João Lyra (PTB-AL) declara ter
R$ 240 milhões; 18 dizem não ter nada.
Thiago Reis
05/10/2010
A Câmara dos Deputados eleita
neste ano e que tomará posse em 2011 terá 194 milionários, mais de um terço da
Casa, composta por 513 parlamentares. É o que aponta levantamento feito pelo G1
com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O número de políticos
que declara ter patrimônio superior a R$ 1 milhão cresce a cada legislatura.
Eram 165 na eleição passada; 116 em 2002.
O eleito mais rico é o usineiro
João Lyra (PTB-AL). Ele declara ter R$ 240 milhões, o equivalente a 1/5 do
patrimônio de todos os eleitos da nova Casa (R$ 1,2 bilhão). Constam da
declaração empreendimentos comerciais, terrenos e a Usina Laginha (avaliada em
R$ 196 milhões). Segundo a assessoria de imprensa de Lyra, ele está em viagem e
não foi encontrado para falar.
Entre os 25 mais ricos há
apenas uma mulher. Dona Íris (PMDB-GO), que em 2002 não havia declarado nem um
bem sequer, hoje é a sexta pessoa mais rica: R$ 14 milhões. Entre os bens há
11.994 cabeças de gado, totalizando R$ 8,4 milhões. Ao G1 a deputada diz que
neste ano fez uma declaração conjunta com o marido, o também político Íris
Rezede, que está no segundo turno na disputa ao governo de Goiás.
Para ela, no entanto, o alto
patrimônio não revela "nada". "Isso não tem nada a ver com o
caráter, com a postura, a atitude do político", afirma. "Estou na
política há 40 anos, já tinha uma vida confortável antes de entrar nela. Além
disso, lutei contra a ditadura, me mobilizei pelas Diretas Já e faço um
trabalho na área social desde que fui primeira-dama de Goiânia ainda novinha,
com 20 anos."
"Há muita gente com posses
que quer ajudar as pessoas. E tem muita gente com menos dinheiro que não tem o
mesmo comprometimento", diz Íris.
Para a cientista política Vera
Chaia, coordenadora do programa de pós-graduação em ciências sociais da PUC-SP,
a “elitização da Casa” é decorrente de “campanhas cada vez mais caras”. “Não é
qualquer um que vai conseguir se eleger. É preciso ter uma base de sustentação,
dinheiro para participar da disputa”, diz.
O patrimônio médio dos
deputados é de R$ 2,4 milhões. Apesar disso, há entre os eleitos aqueles que
digam não ter nenhum bem em seu nome. São 18 nessa situação.
Tiririca (PR-SP) é um deles. O
deputado mais bem votado do país foi, inclusive, denunciado pelo Ministério
Público de São Paulo sob acusação de falsidade ideológica, suspeito de ter
transferido os bens para terceiros. Tiririca nega e garante não ter bem nenhum.
Bancadas
Entre os partidos, o PMDB é o
que mais tem deputados com R$ 1 milhão ou mais (36). O DEM, até então campeão,
aparece em segundo, com 28. O PSDB conta com 25 parlamentares. O PT, apesar de
conquistar a maior bancada da Casa, só figura no sexto lugar, com 11 dos 88.
PMDB é o que mais tem milionários.
Já São Paulo manterá o status
de estado com mais milionários: 31. Minas Gerais aparece logo atrás, com 25. O
Paraná terá 18 e a Bahia, 17. A exemplo de 2006, só o Amapá não contará com
nenhum deputado com patrimônio superior a R$ 1 milhão.
Perfil
A Câmara terá mais homens, na
faixa dos 51 anos, casados e com superior completo. Neste ano, mais da metade
dos eleitos declara a política como profissão – um dado crescente. Em 2010, são
268 “deputados”, 11 “vereadores” e três “senadores”.
“A tendência é essa mesmo”, diz
Vera Chaia. “Há uma classe dos políticos profissionais. Muitos não entram com a
vontade de mudar. É apenas um legado de família.”
Em relação ao número de
mulheres (há uma a menos desta vez), a deputada Íris Rezende credita a culpa,
em parte, aos partidos políticos. E diz que falta ousadia para algumas mulheres.
"Não é por decreto que vai se ampliar o número de mulheres na política.
Mas acredito que uma reforma política poderá colocar essa discussão. Faz tempo
que ouço aquela história de 'política é para homem'."
Na comparação com a legislatura
passada, há uma pequena queda na instrução dos eleitos. São 12 políticos a
menos com uma universidade concluída (401 no total) e oito a mais com apenas o
ensino fundamental (completo ou incompleto).
Em relação às profissões,
ocupam lugar de destaque os empresários. São 36 (três a mais que em 2006). Em
compensação, há menos advogados, médicos e engenheiros.
Os deputados do PT serão
maioria na Casa: 88. Já o PMDB será representado por 79 parlamentares. PSDB e
DEM, na oposição, aparecem com 53 e 43, respectivamente.
Fonte: G1
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