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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

‘O SEQUESTRO’ DO MEU DIREITO DE FAZER A UNIVERSIDADE

Tânia Regina Braga Torreão Sá*
Há alguns dias atrás, quando iniciávamos as nossas atividades do 2º semestre letivo 2011.2, meus olhos foram enganados por uma mensagem de boas vindas. Enganados porque ainda compondo a paisagem[1], isto é, me aproximando lentamente da tal da mensagem e sem prestar atenção direito no responsável pela sua emissão, pensei tratar-se de uma forma calorosa de recepção que todos nós, docentes, discentes, funcionários e prestadores de serviço, no meu entender, merecíamos receber dos administradores dessa instituição...mas, meus olhos me enganaram porque na realidade, os emissores dessa mensagem, apenas anunciavam que haviam conquistado o meu território e que a partir de agora, eu, bem como, todos que a compõem a Universidade e que realmente fazem valer o sentido de sua existência, que é produzir dissenso, estavam rendidos: haviam seqüestrado de nosso direito de nela estar, para promover a crítica às certezas...porque a certeza, tem seu lugar de destaque e esse espaço certamente não é a Universidade.
Mas que mensagem era essa?: Tratava-se de uma faixa colocada na entrada do Campus Universitário da UESB/Jequié, por uma tal Aliança Bíblica Universitária que de forma despudorada e acintosa, inclusive, anunciava o dia e hora de vilipêndio do meu direito de produzir dissenso, no espaço construído para essa finalidade. E para reforçar ainda mais o meu sentimento de desterritorilização, os encontros da tal Aliança Bíblica se realizam bem embaixo da janela da sala aonde dou aulas. E o que me parece curioso em tudo isso é que essa apropriação vergonhosa, constrangedora não provoca o debate. O que me leva a conjecturar: será que de tão aviltados pela perda de direitos elementares, nossa capacidade de produzir a crítica está sendo minada pela recorrência dos sucessivos descasos? Porque não é possível silenciar ante tamanha agressão.
* Professora do DCHL/UESB.
Para ler o texto na íntegra, clicar Aqui.

4 comentários:

Jackson Oliveira disse...

Creio que para que realmente haja um espaço democrático é necessário o debate, a exposições e confronto de opiniões e argumentos. Não acredito que um grupo religioso que se reúna dentro da universidade venha causar grandes males desde que, exista dentro desses grupos o debate, e abertura para questionamentos e opiniões contrárias se manifestarem. Se o espaço for aberto para um grupo cristão, todas as outras religiões também devem compartilhar do mesmo espaço para que não haja proselitismo.

Quando eu cursava o ensino médio, eu tinha que passar pelo constrangimento de participar obrigatoriamente de orações antes do começo das aulas. Detalhe, eu estudava em uma instituição FEDERAL (CEFET-BA, hoje IFBA), mas mesmo assim, alguns professores e alunos se achavam no direito de impor a sua religião dentro da sala de aula, e ai de quem os questionasse ou discordasse do que estava acontecendo.

Caso haja reuniões de grupos religiosos dentro da universidade, é necessário que exista bom senso por parte desses grupos principalmente no que se refere a escolha do local das reuniões, pois embaixo de uma sala de aula isso é inadmissível.

O espaço universitário é um espaço para a crítica e para o debate e não do proselitismo religioso ou imposição de ideias.

Rubens Mascarenhas disse...

Caro Jackson, obrigado pela contribuição ao debate. A matéria é assinada pela professora, que, naturalmente, deve responder a seu comentário.
Moderador

Rubens Mascarenhas disse...

Jackson,

Concordo com boa parte dos seus argumentos e fico muito feliz que o texto tenho instigado o debate, porque quanto trago esse assunto à baila, a última das coisas que eu desejo buscar e espero encontrar é o consenso. E por que? o porque o consenso é corrosivo à militância das ideias, que eu enquanto intelectual, preciso ter. O consenso, porém, não será desterritorializado. Ele tem um palco privilegiado e esse certamente não é a Universidade: para mim esse (palco de consensos), de crença, de fé são os terreiros, as igrejas, os templos, as sinagogas. Não posso concordar, no entanto, que a entrada da pregação religiosa dentro da Universidade "não cause grandes males". Eu tive, durante a minha infância e adolescência uma formação católica muito forte: na minha escola rezávamos 3 orações todos os dias antes de entrar nas salas e meu pai nos impingia, a mim e a mais duas, a ida a 3 igrejas por domingo, antes de nos levar a praia. Rebelei-me é bem verdade, porque via muita carola recusar dar esmola a meninos de rua após proclamar minutos antes, que cumpriria os desígnios do filho de Deus "amar ao próximo como Ele nos amou". E não me parece que nas outras as carolas, os padres ou pastores sejam tão diferentes assim. Conheço algumas religiões por dentro e não encontrei, em nenhuma delas, sinal algum de fraternidade, de amorosidade. Mas essa é outra história, me desculpe... Voltando a discussão central... para mim, não se trata de abrir espaço para essa ou aquela religião, mas se trata sim, de pensar a Universidade como um espaço de poder, que se vê ameaçado de destruição, de perda de sentido, se dentro dela a verdade se tornar imperativa. A religião pode entrar na Universidade sim, desde que ela se revista de um cunho científico, essa é a minha opinião: com a teologia não é assim? Não tenho nada contra isso, agora pregação já é demais. Eu mesma faço parte de uma grupo de Pesquisa em Ciências da Religião. Fico pensando no que a Universidade se transformou hoje!!! Tristemente em um lugar de proclamação de verdades, quando o que sustenta a sua existência é lá, podemos proclamar a dúvida que quisermos. E para finalizar, leitor respeitoso, vou lhe convidar a um exercício de reflexão que eu mesma utilizei no texto: se pense enquanto cientista, proclamando a minha verdade sobre como Deus criou o mundo no púlpito de uma igreja? Que eco teria a sua voz? Você não seria excomungado? Estamos numa guerra, caro leitor, a cada dia temos - nós intelectuais - perdido mais espaços para proclamar que tudo no mundo é movente. Por que perder mais esse. E só para se vc ter uma ideia das consequências dessa intromissão, no meu departamento, tivemos de brigar e muito para recuperar um espaço da nossa UESB Jequié, aonde uma professora, agora aposentada, simplestemente se apropriou para instalar lá dentro uma capela.

Tânia Torreão.

Jackson Oliveira disse...

Tânia

Acho quue você me convenceu. Refletindo um pouco mais, principlamente em relação aos espaços que temos para o pensamento crítico e divulgação da ciência, é inaceitável que a religião(que é detentora de vários espaços na nossa sociedade como a TV o rádio, etc.) ocupe também um dos poucos espaços destinados a propagação da dúvida que é a universiade.

Sobre a capela dentro de uma universidade pública de um Estado "laico", eu não sei nem o que dizer diante de tamanho absurdo.