem mil pessoas, a maioria militantes e formadores
de opinião. Também precisamos ter mais correspondentes nos estados e mais
colados às necessidades comunicacionais dos movimentos sociais.
Planejamos também dar um salto
de qualidade, com um novo projeto gráfico a partir de março, com o formato de
tabloide germânico. Também vamos construir coletivamente, com todas as forças
populares que se interessarem, edição regional do Brasil de Fato, massiva,
semanal, em formato tabloide, para ser distribuído gratuitamente nos centros de
aglomeração de trabalhadores, como metrô, central de ônibus, trens e nas
aglomerações da juventude trabalhadora das grandes cidades. Esperamos que esse
projeto se concretize ainda neste primeiro semestre em algumas capitais
brasileiras.
Temos certeza que, apesar de
todas as dificuldades, poderemos superá-las, avançar para que os meios de
comunicação articulados ao redor do Brasil de Fato tenham vida longa, e
possamos comemorar no futuro, vinte, trinta anos de atividades.
Um grande abraço a cada um e a
todos e todas que nesses dez anos, se envolveram de alguma forma, com o
projeto. Ele somente foi possível, graças à teimosia de vocês.
Longa vida ao Brasil de Fato!
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