Vista aérea do Maracanã |
Por Jamil Chade
16/10/2014
Três meses depois do final da
Copa do Mundo, um estudo encomendado por entidades europeias alerta que o
Brasil "perdeu o Mundial" fora de campo. Um levantamento realizado
pela instituição suíça Solidar, em parceria com a entidade alemã Institut
Heinrich Böll concluiu que cidades-sede aumentaram suas dívidas e o estado foi
obrigado a arcar com parte importante dos custos do Mundial, enquanto a Fifa
deixou o País com um lucro recorde e sem pagar impostos.
Em novembro, a Fifa voltará ao
Brasil para uma reunião para avaliar o impacto da Copa. Se não existe dúvida de
que, em campo, o Mundial foi um sucesso, a avaliação sobre o impacto para o
País divide opiniões entre especialistas e governo, que destaca o fluxo de
torcedores e o impacto positivo para a imagem do País. Para membros da Fifa, o
impacto real da Copa no Brasil apenas será conhecido em um prazo de cinco anos.
Mas essa não é a avaliação das
entidades sociais europeias. "O apito final foi dado há três meses. Mas
foi o Brasil quem perdeu", alertou a Solidar, entidade com 70 anos e que
trabalha no campo do desenvolvimento social. "Os brasileiros pagaram um
preço alto pela Copa", declarou a entidade. "Foi o Mundial mais caro
de todos os tempos - US$ 13,3 bilhões - aproximadamente R$ 33 bilhões - e
afetado por violações de direitos humanos", indicou.
De acordo com o levantamento,
os investimentos do setor privado não conseguiram atender aos projetos
inicialmente propostos, principalmente no setor de transporte. O resultado foi
"uma redução dramática" no número de iniciativas. "Vários
projetos de construção foram anulados - especialmente um terço dos projetos de
transporte público previstos - ou ficaram para depois da Copa", indicou.
O documento também mostra que o
endividamento das cidades-sede chegou a aumentar em 51%. Mesmo cidades que não
receberam jogos tiveram um aumento da dívida de 20%.
No que se refere aos estádios,
a constatação do levantamento é de que o preço médio das arenas ficou duas
vezes superior aos estádios da Alemanha em 2006 e África do Sul em 2010. Por
assento, a Copa custou em média R$ 15,41 mil no Brasil. Na Alemanha, ela saiu
por R$ 8,95 mil e R$ 8,2 mil na África do Sul.
O estudo também acusa os
organizadores de terem erguido quatro "elefantes brancos". "São
estádios superdimensionados e praticamente inutilizados".
O impacto sobre os vendedores
ambulantes teria sido importante. Dos 350 mil vendedores nas 12 cidades que
acolheram jogos, apenas 4 mil deles puderam trabalhar nas redondezas das
arenas. "Os mais pobres no Brasil perderam sua fonte de renda",
alertou. O estudo também estima que 250 mil pessoas em todo o País foram
desalojadas durante sete anos de obras, "frequentemente sem
compensação".
Outro aspecto foi a
"repressão contra manifestantes". "A militarização fez parte das
tristes consequências deste Mundial", disse.
FIFA - Diante de um
"resultado desastroso", as entidades querem que a Fifa modifique a
forma de organizar os torneios no futuro. "A Fifa obteve um lucro recorde
e solicitamos à entidade de assumir no futuro de forma séria suas
responsabilidades na qualidade de instituição organizadora", declarou.
Segundo o levantamento, a Fifa
teria uma renda recorde que poderá variar entre R$ 10 bilhões e R$ 12,5 bilhões
por conta do Mundial. Os lucros seriam de cerca de R$ 7,5 bilhões.
"É escandaloso que a Fifa
consiga fazer com que os custos sejam assumidos pelo estado brasileiro, mas que
mantenha os lucros", declarou Joachim Merz, representante da Solidar
Suisse. Para ele, em futuros Mundiais, a Fifa precisa exigir que os países se
"comprometam e respeitar os direitos humanos, as normas internacionais de
trabalho, acabar com privilégios fiscais e considerar os trabalhadores do setor
informal".
Fonte: Yahoo
Esportes
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