Na Internet, toda a gente fala
do documentário sobre a crise grega, preparado pelos jornalistas Katerina
Kitidi e Aris Hatzistefanou e que tem por título "Debtocracy". Rodado
com dinheiro próprio e com donativos de alguns amigos, o filme tem exibição
gratuita em http://www.debtocracy.gr. Em menos de dez dias, foi visto por 600
mil utilizadores. Todos os dias, defensores e adversários do documentário
apresentam os respetivos pontos de vista no Facebook, no Twitter e em blogues.
Os principais atores do
documentário (cerca de 200 pessoas) assinam um pedido de criação de uma
comissão internacional de auditoria, que teria por missão especificar os
motivos da acumulação da dívida soberana e condenar os responsáveis. No caso
vertente, a Grécia tem direito a recusar o reembolso da sua "dívida
injustificada", ou seja, da dívida criada através de atos de corrupção
contra o interesse da sociedade.
"Debtocracy" é uma
ação política. Apresenta um ponto de vista sobre a análise dos acontecimentos
que arrastaram a Grécia para uma situação preocupante. As opiniões vão todas no
mesmo sentido, sem contraponto. Foi essa a opção dos autores, que apresentam a
sua maneira de ver as coisas, logo nos primeiros minutos: "Em cerca de 40
anos, dois partidos, três famílias políticas e alguns grandes patrões levaram a
Grécia à falência. Deixaram de pagar aos cidadãos para salvar os
credores".
Os
"cúmplices" da falência perderam o direito à palavra.
Os autores do documentário não
dão a palavra àqueles que consideram "cúmplices" da falência. Os
primeiros-ministros e ministros das Finanças gregos dos últimos dez anos são
apresentados como elos de uma cadeia de cúmplices que arrastaram o país para o
abismo.
O diretor-geral do FMI,
Dominique Strauss-Kahn, que se apresentou aos gregos como o médico do país, é
comparado ao ditador Georges Papadopoulos [primeiro-ministro sob o regime dos
coronéis, de 1967 a 1974]. O paralelo é estabelecido com uma facilidade notável
desde o início do documentário mas não é dado ao personagem relevante (DSK) o
direito a usar da palavra.
À pergunta "Porque não
fazer intervir as pessoas apontadas a dedo", um dos autores, Kateina
Kitidi, responde que se trata de "uma pergunta que deve ser feita a muitos
órgãos de comunicação que, nos últimos tempos, difundem permanentemente um
único ponto de vista sobre a situação. Nós consideramos que estamos a
apresentar uma abordagem diferente, que faz falta há muito tempo". O
público garante a independência do filme.
Para o seu colega Aris
Hatzistefanou, o que conta é a independência do documentário. "Não
tínhamos outra hipótese", explica. "Para evitar as limitações quanto
ao conteúdo do filme, que as empresas [de produção], as instituições ou os
partidos teriam imposto, apelámos ao público para garantir as despesas de
produção. Portanto, o documentário pertence aos nossos 'produtores associados',
que fizeram donativos na Internet e é por isso que não há problemas de
direitos. De qualquer modo, o nosso objetivo é difundi-lo o mais amplamente
possível."
O documentário utiliza os
exemplos do Equador e da Argentina para suportar o argumento segundo o qual o
relatório de uma comissão de auditoria pode ser utilizado como instrumento de
negociação, para eliminar uma parte da dívida e do congelamento dos salários e
pensões de reforma.
"Tentamos pegar em
exemplos de países como a Argentina e o Equador, que disseram não ao FMI e aos
credores estrangeiros que, ainda que parcialmente, puseram de joelhos os
cidadãos. Para tal, falámos com as pessoas que realizaram uma auditoria no
Equador e provaram que uma grande parte da dívida era ilegal", acrescenta
Katerina Kitidi. Contudo, "Debtocracy" evita sublinhar algumas
diferenças de peso e evidentes entre o Equador e a Grécia. Entre elas, o facto
de o Equador ter petróleo.
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