A retomada das lutas proletárias e de cunho social mais amplo nestas primeiras décadas do século XXI, por conta antes e acima de tudo, do aprofundamento da crise sistêmica e estrutural do capital, já na sua fase de exaustão e das suas correlatas implicações de ordem política, que se manifestam muitas vezes na superfície dos fenômenos sociais, mas que, acabam por mergulhar nas profundezas das caudalosas águas do leito da ebulição das manifestações insurrecionais e revolucionárias, trazem novas implicações para o desenvolvimento da luta de classes. Muito embora estes movimentos não tenham desaguado para um ambiente por demais característico e próximo de um projeto socialista, que se opõe em formas de organização, respaldada em uma ampla rede de círculos, comissões e conselhos de trabalhadores ou de um Pré-Estado, típico de existência em situações revolucionárias abertas ou situações pré-revolucionárias, a hora é de retomada da luta de classes em outro patamar.
Diante disso, convém analisar o padrão característico básico da militância dos movimentos sociais e da nossa militância em particular. A novidade que se apresenta no padrão da militância é o uso e a intimidade desta principalmente nos setores da juventude e mais próximos dela, com a máquina de computador e a informática de maneira geral, bem como, do uso em abundância do recurso da internet. Talvez seja exagero afirmar que grande parte das mobilizações de massa que estão surgindo no mundo tenham sido articuladas pela internet, mas, sem sombra de dúvida, ela tem facilitado este processo.
O fato é que o uso cada vez mais amplo de forma horizontal da informática possibilita maior intercâmbio, articulação e propaganda. Ainda assim, a internet não se caracteriza enquanto um recurso seguro e tem-se mostrado bastante vulnerável ao uso da espionagem e do controle. Muito embora, há quem afirme ser a internet um instrumento incontrolável do ponto de vista da sua totalidade.
Podemos dizer, sem medo de errar, que o uso do recurso, que é considerado uma das principais transformações ocorridas no mundo da produção e do trabalho, a revolução digital do microchip, não só veio a criar um novo militante político, como também, tem patrocinado inúmeras possibilidades para esse militante. No entanto, isso não é garantia de antemão, para uma atuação eficiente e suficiente para a ação de massa, em uma perspectiva de transformação social. Neste sentido, não se pode dizer que um militante internauta desenvolva em tempo hábil todas suas possibilidades, com o simples manejo e adestramento da máquina. É preciso, portanto, muito mais que um ato técnico e operacional para se forjar um verdadeiro militante.
Às vezes, temos a sensação de que as explosões de massa que hora ocorrem derivam de estruturas organizacionais sofisticadas, porém, sem um núcleo polarizador dirigente. Mas, esta é uma sensação superficial e falsa. Também se poderia dizer que estes movimentos são fruto da espontaneidade das massas puro e simplesmente. Na verdade, o conjunto do movimento de massa conta, na presente fase do desenvolvimento da luta de classes, antes e acima de tudo de um fator consciente, que nem de longe margeia o espontâneo. Mas que brota do processo ontológico e gnosiológico, em ebulição, pelo qual fervilha a produção do conhecimento humano, em especial, da classe operária, do seu processo histórico e da sua memória social.
Assim, na garimpagem de novos militantes para a causa socialista, é preciso sempre levar em conta que existem pedras preciosas em estado bruto que jamais foram encontradas. Como diamantes incrustados nas profundezas da terra, para além do subsolo e próximo ao núcleo, onde o desenvolvimento técnico não se desenvolveu o suficiente para a sua extração. É destas pedras raras, ou melhor, militantes, que devemos andar atrás. E isso, nem sempre, será encontrado em tela de computador, mas sim, nos ambientes vivos de arrojos e confrontos de classes. Às vezes, quem sabe, por um destes “toscos” que não dominam todas as possibilidades da máquina.
Fonte: Boletim Germinal OPOP
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