O cientista político e professor universitário, João Roberto Lopes Pinto (Foto Henrique Fornazin) |
Estudo aponta quais os principais grupos econômicos que
concentram o poder no país
por Vivian Virissimo,
do Brasil de Fato
Em levantamento inédito, o
Instituto Mais Democracia (IMD) vai revelar na pesquisa “Quem são os
proprietários do Brasil?” os grupos econômicos que são recordistas em
concentração de poder no país. O estudo identifica todas as empresas que se
articulam com as grandes corporações brasileiras: Vale, Gerdau, Votarantim,
JBS, Grupo Ultra, entre outras. Além disso, um ranking vai explicitar nomes e
sobrenomes dos proprietários finais dessa intricada rede de poder empresarial.
Ao mesmo tempo, o instituto vai
mostrar que essas empresas recebem dinheiro público de estatais brasileiras sem
a necessária transparência e controle social. A pesquisa completa será
divulgada no próximo dia 12 de dezembro.
“Quem são as famílias? Quem são
as pessoas? Normalmente se diz que o capitalismo não tem rosto, não tem nome.
Pelo contrário, na maioria dos casos tem nome, sobrenome e endereço. São
pessoas que se beneficiam de toda essa estrutura vigente e inclusive de todo o
recurso público que é carreado através das estatais e do financiamento
público”, explicou um dos coordenadores da pesquisa, o cientista político e
professor universitário João Roberto Lopes Pinto.
Diferentemente de outros
rankings divulgados pelo jornal Valor Econômico e revista Exame, o foco do Mais
Democracia não será mostrar os maiores faturamentos, mas analisar a estrutura
de poder por trás das empresas que se articulam com esses grandes grupos. “Com
outra perspectiva, o ranking da concentração de poder econômico é um paralelo a
esses rankings convencionais, é um ‘contra-ranking’. A primeira diferença é que
vamos explicitar, renomear e colocar novos nomes no debate público com base no
Índice de Poder Acumulado (IPA). E todas as empresas que estão no topo do
ranking são irrigadas pelo dinheiro público”, explicou Pinto.
Geralmente difusas e de difícil
acesso, as informações analisadas pelos pesquisadores constam em uma base de
dados que está sendo construída por uma cooperativa de jovens desenvolvedores,
a Eita – Educação, Informação e Tecnologia para a Autogestão. O ranking está
sendo elaborado com base nos dados de 400 empresas de sociedade de capital
aberto que foram fornecidas para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão
que regula o mercado acionário brasileiro. Além disso, informações disponíveis
nas bases de dados Economática e Econoinfo também serão incorporadas. Dessas
400 empresas iniciais, os pesquisadores já estão monitorando mais de 5 mil
empresas que atuam no interior delas. O instituto tem como referência uma
metodologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Zurich que
realiza o cruzamento do faturamento líquido dessas empresas com dados sobre a
participação acionária dos proprietários.
O pesquisador revelou algumas
empresas que controlam alguns grupos econômicos brasileiros, cujos nomes não
costumam ser divulgados. “Não é Odebrecht é Kieppe, não é Vale é Bradesco e
Previ, não é JBS é FB Participações, que também controla a Vigor Foods, empresa
que controla todo o setor lácteo no Brasil, não é Camargo Corrêa é a Morro
Vermelho”, antecipou Pinto. O pesquisador também revelou que no ranking dos
maiores proprietários, ao lado do homem mais rico do Brasil, o empresário Eike
Batista, está uma das controladoras da Camargo Corrêa, a empresária Dirce
Navarro Camargo, com patrimônio de 13,1 bilhões de dólares.
O instituto costuma utilizar o
caso da Odebrecht para mostrar o emaranhado de articulações empresariais que
compõem os grandes grupos econômicos no modelo capitalista contemporâneo. “A
Braskem e a construtora Odebrecht são controladas pela Odebrecht Participações,
que por sua vez é controlada pela Odebrecht Sociedade Anônima, que por sua vez
é controlada pela Odebrecht Investimento, que por sua vez é controlada Kieppe
Participações, depois Kieppe Patrimonial. Ou seja, Kieppe Patrimonial é o nome
da Odebrecht e por trás da Kieppe está a família Odebrechet”, explicou João
Roberto.
Participação
“O enfrentamento das
corporações é um debate necessário, isto está no limite da democracia contemporânea.
Com este grau de concentração, não se pode mais tratar essas empresas como se
fossem atores individuais. São atores complexos que envolvem atores públicos. E
essa rede complexa ninguém conhece ou discute”, afirmou o cientista político.
Em 2013, o Instituto Mais
Democracia pretende cruzar o ranking dos proprietários com os dados oficiais
sobre financiamento de campanha das últimas eleições. A ideia é analisar o
retorno que essas empresas têm com a eleição dos políticos. Além disso, uma plataforma
colaborativa com todas as informações utilizadas pelos pesquisadores serão
disponibilizadas para a sociedade.
Fonte: Revista
Forum
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