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sábado, 5 de novembro de 2011

Em 04/11/1969, Marighella era assassinado em emboscada

Por Milton Pinheiro
Hoje, como sempre nos últimos anos, um grupo de militantes históricos da luta armada, familiares, personalidades da esquerda revolucionária e alguns poucos transeuntes, participaram de um ato na Alameda Marighella, em resgate da memória desse grande dirigente comunista. Digo Alameda Marighella, porque um pequeno comando, bem ao estilo do GTA pensado pelo seu comandante, na madrugada de hoje fez uma justa homenagem, colocando novas placas que substituiram o nome da Alameda Casa Branca, nas diversas transversais.
Era cedo, atravessei a Avenida Paulista e desci pela lateral do Parque Siqueira Campos. Logo na primeira esquina percebi com muita emoção a homenagem simbólica, feita provavelmente por velhos camaradas, na madrugada fria desse histórico 04 de novembro, quando à 42 anos atrás, o aparato fascista da ditadura burgo-militar assassinava, numa emboscada covarde, o comandante de lutas e sonhos.
O ato em si, mantém o mesmo roteiro. A emoção de todos ao redor de Clara Sharf e do pequeno monumento, que fica ao canto do prédio número 815. As flores vermelhas trazidas por mãos que ainda lutam, são colocadas ao pé do monumento. As conversas prosseguem, o ato ocorre, mas hoje, tivemos um dia diferente, afinal, pela ação de um pequeno comando, estávamos todos na Alameda Carlos Marighella.
Dias como este nos faz pensar no nosso papel na história e hoje, lembro-me, da velha camarada Ana Montenegro, primeira mulher exilada pela ditadura militar, dos nossos constantes encontros, na sua casa, ou nos diversos atos que participávamos.  Mas, principalmente das suas lembranças sobre o "mulato baiano", ela que teve sua ficha de filiação abonada por Marighella em 02 de julho de 1945, em Salvador.
A na Montenegro, que de seu exílio em Berlim, recebeu uma trágica notícia, cito aqui a historiadora e poetisa comunista:
Muito cedo, o telefone soou e um amigo francês me dizia: "Mataram um brasileiro que me parece uma pessoa importante, Carlos...
... Carlos...
Que Carlos?
Mari ... dela ...
Marighella?
Sim, isso mesmo!
"Desliguei o telefone. Olhei o outono, lá fora, envolvendo as árvores já meio despidas, o rio, o céu. O trem, os apartamentos novos, os velhos prédios marcados pelo tempo e pela guerra, e os pássaros se preparando para a fuga, em busca do calor. Uma paisagem de sombras. Sem contorno. Sem rosto. Sem nariz. Sem boca. Sem olhos. Uma paisagem amortalhada pelo outono. Uma paisagem que não poderia ser pintada pelos impressionistas.
Naquele dia, um dia de novembro, eu queria enterrá-lo, seguindo a máxima do Evangelho, "deixai que os mortos enterrem os seus mor tos", porque eu morria, chegando o outono. Eu queria também ler o poema que acabara de escrever, mas ele não escutaria, porque há mortos que, mesmo mortos, não estão em seus enterros".
Em seu enterro não havia velas:
Como acendê-las sem a luz do dia?
Em seu enterro não havia flores:
Onde colhê-las, nesta manhâ fria?
Em seu enterro não havia povo:
Como encontrá-lo, nessa rua vazia?
Em seu enterro não havia gestos:
Parada inerte, a minha mão jazia
Em seu enterro não havia vozes:
Sob censura, estavam as salmodias.
Mas luz e flor, e povo e gesto e canto
responderão "presente", chegada a primavera,
Mesmo que tardia.
Camarada Marighella, Presente!

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