Chegamos a uma situação limite.
Somos 68 famílias que, depois
de anos e anos de luta, fomos assentadas num terreno de 104 hectares localizado
entre os municípios de Americana e Cosmópolis. Este terreno pertenceu à família
Abdalla, ricos empresários que perderam o a área durante a ditadura militar por
dívidas trabalhistas.
Em 2006, o presidente Lula e o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) nos instalaram no
Sítio Boa Vista. Desde então, para a consolidação deste assentamento,
depositamos tudo o que tínhamos: nosso trabalho e nossa vida na produção de
alimentos saudáveis, sem o uso de agrotóxicos. Passamos por inúmeras
dificuldades para produzir. Mesmo assim, passo a passo, conseguimos estabelecer
parcerias com mais de 40 entidades e escolas através do Programa Doação
Simultânea. E, hoje, temos orgulho de dizer que somos uma comunidade que
fornece mais de 300 toneladas de alimentos para a região metropolitana de
Campinas.
Após consolidarmos nossas vidas
nesta terra com o suor de anos de trabalho e dedicação, recebemos em maio de
2012 a notícia de que a família Abdalla, aliando-se à Usina Ester, havia
recuperado as terras na justiça e ganho o seu direito de posse. A justiça
federal, então, emitiu um aviso ao INCRA de que deveríamos ser retirados em
prazo determinado, caso contrário, haveria a reintegração de posse do terreno.
O INCRA moveu vários recursos
em vão. Realizamos audiências com os representantes do órgão, que afirmavam que
não sairíamos do assentamento e que, se fosse preciso, seria assinado o decreto
de desapropriação por interesse social. Fizemos reunião com representantes do
governo federal; e estes também garantiram que o problema seria resolvido, sem
que precisássemos deixar nossas casas. No entanto, o tempo passou e nada mudou.
Ao contrário, para a nossa aflição, aproxima-se a data em que assistiremos à
destruição do esforço de toda uma vida: nossas casas, nossas plantações, nossos
sonhos.
Sabemos que todas as
possibilidades jurídicas já foram esgotadas e que o destino de nossas famílias
depende, isto sim, da vontade política de quem pode decidir. Também sabemos que
não nos resta outra alternativa senão um grito de apelo.
Lembramos que há exatamente um
ano, em um quadro bastante semelhante, 1600 famílias foram brutalmente
despejadas da área do Pinheirinho. Um representante político como Lula, que
agora tem a honra de batizar uma instituição que zela pelo “exercício pleno da
democracia e a inclusão social”, não pode permitir que uma situação dessas se
repita.
Lula foi o Presidente da
República que, em 2006, assinou a concessão do terreno do Assentamento Milton
Santos para fins de reforma agrária. Todo processo ocorreu com o seu
conhecimento e do órgão do governo federal responsável pelo assunto, o Incra.
Confiamos que o peso de sua
figura política seja capaz de interceder em favor de nós, assentados, e
estabelecer um diálogo mais direto com a presidente Dilma Rousseff, para que
esta se disponha a nos receber pessoalmente em uma audiência e assine o decreto
de desapropriação por interesse social.
Assentadas e assentados do
Milton Santos
Fonte: Assentamento
Milton Santos
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