O Encontro Internacional de Blogueiros, realizado em Foz do Iguaçu, deixa claro que não estamos diante de um movimento homogêneo e que a comunicação está em permanente mutação
Por Luis Nassif
O 1o. Encontro Internacional dos Blogueiros, em Foz do Iguaçu, pode ser considerado um marco na história da blogosfera. Vieram blogueiros de mais de 15 países e alguns analistas de renome internacional.
Participei da mesa de abertura, ao lado do porta-voz do WikiLeaks Kristinn Hrafnsson e do criador do Le Monde Diplomatique Ignacio Ramonet.
Dias antes surgiram notícias de que o Wikileaks fecharia as portas, em função do bloqueio econômico que tem sofrido de instituições financeiras internacionais, que praticamente o impede de receber doações. Hrafnsson explicou que o site está procurando alternativas tanto financeiras quanto tecnológicas para continuar seu trabalho.
No dia 28 de novembro abrirão novamente os sistemas para receberem informações de forma segura.
Hrafnsson se disse decepcionado com a parceria firmada com grandes jornais internacionais. Seria a maior aliança midiática da história, um grande jornal em cada grande país. Mas a experiência terminou por não ser bem sucedida. Não receberam suporte adequado nem de alguns campeões da democracia, como The New York Times e The Guardian, disse ele.
Mesmo assim, considera que os documentos ajudaram a desvendar uma das maiores tramas midiáticas da história: os falsos argumentos das armas de destruição de massa, que levaram à guerra do Iraque.
Um dos principais pensadores mundiais sobre mídia, o francês Ramonet não foi bem aproveitado. Merecia ser desafiado com um tema específico sobre os novos tempos e ter tido mais tempo. Mesmo assim, passou conceitos relevantes sobre o papel da nova mídia.
De minha parte procurei passar a seguinte visão.
Não se pode falar em blogueiros como um movimento homogêneo. Tem blogueiros de todos os extratos e linhas políticas. Há um certo movimento blogueiro, primo-irmão do movimento do software livre, com características libertárias. Lembram um pouco os antigos anarquistas. São contra todas as formas de Estado, mas também contra partidos políticos, contra a velha mídia. Acreditam no trabalho colaborativo e na afirmação pessoal de cada um perante o grupo. Mas são apenas um grupo em meio a uma variedade cada vez maior.
Ramonet lembrou que as formas de comunicação estarão em permanente mutação. Hoje é o Twitter e o Facebook. Amanhã serão novas ferramentas.
Mais importante do que as ferramentas serão as formas de organização da informação.
Hoje em dia já é possível recorrer a uma quantidade enorme de informações não disponíveis em outras épocas. Quer acesso à última coletiva do Banco Central, a uma agência de notícias de graça (Agência Brasil), ao conteúdo de blogs de todas as partes do país, às palestras de determinado seminário, aos vídeos do Youtube? Esse mundo já está disponível.
É enorme a desproporção entre esse novo modelo, ainda verde, caótico, e o velho modelo.
Haverá jogos de aliança fantásticos entre blogues locais, regionais e nacionais, mídia regional e todos os veículos que de alguma forma tenham público e produzam conteúdo. O trabalho colaborativo não permitirá mais veículos “donos” da notícia – no sentido de produzirem uma notícia fechada e ficarem donos absolutos da versão veiculada.
É um mundo novo pela frente, com enormes possibilidades para quem conseguir enxergar o futuro.
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Platéia do Encontro |
Fonte: Outras Palavras
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