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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Forbes: "Boom econômico" torna 19 brasileiros em milionários todos os dias

A questão central é: Quantos outros vão parar na miséria por isso? A matéria esquece de frisar que a distribuição de renda no país é a 2ª pior do mundo.
                             


SÃO PAULO – O Brasil tem ganhado, em média, 19 milionários a cada dia desde 2007 e este movimento deve continuar nos próximos três anos, de acordo com reportagem publicada pela “Forbes”.

Segundo a matéria, o aumento no número de milionários no País tem sido impulsionado pelo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e pelas altas taxas de consumo verificadas no Brasil.
A expansão do mercado imobiliário brasileiro também tem ajudado a aumentar a riqueza de parte da população, segundo a reportagem. A Forbes ressalta que os valores dos imóveis dobraram nos últimos anos e podem aumentar ainda mais, especialmente no Rio de Janeiro, que sediará as Olimpíadas de 2016 e parte dos jogos da Copa do Mundo de 2014.

Altos salários
Os altos salários recebidos por executivos e profissionais que atuam no setor bancário também são apontados pela Forbes como um dos responsáveis por este aumento da riqueza. A publicação cita declarações do chefe de operações da portuguesa Millenium BCP, Guilhermo Morales, dadas durante uma conferência de bancos latino-americanos.
De acordo com ele, é comum que diretores de bancos de investimento brasileiros recebam bônus de US$ 539 mil (R$ 1 milhão) anuais nos dias de hoje, com um salário médio US$ 75 mil por ano. "Eu acho que esta tendência continuará durante os próximos três anos, mas não vejo isso durar para sempre. Afinal, há um limite para tudo ", ressaltou.

Dados
A estatística sobre o número de milionários foi calculada com base em todas as riquezas em conta do indivíduo, incluindo investimentos, bens, poupança e outros ativos, além de dinheiro em espécie.
Atualmente, o Brasil possui 137 mil milionários – de acordo com a última lista de milionários da Revista Forbes - e cerca de 30 bilionários, com 70% da riqueza do País concentrada em São Paulo e Rio de Janeiro.
Fonte: Brfinance

Repressão nas Universidades dos EUA: O Silêncio dos Reitores

Eles já não são realmente educadores, pesquisadores ou cidadãos de suas comunidades. São agentes contratados pelos painéis de governança corporatizados.


Por Roland Greene [23.11.2011 11h45]
Tradução e nota introdutória de Idelber Avelar

Nota da Fórum: o mundo universitário estadunidense foi sacudido nas duas últimas semanas por duas sequências de acontecimentos que abalaram fortemente a credibilidade de seus administradores. Num dos principais programas universitários de futebol americano, o da Penn State, foi revelado um esquema de pedofilia de mais de quinze anos de duração. O antigo coordenador defensivo, Jerry Sandusky, foi preso pelo abuso de oito garotos. O técnico, Joe Paterno, uma lenda viva comparável ao que era Telê Santana no Brasil, foi demitido depois de 61 anos na instituição. Por outro lado, as imagens de uma série de intervenções policiais violentas, especialmente nos campi da Universidade da Califórnia em Berkeley e em Davis, rodaram o mundo e revelaram a cumplicidade dos administradores universitários com o aparato repressivo. O texto abaixo, de autoria do Prof. Roland Greene e traduzido em primeira mão pela Fórum, faz uma análise dos acontecimentos recentes.

O Silêncio dos Reitores

As imagens da universidade-empresa nesta semana acabaram sendo indeléveis. Depois de vistas, não há como esquecê-las.
Como todo mundo, tenho refletido sobre os acontecimentos em Penn State, Berkeley e Davis que sacudiram o ensino superior dos EUA. Todos sabem dos problemas nesses lugares e em outros: o declínio contínuo do investimento público nas universidades de ponta, a evacuação moral dessas instituições em favor do negócio e dos esportes; o desaparecimento de um futuro para o projeto de uma sociedade responsável e de jovens instruídos; e os ataques injustificáveis a professores e estudantes que se manifestavam no “Ocupar” Berkeley, Davis e outros campi em protesto contra a cumplicidade de suas universidades no saqueio às classes trabalhadoras e médias.
O que acontecerá agora? Não tenho ideias melhores que as de qualquer outra pessoa, mas suponho que há uma lição a se retirar do que estamos vendo, e é o descrédito da classe de administradores profissionais no ensino superior. Um vídeo, feito hoje [19/11], na Universidade da Califórnia em Davis, conta a história.
Em primeiro lugar, o contexto é a chocante demonstração de violência esta semana por um membro da polícia do campus de Davis, lançando spray de pimenta sobre manifestantes estudantis pacíficos – gesto que foi depoisdefendido pelo chefe da polícia. Alguns dias antes, houve a não menos espantosa reação de um policial de Berkeley a uma manifestação basicamente pacífica de professores e estudantes, na qual (entre outros acontecimentos), a diretora do Centro Townsend de Ciências Humanas, a Professora Celeste Langan, foi arrastada pelos cabelos, jogada no chão e presa.
Há muitas questões aqui, incluindo-se o caráter paramilitar das táticas policiais que têm começado a parecer normais até mesmo nos campi universitários. James Fallows observa que “isto é o que acontece quando não se pode responsabilizar uma autoridade que já perdeu qualquer senso de vínculo humano com uma população sujeitada”. Eu gostaria de tecer algumas observações sobre uma versão acadêmica desta impossibilidade de responsabilização [unaccountability].
Neste vídeo, a administradora da Universidade da Califórnia em Davis, Linda Katehi, caminha entre um grande grupo de estudantes que a confrontam silenciosamente com o olhar e de braços dados. Qualquer educador pegaria o microfone e tentaria, pelo menos, tratar das agudas diferenças de valores que são palpáveis até mesmo num vídeo. Mas Katehi não faz nada além de caminhar até o seu carro com um semblante congelado.
O ar distante de Katehi, e especialmente o seu silêncio, é das coisas mais terroríficas que já vi nestas várias semanas de tumulto. O silêncio dos manifestantes é uma declaração; o de Katehi é uma renúncia.
Assim como o administrador de Berkeley, Robert Birgeneau, que esperou quatro dias para ver os vídeos das manifestações em seu campus, Katehi é responsável pelos malfeitos da polícia do campus face a um protesto pacífico. Eles estavam obrigados a avisar seus policiais acerca dos limites no uso de força, não só em geral, mas também à luz dos acontecimentos recentes que pressagiavam protestos vívidos em todos os campi. Suspeito que Katehi renunciará sob pressão dentro de uma semana, mais ou menos, depois que ela demita o policial que aparece no vídeo e o seu chefe de polícia, Annette Spicuzza.
Katehi, Birgeneau e o antigo Reitor de Penn State, Graham Spanier (assim como o Reitor da Universidade da Califórnia, Mark Yudof), têm pelo menos uma coisa em comum: eles pertencem à classe de administradores profissionais que tomaram conta das universidades públicas (e muitas das privadas) nos EUA nos últimos vinte anos.
Para além do que tenham sido no começo de suas carreiras (na maioria dos casos, professores altamente destacados), eles já não são realmente educadores, pesquisadores ou cidadãos de suas comunidades. São agentes contratados pelos painéis de governança corporatizados, que se mudam de uma universidade a outra em busca de um graal de ambição. Não é raro que Reitores e administradores tenham tido cargos sênior em três, quatro ou cinco instituições. Até onde sei, os quatro líderes mencionados acima já tiveram, entre eles, papéis administrativos em 14 universidades nos EUA e no Canadá. Já tendo estado em todos os lugares, essas pessoas não pertencem, em outro sentido, a lugar nenhum. Elas foram contratadas por algumas coisas nas quais são especialistas: levantar fundos, cultivar contatos externos, inventar nomes para fortunas declinantes e refazer as “marcas registradas” de seus campi.
Presos a interesses de negócios que dominam os painéis de governo das universidades e encharcados da sabedoria convencional do establishment da educação superior, esses administradores profissionais estão desprovidos de um vínculo com o trabalho cotidiano de suas instituições que lhes permitisse produzir, como propõe Cathy Davidson, um “Discurso de Gettysburg” que enfrentasse os desafios morais deste momento. O professor mais inexperiente desses campi estaria melhor preparado para essa tarefa. A falta de responsabilização e de vínculo dos policiais, apontada por Fallows – que poderíamos também estender ao escândalo esportivo em Penn State—começa no topo dessas instituições.
O movimento “Ocupar” terá seus sucessos na sociedade em geral, mas nos campi americanos ele pode ter um resultado salutar: mostrar aos painéis de governo que esses administradores itinerantes não podem ser responsáveis pelo futuro de nossas instituições. Eles podem até saber governar um campus no dia-a-dia, mas quando algum acontecimento imprevisto altera profundamente a vida de uma universidade, eles não têm a capacidade de responder da mesma forma que qualquer professor normal responderia, com cuidado e decência. A primeira resposta é o silêncio – logo seguido de declarações apressadas que tentam obscurecer e contemporizar.
O silêncio não é estratégico ou racional, até mesmo de um ponto de vista legal. Creio que se trata de estupefação ante um mundo que se descarrilha de seus planos e programas. É a crise cognitiva da universidade empresa—e suspeito que veremos mais exemplos nos próximos meses.
Universidades como Penn State, Berkeley e Davis têm legiões de professores brilhantes, apaixonados, que merecem liderança melhor do que a que estas figuras fornecem. Cada um desses campi possui pelo menos meia dúzia de líderes docentes—e todo mundo lá sabe quem são eles—que poderiam servir como Reitores ou administradores agora.
É hora dos acionistas interromperem este aspecto da universidade empresa em favor de lideranças autóctones, locais—e, talvez, sob um tipo diferente de líder, outros elementos da transformação da universidade em empresa sejam questionados (por exemplo: por que a crise de orçamento em Berkeley e em muitos outros lugares não encoraja os administradores a reduzir ou mesmo cancelar os programas esportivos, eu não entendo. A gritaria seria inédita, mas também o seria a conversa gerada acerca das prioridades de uma universidade).
O silêncio dos Reitores ante o crime e a injustiça revela a falência de um modelo de liderança empresarial no qual se afundaram muitas universidades. Será que alguns vídeos poderão ajudar a mudar isso?
Original ARCADE.

Haiti deixado à sua "sorte"

A crise econômica e a redução do orçamento para a cooperação internacional é a justificativa que dezenas de organizações humanitárias dão para a fuga de fundos para amenizar os problemas que afligem o Haiti.


Esta situação coincide com o momento em que mais necessário se faz o aporte de recursos, quando a nação caribenha está susceptível à conversão do cólera numa doença endêmica.
Desde outubro de 2010 a epidemia começou a se espalhar, atingindo mortalmente mais de seis mil pessoas e outras 500 000, cifras equivalentes a cinco por cento da população nacional.
A origem da epidemia foi atribuída a contaminação provocada por uma equipe de uma base nepalesa da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), que usava uma área perto do rio Artibonite, um afluente importante do Haiti e utilizado por milhares de pessoas para lavar roupa, beber, pesca ou natação, para defecar.
O Instituto para Justiça e Democracia no Haiti, denuncia a ONU pela falta de responsabilidade de não ter realizado exames médicos rigorosos dos seus soldados antes de enviar a missão para a ilha.

Sinal de alarme

Paul Farmer, enviado especial da ONU no Haiti e fundador da Partners in Health, afirmou que os cubanos foram os que deram o alarme inicial sobre o surto, ajudando a mobilizar as autoridades de saúde e reduzir o número de mortes.
O coordenador humanitário da ONU no Haiti disse que a ajuda internacional é insuficiente para enfrentar a epidemia, que despertou no país um debate interno sobre a possibilidade de adiar as eleições presidenciais e legislativas de 28 de novembro.
O médico francês Gerard Chevallier, que trabalha com o Ministério da Saúde haitiano, disse que os números oficiais "subestimam" a quantidade real e fazem relatórios equivocados e que "existem áreas onde as pessoas estão morrendo e ninguém sabe", disse ele.

Condições insalubres em acampamentos

Atualmente, existem cerca de 580.000 pessoas nos vários acampamentos para as vítimas do terremoto ocorrido em janeiro de 2010, em condições insalubres, devido à falta de higiene.
Em cada campo há uma média de 112 pessoas que se beneficiam de um banheiro único e apenas 18 por cento destes lugares têm onde se lavar as mãos e o rosto, de acordo com a Rede do Haiti para os Direitos Humanos. A organização humanitária garante que apenas 48 por cento dos deslocados têm acesso à água potável segura.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

MARIGHELLA SEGUNDO JORGE AMADO

AQUI INSCREVO SEU NOME DE BAIANO…
Seu nome ressoou, pela primeira vez, no brilho da inteligência invulgar e na graça de moleque nascido nas ruas da Bahia, quando, estudante de Engenharia, redigiu em versos uma prova de matemática.
Comentou-se na cidade a inspiração e a verve do acadêmico. Talento e informalidade marcaram para sempre seu perfil belo e másculo, sua face pura.
Líder estudantil, ainda adolescente foi tomado preso, cumpriu dez anos de prisão, entre as grades passou a juventude. Não perdeu o ânimo nem o riso, não se fez amargo. Sabia rir como pouca gente no mundo soube fazê-lo, riso franco, sadio, confiante.
Fraterno amigo, desde os dias de primeira juventude, na Bahia; depois, num longo quotidiano de esperança e desespero, no comício, no jornal, debruçado sobre os livros e sobre a vida, em meio ao povo ou nas bancadas da Câmara dos Deputados. Na chata solenidade legislativa, repontada no deputado ativo e responsável o espírito de moleque baiano, do estudante da Escola Politécnica. Subia a tribuna, punha em pânico os parlamentares. Juntos escrevemos vários discursos, lidos por outros. Num deles, enorme, passamos em revista todos os problemas do país. Pronunciado com extrema dignidade por Claudino José da Silva, único deputado negro da Assembléia Constituinte de 1946, durou quatro horas. As palavras eram pedras e raios; o tempo passava, o discurso prosseguia, eterno. Mesmo os mais reacionários ouviram em silêncio, não tiveram coragem de abandonar a sala.
Dentro dele a ternura a ira. Conhecia de perto a miséria e a opressão mas conhecia também a força e a capacidade de resistência do povo. De quando em vez releio seus poemas, sabiam que ele foi poeta? Ternura e ira em seus poemas simples, claros, brasileiros. Sendo homem de ação mais que um teórico, a poesia marcou cada instante de sua vida. Tudo nele era sincero, digno e puro.
Se errou, o fez na busca de acertar. Em certa tribuna ilegal eu o vi chorar, como um menino órfão, quando o ídolo ruiu, rotos os pés de barro. Eu estava vazio por dentro, pois soubera antes e lhe contara; não acreditou. Ao ter a prova, ficou siderado, durante certo tempo perdeu a graça e o riso; no meio do povo os recuperou. Manteve até o fim o bom humor e a pureza; amadureceu sem deixar de ser o estudante adolescente: mestiço de sangue negro e sangue italiano, como Dorival Caymmi, mistura de primeira.
Morreu numa emboscada. Deixou mulher, irmãos e filho, deixou inúmeros amigos, um povo a quem amou desesperadamente e a todos legou uma ação de invencível juventude, de inabalável confiança na vida e no humanismo. Retiro da maldição e do silêncio e aqui inscrevo seu nome de baiano: Carlos Marighella.
(Bahia de Todos os Santos–27ª. Edição–1977–Jorge Amado)

Como as crianças reagem a um prato vazio

Veja o que acontece quando crianças se deparam com um prato vazio enquanto o seu coleguinha do lado tem um sanduíche só pra ele…


Ainda temos esperanças e devemos continuar buscando o ponto onde perdemos nossa fraternidade.

As origens da questão negra e seu papel em nossa revolução

"Todo camburão tem um pouco de navio negreiro"
O Rappa
A escravidão nas Américas foi uma das combinações mais explosivas do desenvolvimento desigual e combinado que acabou por consolidar a burguesia como classe dominante. A utilização de força de trabalho escrava foi decisiva para a generalização da força de trabalho livre. A tensão histórica de todos os séculos da escravidão esteve marcada pela resistência escrava em um polo e a classe dominante, branca, em outro. Em todos os cantos da América, onde havia escravidão, havia resistência. Resistência que se expressava em diversas formas, sendo a fuga e formação de quilombos a mais conhecida. Houve quilombos nas Guianas, na Jamaica, Suriname, Colômbia, Venezuela, Brasil, Estados Unidos[1] , entre outros países. Parte significativa do problema para as autoridades repousava na comunicação dos quilombos com seus arredores, sejam vilas, cidades, senzalas, minas, tabernas, pequenos comerciantes. Os quilombos, ao contrário do imaginário, não ficavam isolados. Em diversas partes da América, principalmente no Caribe, e em especial na Jamaica, houve também insurreições escravas. O ponto alto da resistência negra e escrava foi a revolução haitiana, que combinou a luta pelo fim da escravidão (1794) com independência política (1803). Seu exército derrotou os planos coloniais da Revolução Francesa e combateu em pé de igualdade com o mais forte exército europeu, o de Napoleão. Um gênio político, Toussaint L’Ouverture, foi seu líder. No Brasil, a firmeza e resolução de Zumbi dos Palmares garantiu seu espaço entre os grandes. Foi a luta de classes, também aqui, o motor da história.
Hoje os negros são fortemente oprimidos pelo capitalismo e sua burguesia racista. Ocupam os piores trabalhos, são os mais mal pagos, são sistematicamente assassinados pela polícia de todos os países – no Brasil os números de negros assassinados pela polícia são do porte de uma guerra civil, nos EUA a enorme maioria da população carcerária é negra, são os negros (e os latinos) os que mais sofrem com a crise capitalista e quem primeiro teve suas casas tomadas pelos bancos; há pouco mais de um mês Troy Davis, acusado de matar um policial branco, foi assassinado pela Justiça racista em um caso publicamente irregular. A opressão ao povo negro não acabou com a escravidão, sobrevive e se reproduz em todos os poros desta podre sociedade capitalista, que nada tem a oferecer.

Uma elite esmagada pela metrópole e o medo dos escravos
"Onde há escravidão, há resistência".
Clovis Moura
A resistência escrava, longe da ideologia reacionária que imagina um cenário de relações harmônicas e fusão cultural sem atritos, foi forte e esteve presente em toda a colônia e Império. À medida que a resistência escrava mostrava sua força e seu enraizamento social, se constituía como um limite da própria formação da burguesia no Brasil. Em Pernambuco, no nordeste açucareiro, Palmares resistiu heroicamente por mais de 100 anos, e só foi derrotado sob a força de canhões. Na mineração de Minas Gerais, o início de urbanização colonial se deu sob o calor da formação de centenas de Quilombos, com o maior e mais famoso Quilombo de Campo Grande – o fato do centro produtivo ser na cidade propiciava maior mobilidade aos escravos e fugidos e uma preocupação de primeira ordem para as autoridades – com aparato de segurança centralmente voltado para a defesa das fronteiras até então, é com a urbanização em Minas que as autoridades coloniais desenvolvem forças de segurança públicas exclusivamente voltadas para garantir a ordem interna. Na Bahia, Salvador foi palco de uma das mais importantes revoltas, a dos Malês, que mesmo tendo sido denunciada, impossibilitando a execução dos planos dos negros, não foi reprimida sem fortes confrontos. No Rio de Janeiro, por volta dos anos 1830 a região de Iguaçu possuía diversos quilombos que causavam pânico à Corte; em 1838 a região de Vassouras (RJ) foi palco da mais importante revolta negra no meio rural. Mais próximo à abolição, enquanto a Corte despachava mandados de destruição de quilombos, milhares de negros – livres e escravos – se revoltavam nas cidades e no campo, contando com apoio de imigrantes, e parte considerável da população.
Ao mesmo tempo em que se via pressionada pelos interesses de Portugal (uma “metrópole periférica”) e, em seguida, pela Inglaterra, a elite brasileira se encontrava às voltas com a sempre latente e por vezes aberta revolta escrava. A nascente burguesia brasileira, portanto, não contava com um espaço propriamente seu, onde houvesse margem de manobra e espaço para iniciativa própria. Para manter seus compromissos, necessitava da grande propriedade, alta concentração de renda e exportação de produtos de baixo valor agregado – até os anos 1860 (!) a maior parte da força de trabalho era escrava. Ao mesmo tempo, esse arranjo se assentava sob um potencialmente explosivo pilar, a resistência escrava – que à medida que o século XIX chega ao fim se torna resistência negra. A Inconfidência Mineira, de finais do século XIX, é um caso exemplar. Dada a fraca situação econômica e social da colônia, a falta de um exército permanente e de aliados concretos, qualquer plano inconfidente sério exigiria, pelo menos, a formação de um exército de alto contingente negro. Ao contrário, os inconfidentes apresentaram programa e plano tímidos. A denúncia do complô (de um dos seus) e os acordos estabelecidos posteriormente (entre os quais a racista mutilação em praça pública de Tiradentes) somente serviram para fortalecer os aspectos conservadores de uma elite, supostamente “nacional”, já irresoluta e incapacitada para liderar qualquer embate frontal contra as autoridades coloniais e a metrópole. Com diferenças, algumas importantes outras secundárias, em todas as rebeliões regionais dirigidas pelas elites locais, a mesma situação se impunha, sendo que diversas foram derrotadas por batalhas não-dadas ou de baixa intensidade, uma vez que seus projetos não atacavam a escravidão e à população escrava e negra livre se negava armamento.
Pressionada pelos interesses imperialistas, que davam forma e determinavam os circuitos de acumulação do país, e pela resistência negra e escrava, as elites brasileiras – seja na figura da autoridade colonial ou do pós-independência – não tinham nada a oferecer a não ser forte repressão, alta concentração fundiária e ideologia racista. Sob a pressão imperialista e o medo da revolta escrava e negra, se formava uma semicolônia.
Para acessar à matéria na íntegra, clicar CEPHS 

Putin: “países estrangeiros” pagam a ONG na Russia “para influir no curso da campanha eleitoral”

27 de novembro de 2011
O Primeiro Ministro russo Vladimir Putin, designado ontem pelo partido no poder, Rusia Unida, como candidato de 2012 à presidencia, advirtiu os países estrangeiros contra toda ingerencia nas eleições russas, a uma semana para acontecer.
Continua no original...
Durante un congreso de su partido en Moscú, Putín declaró que países extranjeros pagaban a ONG en Rusia “para influir en el curso de la campaña electoral en nuestro país”, estimando se trataba de un “trabajo inútil, de dinero tirado por la ventana”.
“Sería preferible que utilizaran este dinero para pagar el déficit de su país y dejen de gastar dinero para políticas extranjeras costosas e ineficaces”, agregó en una aparente referencia a los países europeos y a EEUU.
“Todos nuestros interlocutores extranjeros deben comprender que Rusia es un país democrático, un interlocutor de confianza, un asociado previsible, con el que se puede y hay que ponerse de acuerdo”, destacó Putin.
Asimismo el primer ministro manifesto ante 11.000 delegados de su partido, Rusia Unida, que “aceptaba” su propuesta de ser candidato a las elecciones presidenciales del próximo 4 de marzo, que ganará con toda probabilidad.
“Le estoy agradecido al (Presidente) Dimitri Anatolevich Medvedev, al congreso de Rusia Unida, por haberme designado y pedido que fuera candidato al puesto de Presidente de Rusia. Por supuesto, acepto esta propuesta con agradecimiento. Gracias”, declaró.
El Congreso de Rusia Unida aún debe votar oficialmente para confirmar a Putin, de 59 años, como candidato a las presidenciales, como se anunció a finales de septiembre.

domingo, 27 de novembro de 2011

A Copa (não) é nossa

Charge: zuandonageral.blogspot.com

25/11/2011 14:39,  Por Adital
Para bem funcionar, um país precisa de regras. Se carece de leis e de quem zele por elas, vale a anarquia. O Brasil possui mais leis que população. Em princípio, nenhuma delas pode contrariar a lei maior – a Constituição. Só em princípio. Na prática, e na Copa, a teoria é outra.
Diante do megaevento da bola, tudo se enrola. A legislação corre o risco de ser escanteada e, se acontecer, empresas associadas à Fifa ficarão isentas de pagar impostos.
A lei da responsabilidade fiscal, que limita o endividamento, será flexibilizada para facilitar as obras destinadas à Copa e às Olimpíadas. Como enfatiza o professor Carlos Vainer, especialista em planejamento urbano, um município poderá se endividar para construir um estádio. Não para efetuar obras de saneamento…
A Fifa é um cassino. Num cassino, muitos jogam, poucos ganham. Quem jamais perde é o dono do cassino. Assim funciona a Fifa, que se interessa mais por lucro que por esporte. Por isso desembarcou no Brasil com a sua tropa de choque para obrigar o governo a esquecer leis e costumes.
A Fifa quer proibir, durante a Copa, a comercialização de qualquer produto num raio de 2 km em torno dos estádios. Excetos mercadorias vendidas pelas empresas associadas a ela. Fica entendido: comércio local, portas fechadas. Camelôs e ambulantes, polícia neles!
Abram alas á Fifa! Cerca de 170 mil pessoas serão removidas de suas moradias para que se construam os estádios. E quem garante que serão devidamente indenizadas?
A Fifa quer o povão longe da Copa. Ele que se contente em acompanhá-la pela TV. Entrar nos estádios será privilégio da elite, dos estrangeiros e dos que tiverem cacife para comprar ingressos em mãos de cambistas. Aliás, boa parte dos ingressos será vendida antecipadamente na Europa.
A Fifa quer impedir o direito à meia-entrada. Estudantes e idosos, fora! E nada de entrar nos estádios com as empadas da vovó ou a merenda dietética recomendada por seu médico. Até água será proibido.
Todos serão revistados na entrada. Só uma empresa de fastfood poderá vender seus produtos nos estádios. E a proibição de bebidas alcoólicas nos estádios, que vigora hoje no Brasil, será quebrada em prol da marca de uma cerveja made in USA.
Comenta o prestigioso jornal Le Monde Diplomatique: “A recepção de um megaevento esportivo como esse autoriza também megaviolação de direitos, mega endividamento público e mega irregularidades.”
A Fifa quer, simplesmente, suspender, durante a Copa, a vigência do Estatuto do Torcedor, do Estatuto do Idoso e do Código de Defesa do Consumidor. Todas essas propostas ilegais estão contidas no Projeto de lei 2.330/2011, que se encontra no Congresso. Caso não seja aprovado, o Planalto poderá efetivá-las via medidas provisórias.
Se você fizer uma camiseta com os dizeres “Copa 2014”,cuidado. A Fifa já solicitou ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) o registro de mais de mil itens, entre os quais o numeral “2014”.
(Não) durmam com um barulho deste: a Fifa quer instituir tribunais de exceção durante a Copa. Sanções relacionadas à venda de produtos, uso de ingressos e publicidade. No projeto de lei acima citado, o artigo 37 permite criar juizados especiais, varas, turmas e câmaras especializadas para causas vinculadas aos eventos. Uma Justiça paralela!
Na África do Sul, foram criados 56 Tribunais Especiais da Copa. O furto de uma máquina fotográfica mereceu 15 anos de prisão! E mais: se houver danos ou prejuízo à Fifa, a culpa e o ônus são da União. Ou seja, o Estado brasileiro passa a ser o fiador da FIFA em seus negócios particulares.
É hora de as torcidas organizadas e os movimentos sociais porem a bola no chão e chutar em gol. Pressionar o Congresso e impedir a aprovação da lei que deixa a legislação brasileira no banco de reservas. Caso contrário, o torcedor brasileiro vai ter que se resignar a torcer pela TV.
[Frei Betto é escritor, autor de "A arte de semear estrelas”(Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org- twitter:@freibetto].

Líder do MST é executado com seis tiros em emboscada na zona rural de Campina Grande

Chicoze.com

Sexta, 25 de Novembro de 2011 19h44
Por Márcio Rangel, da redação do Diário da Borborema
Um líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Campina Grande foi morto em uma emboscada no final da manhã desta sexta-feira, dia 25.

O crime aconteceu por volta das 10h50, no entanto, o cadáver só foi localizado às 14h, por moradores do sítio Curral Velho, na região de divisa entre os municípios de Campina Grande e Boa Vista.

De acordo com a Polícia Civil, José Gomes de Lima, de 57 anos, seguia de motocicleta com destino a sua residência que fica no assentamento Venâncio Tomé de Araújo, quando foi surpreendido pelos atiradores nas proximidades da Fazenda Quixaba.

Os criminosos assassinaram a vítima com seis disparos de revólver calibre 38. Os projéteis atingiram as costas (5) e a cabeça (1). Este último, de acordo com os peritos do Instituto de Polícia Científica (IPC), efetuado à queima roupas.

Segundo os familiares de José Gomes, há vários dias ele vinha sendo ameaçado de morte por pessoas ainda não identificadas que questionavam a posse da terra onde ele e mais 20 famílias residem há cerca de 11 anos.

De acordo com a esposa da vítima, a agricultora Maria do Socorro Tavares, de 48 anos, ele havia saído de casa para pagar algumas contas. “Ele saiu de casa de manhã para comprar contas e estava trazendo também umas agulhas que pedi, pois estou participando de um curso de corte e costura. Fomos avisados por uma pessoa que passou e viu ele caído. Sinceramente não sei de nada” comentou.

O caso está sendo investigado pela delegada Cassandra Maria Duarte, da Delegacia Especializada em Homicídios de Campina Grande.

A autoridade revelou que a hipótese de latrocínio, a princípio, já está descartada. “Pela análise, os homens que mataram este agricultor não queriam roubar nada dele. O dinheiro ficou no bolso e a moto no mesmo local. Acreditamos, pelas evidências que se trata mesmo de uma execução e acerto de contas. Vamos apurar todos os detalhes com cautela. A princípio o crime pode ter sim ligação com a disputa por terras na região” declarou a autoridade.

O local onde o crime aconteceu era desabitado e a até agora, ninguém se apresentou como testemunha do crime.

José Gomes de Lima era presidente da Cooperativa Rural do Assentamento Venâncio Tomé de Araújo que está instalado em terras da comunidade rural de Curral Velho, distante cerca de 25 km do Centro de Campina Grande.

Com mais este crime, sobe para 161 o número de homicídios praticados na cidade neste ano de 2011.
Fonte: Onorte

sábado, 26 de novembro de 2011

Cuba: o país com melhor desenvolvimento humano da América Latina

O Fundo de População das Nações Unidas assegurou que Cuba conta com um desenvolvimento equivalente ao avanço de um quarto de século, se comparado aos demais países da América Latina e do Caribe.

Isla Mía para Kaos en la Red
 O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA em inglês), na apresentação do Informe sobre o Estado da População Mundial 2011, além de analisar o fato de que o mundo chegou aos 7.000 milhões de habitantes, assegurou que Cuba é a nação com mais alto desenvolvimento humano latino-americano, chegando a afirmar que conta com um desenvolvimento equivalente a um quarto de século de avanço em relação aos demais países da América Latina e do Caribe.

Isso ocorre devido aos baixos níveis de mortalidade do país, a elevada esperança de vida, seu acesso à saúde e educação, sua saúde sexual e reprodutiva, e os indicadores de envelhecimento de sua população, todos com valores similares e, inclusive, maiores aos de nações industrializadas.

Com respeito ao enfoque sobre os 7.000 milhões de pessoas no mundo, a UNFPA não só evidenciou dados demográficos, como também o aprofundamento das problemáticas sociais e econômicas que implicam no crescimento da população, onde se alguns questionamentos foram levantados: De que maneira reduzir as lacunas entre ricos e pobres e retificar as desigualdades entre homens e mulheres, e entre meninos e meninas?  Ou ainda: Como alcançar que as cidades sejam lugares aptos para viver?

O documento mostrou os grandes contrastes sociais e as necessidades de trabalharmos unidos pelo progresso, como, por exemplo, a questão da natalidade. Enquanto nas nações européias mais industrializadas nascem 1,5 crianças por mulher, na África – de alarmantes indicadores sócio-demográficos e grande pobreza –, nascem cinco bebês por mãe.
Esta conquista de Cuba se soma a sua reconhecida luta contra o racismo, a desnutrição infantil e sua comprovada qualidade em todos os níveis de educação.

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza (PCB)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Minha Casa, Minha Vida gastou só 0,07% dos recursos para 2011

BRASÍLIA - O Minha Casa, Minha Vida é um dos programas com maior orçamento no governo federal, mas a quase totalidade do dinheiro gasto em 2011 veio de restos a pagar de anos anteriores. De tudo que foi gasto entre janeiro e 22 de novembro, apenas 0,15% - R$ 8,6 milhões - veio de recursos deste ano.
Quando considerado todo o dinheiro previsto em 2011 para o programa, o percentual é ainda menor. Excluindo os restos a pagar, a dotação deste ano é de R$ 12,6 bilhões, mas apenas 0,07% desse valor já foi efetivamente pago. Os dados são da ONG Contas Abertas e foram calculados a partir de informações do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal).
Em 2011, já foram gastos R$ 5,605 bilhões, dos quais R$ 5,597 bilhões são de restos a pagar já desembolsados. Quando considerados os três anos de existência do Minha Casa, Minha Vida, lançado em 2009, já foram previstos R$ 24,6 bilhões. Mas, até 22 de novembro de 2011, apenas R$ 8,7 bilhões (incluindo os restos a pagar) foram utilizados, um índice de 35,6%.
Tocado pelo Ministério das Cidades e tendo como agente executor a Caixa Econômica Federal, o programa atende famílias com renda mensal de até R$ 5 mil. Parte dos recursos se destina especificamente para famílias de renda mais baixa. O objetivo é a construção de 2 milhões de moradias até 2014.
Lançado em abril de 2009 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o programa se transformou em peça de propaganda da candidatura vitoriosa de Dilma Rousseff à presidência em 2010. Apesar disso, nos dois anos, ainda segundo o Contas Abertas, foi baixa a aplicação de recursos, embora maior que em 2011.
Em 2009, havia R$ 5,25 bilhões previstos, dos quais 29,94% - R$ 1,57 bilhão - foram pagos. Em 2010, dos R$ 6,68 bilhões previstos, apenas 2,15% - R$ 143,32 milhões - foram gastos. No ano passado, assim como agora, o volume de restos a pagar do ano anterior foi mais expressivo: R$ 1,428 bilhão, representando 90,88% do total desembolsado em 2010.

Fonte: Brnotícias

Imagem para reflexão I

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Número de pacientes espalhados pelos corredores é quase igual ao de leitos em hospitais de Fortaleza

A quantos anda a saúde pública no Brasil. Todos os dias os meios de comunicação denunciam, às vezes involuntariamente, o caos que envolve os serviços públicos essenciais. Mas, recursos para a Copa de 2014 são disponibilizados sem problemas. Constate: será só no Ceará?
Angélica Feitosa 
Do UOL Notícias, em Fortaleza


A quantidade de pacientes em macas nos corredores da emergência dos grandes hospitais públicos de Fortaleza é quase igual ao número de vagas disponíveis em leitos. No início desta semana, havia 230 pessoas aguardando leitos, em macas, no Hospital de Messejana (HM), Instituto José Frota (IJF), Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e Hospital Geral de Fortaleza (HGF). O total de vagas disponíveis na emergência de todas essas unidades é de 248.
No Instituto José Frota, hospital municipal de Fortaleza especializado em casos graves de traumatologia, há 40 vagas, mas o número de pacientes internados na emergência chegou a 100. Já o HGF, hospital estadual, tinha 93 pessoas esperando em macas nos corredores, enquanto a quantidade de leitos, já ocupados, é de 96.
No Hospital de Messejana, estadual, eram 30 as macas nos corredores que aguardavam atendimento nos leitos da emergência. O total de leitos do HM é de 100. O hospital infantil Albert Sabin, também estadual, reunia a menor quantidade de espera da emergência entre as unidades –sete, de um total de 12 leitos.
O motoboy Jorlani de Sousa Cavalcante, 23, aguardava havia três dias a liberação de vaga em uma maca no corredor do Instituto José Frota. Ele foi vítima de um acidente de moto durante o trabalho. “O atendimento aqui seria muito bom se não tivesse tanta gente. Nós acabamos esperando demais por um exame simples.”
São dois os principais problemas do Instituto José Frota, de acordo com seu diretor executivo, Casemiro Dutra. O primeiro é a grande quantidade de pacientes fora do perfil do atendimento. São pessoas com fraturas leves que poderiam buscar socorro em um hospital público especializado.
A segunda questão é a procura de pessoas vindas do interior. Segundo Dutra, atualmente cerca de 60% do atendimento do hospital municipal de Fortaleza é de pessoas de outras cidades. “As pessoas confiam no Instituto José Frota. E não há outro hospital no Ceará para o atendimento traumatológico grave”, informou o diretor.
O problema não seria resolvido com o aumento no número de vagas nas emergências. A afirmação é de Socorro Martins, diretora do Hospital de Messejana, especializado em problemas cardíacos, pulmonares e renais, e leva em consideração que, há pouco menos de um ano, o Hospital de Messejana recebeu 43 novos leitos. Isso significou alívio durante pouco tempo, já que as vagas novamente estavam defasadas logo depois.
“É uma questão difícil, não existe uma solução única. Cada município deveria discutir as responsabilidades”, informou. Martins não soube precisar o período, mas, há pouco tempo, o Hospital de Messejana realizava 30% das cirurgias no Ceará. Hoje, responde por mais de 60% dos casos. “É necessário haver um investimento na rede conveniada, em hospitais privados que atendam pelo SUS”, afirmou.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Verdade e Justiça para Quem

A Comissão da Verdade e Justiça não pode, pois, ter medo de dizer que possui o direito e o dever de revisar a história.

“Quem sabe se não me cabe, mesmo, o papel desagradável de remexer nas cinzas e de levar até o fim o combate à ditadura, para que ela seja exterminada em seu último e surpreendente refúgio, o da 'transição democrática'?". Quem sabe! Essa desagradável tarefa não é apenas a do sociólogo Florestan Fernandes, mas é a tarefa de Quem.
A ideia da reconciliação nacional aparece dentre os objetivos do projeto de lei que cria a Comissão Nacional da Verdade, sendo substituída pela expressão consolidação da democracia na importantíssima emenda que será proposta pela deputada Luíza Erundina. No entanto, as duas redações não apontam para o horizonte político que deve envolver o debate sobre a Comissão da Verdade e Justiça por sustentarem uma mistificação: a de que já haveria no Brasil uma verdadeira democracia, para cuja completa consolidação apenas alguns passos faltariam.
Quem quer combater a ditadura e o que resta dela precisa ter coragem para colocar em questão o mito da democracia brasileira. Não nos enganemos, advertia Florestan Fernandes, "a democracia burguesa é, em si e por si mesma, uma mistificação: em nome da liberdade, ela cassa a liberdade dos trabalhadores; em nome da igualdade dos cidadãos, impõe a supremacia social da burguesia; em nome da representação, consagra o monopólio do poder pelas elites dirigentes das classes dominantes".
Afinal, Quem diz que a democracia já é uma realidade sugere que o futuro chegou, que o bonde da história estacionou em sua parada final: a democracia brasileira. Mas isso só pode interessar a Quem quer abafar o clamor expectante daqueles setores oprimidos da sociedade civil que, desde a década de 1930, ampliavam seu coro por uma revolução brasileira. Se a ditadura civil-militar veio para garantir o fracasso de uma tentativa de reestruturar o regime de produção sobre novas bases, a democracia que a sucedeu não passa da mais bem acabada forma de realização deste mesmo objetivo. Quem são esses que nunca deixaram o poder, e que negociaram entre si a reconciliação? Quem torturou, Quem matou, Quem ocultou cadáveres? A consolidação deste tipo de regime democrático interessa a Quem.
A fim de que as atrocidades cometidas no passado não se repitam, é essencial a criação de uma Comissão da Verdade e Justiça. O mínimo que se espera deste trabalho é que ele seja capaz de, por um lado, averiguar as violações de direitos humanos e apurar as responsabilidades dos perpetradores de crimes de lesa-humanidade e, por outro, desvelar a cadeia de repressão e a imbricada máquina de destruição arquitetada pelo regime autoritário. Mas há um outro passo ainda mais fundamental.
Para além de discutir a violação dos direitos humanos, a Comissão deve resgatar a memória dos afetados como sujeitos históricos portadores de projetos políticos, e, sobretudo, explicitar a complexa rede de interesses de classe então existentes. Se é preciso dizer claramente Quem torturou, também devemos dar nome a Quem publicou e continua publicando jornais que colaboraram com o regime, que emprestaram seus carros para levar presos políticos a celas de tortura. Deve ser dito Quem matou, mas também Quem governou e continua governando. É preciso dizer Quem ocultou cadáveres, mas também Quem lucrou e continua lucrando com a manutenção da ordem econômica garantida no passado pelo chumbo das Forças Armadas e, no presente, pelas balas verdadeiras ou de borracha de uma polícia, não por acaso, militar.
A Comissão da Verdade e Justiça deve ser capaz de exigir o deslocamento da discussão dos efeitos para a causa, da tortura para a vontade que a motiva, dos direitos humanos para a estrutura do Estado e da sociedade. Quem silencia um discurso não o faz somente escondendo da sociedade documentos oficiais, eternamente sigilosos. Toda censura exige a ção de uma nova versão dos fatos que finge desvelar uma verdade, porque não há melhor mordaça do que a cooptação da testemunha. A Comissão da Verdade e Justiça não pode, pois, ter medo de dizer que possui o direito e o dever de revisar a história.
A verdade não repousa nos fatos à espera da sua pacífica descoberta; tampouco a história é o tempo do desvelamento progressivo da verdade. Verdade e história não são nada além do dito de Quem ganha uma luta: a luta de classes.
Este texto é de autoria do coletivo político Quem.

Quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mantega diz que agravamento da crise preocupa

Mas, não era uma marolinha?

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje que o mundo está assistindo ao agravamento da crise internacional. "A cada dia a situação fica mais complicada e problemas na União Europeia e nos Estados Unidos não se resolvem", afirmou, durante audiência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. "Estamos vendo uma recaída da crise de 2008: alguns países não conseguiram superá-la até hoje, o que nos deixa preocupados", continuou.
Mantega ressaltou que esses países estão endividados, que as taxas de crescimento são baixas e o desemprego, elevado. "A situação é complicada", resumiu. Para ele, é possível que o quadro se agrave e caminhe novamente para a constituição de uma crise financeira. "Eu espero que não e o Brasil tem feito esforços para ajudar na solução dos problemas."

Maturidade
O ministro salientou que, além de vantagens econômicas, o Brasil possui um grau de maturidade política que outros países não têm. "Lá (Estados Unidos e Europa) se paralisa o Estado. Aqui não se verifica isso", disse, durante audiência pública.
Ele destacou que o epicentro do problema é a União Europeia e que o bloco está demorando para tomar as medidas necessárias e solucionar a crise. A situação política, na avaliação de Mantega, atrapalha a resolução dos problemas. "Isso é válido para a Europa e os Estados Unidos, como vimos ontem", citou, acrescentando que, no exterior, não está sendo vista habilidade para enfrentar os problemas.

Contágio
Ainda segundo Mantega, o cenário de crescimento da economia mundial não é muito animador para os próximos anos. Para ele, pode-se esperar um baixo crescimento do globo e até a possibilidade de recessão na Europa. "A recessão está no horizonte", considerou. "E já começa a haver um contágio para emergentes, apesar de estarem em condições melhores", acrescentou.
Na avaliação do ministro, essa situação deve perdurar por "muitos anos". "Temos que estar preparados para enfrentar essa situação", disse.
Fonte: Brfinance