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sexta-feira, 30 de maio de 2014

Wikipedia, a conquista civilizatória do século?

Jimmy Wales, co-fundador da Wikipedia. Nascida por acaso, ela alimenta-se da contribuição voluntária de milhões de apoiadores e tem sistema sofisticado para dirimir divergências entre 80 mil editores
Como surgiu, e é gerida, obra coletiva consultada por 500 milhões ao dia, mantida sem lucro e alimentada pelo desejo humano de compartilhar conhecimentos

por Thiago Domenici,
 no Retrato do Brasil
29/05/2014
 
Mil volumes com cerca 1,2 mil páginas cada, capa dura e texto em preto sobre papel branco. Seria assim a versão impressa da Wikipédia, a maior enciclopédia digital do mundo, se uma campanha de crowdfunding (espécie de “vaquinha virtual”) arrecadasse 50 mil dólares (120 mil reais, aproximadamente). O montante era o necessário para imprimir os 4,3 milhões de artigos da versão do site em inglês, mas a campanha acabou malsucedida no final do mês passado e obteve apenas 25% daquele total. A iniciativa partiu da PediaPress, parceira oficial da Wikimedia Foundation Inc., instituição sem fins lucrativos com sede em São Francisco (EUA), responsável pela Wikipédia e outros projetos. No vídeo da campanha, um dos argumentos sugere que os mil volumes estariam desatualizados tão logo fossem publicados. Então, para que o esforço? Justamente porque transformar a Wikipédia num produto físico seria a melhor maneira de compreender suas dimensões.
 
Ao longo dos séculos, seja nos 37 volumes da História Natural, de Plínio, o Velho, filósofo e naturalista que viveu no primeiro século da era cristã na biblioteca de Alexandria, fundada no início do século III a.C, até a Encyclopédie, surgida do projeto iluminista conduzido na França do século XIII por Denis Diderot e Jean d’Alembert, o homem sempre ambicionou reunir a totalidade do conhecimento humano. E quem melhor encarnou essa pretensão de descrever o estado atual do conhecimento foram as enciclopédias, termo que surgiu da expressão grega enkylios paideia (educação circular).

O fracasso da “Wikipédia impressa” parece estar ligado a mudanças de hábitos geradas a partir da massificação do uso da internet e do computador. Além disso, o alto custo de produção das enciclopédias impressas e as baixas vendas demonstraram que o antigo modelo de negócio já não era viável.

A história da Wikipédia se desenha a partir de 1995, quando o americano Ward Cunningham criou um software conhecido como WikiWikiWeb – a palavra wiki, no idioma havaiano, significa “super-rápido”. Cunningham queria um sistema que facilitasse a condução e a documentação de grandes projetos de informática. E os wikis permitiam uma edição coletiva dos textos a qualquer dia e hora, sem estabelecer limites entre autor e leitor. Seis anos mais tarde, surgiria a Wikipédia, época em que o mercado contava com a tradicional Encyclopædia Britannica e a enciclopédia Microsoft Encarta.

A Encarta, lançada em 1993 pela empresa de Bill Gates, fora inicialmente vendida apenas em CD-ROM e teve uma versão on-line a partir de 2005. Em 2009, a Encarta fechou as portas sob a alegação de que “as pessoas hoje em dia buscam e consomem informação em consideráveis e diferentes maneiras do que há alguns anos”. Três anos depois da Encarta, foi a vez da Britannica, herdeira da Encyclopédie francesa, com 244 anos de história, anunciar o fim da sua edição em papel. Segundo seu presidente, Jorge Cauz, o fim soou como um “ritual de iniciação à nova era”. Os pesados volumes da enciclopédia Britannica, com suas letras douradas na lombada, foram um objeto quase básico nas famílias britânicas e americanas desde meados do século XX, quando centenas de vendedores ambulantes as ofereciam de porta em porta. O auge de vendas ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, quando, por exemplo, antes do boom da internet, as vendas atingiram 120 mil unidades em 1989 só nos EUA.

A primeira edição da Britannica (1784) foi produzida na Escócia, em Edimburgo, e tinha 2,7 mil páginas. Era dividida em três volumes e contou com artigos de Benjamin Franklin e John Locke. A edição de 1889, considerada uma das melhores de todos os tempos, teve participação de Charles Darwin e Karl Marx. Agora, disponível somente na internet, a Britannica mantém atualização constante dos verbetes e, além de oferecer parte do conteúdo gratuitamente, possibilita a assinatura online para os usuários acessarem o conteúdo completo em diferentes plataformas digitais. A Britannica era impressa a cada dois anos e sua última edição no formato antigo circulou com 32 volumes e custava 1,4 mil dólares (aproximadamente 3,2 mil reais). Nela, havia atualizações sobre o projeto do Genoma Humano e a questão do aquecimento global. As 4 mil unidades restantes no estoque esgotaram-se em menos de três semanas, resultado da comoção de muitos com o anúncio do seu fim em papel. No Twitter, em tom de reconciliação amorosa, uma pessoa escreveu: “Sinto muito não ter sido fiel a você, Encyclopædia Britannica. A Wikipédia estava ali, à mão, mas não significou nada. Por favor, volte!”.

Em artigo publicado no ano passado, Cauz fez um balanço de todo o processo. Para ele, o fim da edição em papel começou muito antes da Wikipédia. “O modelo de vendas começou a ruir em 1991, quando o público tinha menos tempo e paciência para atender um vendedor na porta de casa e quando computadores começaram a vir com leitor de CD-ROM (…) Foi uma jogada brilhante da Microsoft [dona da Encarta] e algo muito prejudicial para a Britannica.” O sucesso da Wikipédia, diz Cauz, reforçou a decisão da Britannica de pôr fim ao papel – responsável por 1% do faturamento da empresa. “Assim como muitas inovações de ruptura, a Wikipédia tinha qualidade inferior: se fosse um vídeo, seria granulado e fora de foco. Mas o público não estava nem aí, pois a Wikipédia tem um número imenso de verbetes, é fácil de usar e é grátis. Não poderíamos competir em quantidade ou preço. Achávamos que o consumidor preferia nosso material de referência? Sim. Achávamos que estava disposto a pagar por isso? Não necessariamente.” Segundo Cauz, a Britannica mantém hoje 500 mil assinantes on-line.

No Brasil, a versão em português da Britannica foi publicada pela primeira vez em 1963, com o nome de Enciclopédia Barsa. No corpo editorial estavam Jorge Amado, Antônio Calado e Oscar Niemeyer, entre outros intelectuais brasileiros. Todos escreveram textos para aquela primeira edição, cuja leva inicial, de 45 mil exemplares, esgotou-se em oito meses. Em 2005, a Barsa foi comprada pelo grupo editorial espanhol Barsa Planeta. E, curiosamente, ao contrário de sua progenitora, a Barsa mantém ativa sua edição em papel, além de oferecer a versão online do produto. “Estrategicamente, o modelo de negócios da empresa para comercialização dos nossos programas educativos e enciclopédias evoluiu em todos os aspectos”, informou Mauricio Gregorio, presidente corporativo do Grupo Planeta Brasil, a Retrato do Brasil.

Quem adquire a Barsa precisa reservar um bom espaço na estante para acomodar suas cerca de 10 mil páginas organizadas em 18 volumes. Acompanhada de um CD-ROM, ela custa 3 mil reais em média (preço que varia conforme o modelo de capa escolhido). Em 2012,  70 mil unidades foram vendidas. Indagado sobre a “concorrência” da Wikipédia, Gregorio diz que o maior atrativo da Barsa é a “credibilidade do conteúdo e a confiabilidade dos mais de 160 mil verbetes oferecidos”. “Não competimos com portais genéricos de informação.”

Genérica ou não, a Wikipédia surgiu de uma tentativa de fazer dar certo a Nupedia, o “projeto-anjo” dos americanos Jimmy Wales, especialista em finanças, e Larry Sanger, então estudante de filosofia. A dupla desejava criar uma enciclopédia gratuita e online na qual os artigos seriam escritos por especialistas e com rígido processo de revisão. Por conta da lentidão na produção, a dupla de criadores introduziu o wiki de Cunningham num site paralelo, que serviria de suporte para acelerar a dinâmica da Nupedia. Para surpresa geral, a Wikipédia (nome cunhado por Sanger) superou a Nupedia em tamanho e acessos em pouco tempo, criando desde cedo uma pequena comunidade de editores constantes – hoje há mais de 80 mil deles ativos no mundo. Em comparação, em três anos a Nupedia conseguiu publicar somente 24 artigos, enquanto a Wikipédia publicou mais de 20 mil.

Atrás de Facebook, Google, YouTube e Yahoo!, a enciclopédia livre é o quinto site mais acessado do mundo, com impressionantes 500 milhões de acessos diários. Suas características modificaram a forma de se compartilhar conhecimento gratuito na web, já que cada tópico de diferentes temas é editado pelos próprios internautas – cada um agregando mais informações a respeito de um mesmo assunto. Evidentemente, o site mantém um “controle de qualidade”, classificando, por exemplo, um artigo como pendente de fontes ou alertando quando as informações são parciais demais. Publicada em 288 línguas diferentes, a Wikipédia possui hoje mais de 30 milhões de artigos.

No caso lusófono – que inclui o Brasil – são mais de 800 mil artigos. “A Wikipédia é fruto de um esforço enorme de um grande número de pessoas”, diz Carlos d’Andréa, professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que defendeu há três anos tese de doutorado sobre o site. “É um projeto que, em tese, tinha tudo para dar errado. Ter alcançado tamanha amplitude e visibilidade não é pouca coisa. Tem problemas? Sim, muitos. Virtudes? Várias também. É uma fonte de informação a ser usada com cuidado – como qualquer outra fonte, em sua peculiaridade, também deve ser vista com alguma reserva.”

Henry Jenkins, um dos principais pensadores do impacto das novas tecnologias no mundo, autor do livro Cultura da convergência (Editora Aleph, 2008), diz a RB que a Wikipédia tem muitas vantagens em relação às enciclopédias tradicionais por conseguir ser mais inclusiva. “Ela pode ser muito mais atual ao dar respostas a eventos que estão acontecendo agora, mudando as informações disponíveis”, explica o professor de comunicação. “Nós podemos ver de onde veio a informação e revisar os processos de forma que a comunidade decida a qualidade daquela informação. O sistema permite que perspectivas diferentes possam coexistir em vez de serem resolvidas por um ‘especialista’. Tudo isso proporciona uma relação diferente entre o público e a informação compartilhada por uma sociedade.”

Mesmo considerando a Wikipédia um dos “maiores feitos da humanidade na era digital”, Jenkins constata que ela não é homogênea. “A abrangência dos tópicos não é tão diversificada quanto muitos de nós gostaríamos e a exigência de a informação ter sido publicada previamente, nesse caso, faz com que a Wikipédia acabe reproduzindo as lacunas da grande mídia. Há uma parcialidade sistêmica nos que participam desse processo, cujas verdades acabam reproduzidas. O leitor precisa se manter atento ao ler uma entrada, assim como deveria estar atento ao ler qualquer coisa.”

Segundo a tese de D’Andréa, as críticas mais frequentes à Wikipédia relacionam-se à credibilidade da informação em um ambiente em que qualquer pessoa pode alterá-la. Para ele, se encararmos a Wikipédia como um fluxo e não um produto final, “é fundamental reconhecer que ela nunca está pronta e, portanto, não é possível ler seus artigos como uma verdade”. Em resposta aoscríticos mais vorazes, sua tese cita estudo publicado pela revista científica Nature há oito anos que avaliou a precisão de 42 verbetes de ciência da Wikipédia em inglês com os verbetes correspondentes da Britannica. Houve quatro erros graves de cada lado e a Britannica teve pouco menos erros factuais que a Wikipédia (123 a 162).

Para preservar a isenção dos artigos, a Wikipédia não tem anunciantes e sua receita vem, basicamente, de doações coletivas. É o único dos dez sites mais acessados do mundo que mantém uma proposta sem fins lucrativos. Hoje há mais de 2 milhões de doadores ao redor do mundo. Em uma campanha de 2011, por exemplo, mais de 1 milhão de voluntários doaram um total de 20 milhões de dólares. A sede, em São Francisco, tem pouco mais de 130 funcionários para manter todos os “projetos Wiki” em andamento. “O aspecto mais importante do modelo sem fins lucrativos é possibilitar que o projeto se mantenha focado no que nossa comunidade de editores voluntários mais valoriza: a capacidade de se manter neutro e distante de quaisquer fatores que poderiam influenciar a objetividade e a neutralidade da Wikipédia e de seus projetos irmãos”, explica o canadense Jay Walsh, consultor de comunicação e relações públicas do Wikimedia Foundation Inc.

Mas como é possível que uma enciclopédia escrita e editada por voluntários funcione? Segundo D’Andréa, o modelo de funcionamento da Wikipédia significa uma ruptura com o de produção editorial baseado em rotinas industriais estabelecidas a partir dos suportes impressos. Em geral, as enciclopédias são produzidas por uma equipe de “editores” junto com os “colaboradores especialistas”, e a expertise no assunto sempre foi um pré-requisito. No funcionamento da Wikipédia, o modelo é outro, baseado no “publique, depois filtre”. Nesse sentindo, a Wikipédia é um projeto fora da curva por evidenciar o quanto as pessoas se acostumaram ao primeiro modelo, aquele em que a produção de textos é centrada na figura de um autor e voltada para suportes que dificultam modificações após sua publicação.

Os artigos devem conter informações verificáveis, ou seja, não se pode opinar e deve constar somente o que já foi publicado em fontes consideradas confiáveis pela comunidade. É comum, por exemplo, ver em muitos artigos a própria Britannica ser indicada como fonte. Sua estrutura básica é a seguinte: além dos leitores – o sujeito que visita o site para se informar – existem os editores. Nesse “cargo”, para alterar qualquer informação, é preciso clicar na aba “Editar” presente em qualquer artigo. A alteração no texto é publicada e essa passa a ser a versão válida até que seja novamente mexida. Acima dos editores ficam os administradores, eleitos ou indicados por outros editores por causa da frequência e da qualidade de suas colaborações. Acima deles estão os “burocratas”, os chefes dos administradores (são quatro no Brasil). Acima de todos fica o steward – o juiz da Wikipédia –, corpo composto por 38 usuários encarregados de dirimir conflitos, por exemplo, entre burocratas e administradores.

Para intervir no site, um editor pode ou não se cadastrar. Se o fizer, torna-se um “wikipedista” e tem suas contribuições ligadas a seu perfil. Em 2012, por exemplo, o americano Justin Knapp, 30 anos, que escreve na enciclopédia sob o apelido de “koavf”, bateu um recorde ao ser reconhecido como o primeiro usuário a realizar 1 milhão de edições.Voluntário desde março de 2005, Knapp é formado em filosofia e ciência política pela Universidade de Indiana, mas procura conciliar o diploma com outras formas de trabalho, como entregador de pizzas, por exemplo. A contribuição para a enciclopédia virtual começou com edições anônimas, que hoje chegam a cerca de 385 por dia. Política, religião, filosofia e cultura popular são alguns dos temas mais abordados em seus artigos.

Editores não cadastrados são identificados pelo Internet Protocol (IP) atribuído ao computador naquela conexão. Sem exceção, todas as edições realizadas nos artigos são registradas na página “Histórico” – na qual é possível comparar versões, identificar o autor da edição, data, horário e comentários. A busca pelo consenso durante a edição contínua dos artigos da Wikipédia ocasiona, em inúmeros casos, disputas e conflitos, que são as chamadas “guerras de edições.

A Wikipédia possibilita resgatar qualquer versão do artigo, principalmente em casos de edições feitas de má-fé, chamadas de “vandalismo”. Segundo D’Andrea, dois tipos de vandalismo são reconhecidos pelo projeto: o furtivo e o “explícito”. No primeiro caso, o usuário acrescenta informações incorretas ou adiciona imagens consideradas indecentes ou impróprias. Já o vandalismo explícito ocorre quando um editor diverte-se em repetitivamente apagar conteúdo de páginas, em trocar informações corretas por erradas, em inserir termos de baixo calão ou ofensivos ao projeto ou, ainda, aos contribuintes do projeto, mesmo após ter sido avisado por outro editor.

Recentemente, quando da morte do ator José Wilker, uma amiga do repórter postou atônita em seu Facebook um vandalismo do tipo “explícito”: “Nossa, fui ver que história é essa do José Wilker ter morrido e entrei no Wikipédia e lá estava ‘José Wilker faleceu no dia 5 de abril de 2014, aos 66 anos, vítima de infarto e deixou todo o seu dinheiro para a caridade e para pagar a conta de luz do Vasco’… hein? Entrei de novo e a história do Vasco já não estava mais…”

A rápida remoção do conteúdo impróprio pode ter sido realizada por ação humana (editor ou administrador) ou pelos robôs algorítimos da Wikipédia, como, por exemplo, o Salebot, software criado para fazer intervenções automáticas quando encontrar expressões suspeitas. O Salebot já fez mais de 180 mil interferências em verbetes da Wikipédia lusófona.

Segundo artigo publicado pela revista mensal Piauí sobre o assunto, o wikipedista tem ainda a possibilidade de vigiar um artigo de seu interesse. Nesse caso, ele é notificado sempre que o verbete selecionado passar por alguma alteração. “O artigo de Lula é vigiado por 170 usuários. O de Dilma Rousseff, por 112. O de José Serra, por 94. E o de Fernando Haddad, por menos de 30”, diz o texto. Em outro caso, quando da morte, em março de 2009, do maestro francês Maurice Jarre, um estudante irlandês decidiu fazer o que ele mais tarde chamou de um “experimento social”. Na biografia do músico, atribuiu-lhe uma frase fantasiosa: “Quando eu morrer, vai haver uma valsa final tocando na minha cabeça que apenas eu poderei ouvir”. A frase foi lembrada no obituário de Jarre publicado por jornais respeitáveis, como The Guardian e The Independent.

Jenkins diz que a força do projeto está justamente nesse processo mais livre e sem fim. “Talvez o que eu mais admire seja o esforço de articular um conjunto compartilhado de normas éticas sobre o significado de participar do projeto, normas que são debatidas, mas que determinam em grande medida como a informação é coletada, avaliada e postada no site.” A Encyclopédie francesa levou mais de duas décadas para ficar pronta. Aos 13 anos, produzida a todo instante por pessoas de graus diversos de conhecimento, a Wikipédia pode ser vista como uma enciclopédia viva – e, portanto, imperfeita e encantadora como todo ser dessa natureza. A afirmação de Wales, um de seus fundadores, de que é “impossível imaginar a internet sem colaboração”, reflete esse espírito wikipedista, que refuta a ideia de que a fonte do conhecimento tem de ser controlada.

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AFOGADOS EM BITS


Em 1986, se toda a informação acumulada fosse colocada em CDs e distribuída aos seres humanos, cada um receberia apenas um. Vinte e um anos depois, seriam necessários 61

Martin Hilbert, professor doutor em comunicação e economia da Universidade do Sul da Califórnia, pesquisador do papel da informação, conversou com RB sobre o estudo que publicou na revista científica Science em 2011, no qual contabilizou com outra colega a quantidade de dados armazenados, transmitidos e processados por todos os dispositivos – analógicos e digitais – usados entre 1986 e 2007. O estudo revela que, em 2007, a humanidade foi capaz de armazenar 295 trilhões de megabytes comprimidos, comunicar quase dois quadrilhões de megabytese carregar 6,4 x 1018 instruções por segundo em computadores. Um megabyteé o equivalente a 8 milhões de bits, a menor unidade para medir informação. Hoje, diz o estudo, somente 0,007% da informação do planeta está em papel.

A pesquisa também mostra a diferença de capacidade dos dispositivos tecnológicos antes e depois da revolução digital. Em 1986, quando apenas 0,8% dos suportes usados era digital, o armazenamento possível de informações era de apenas 2,6 trilhões de megabytes. Se essa informação fosse gravada em CD-ROMs (com capacidade de 700 megabytes cada um) e estes fossem distribuídos para a população de todo o planeta, cada habitante não precisaria nem sequer de um CD inteiro. Já para gravar a quantidade de bytes que conseguimos armazenar em 2007, seriam necessários 404 bilhões de CD-ROMs, o que daria 61 por habitante. Empilhados, eles ultrapassariam a distância entre a Terra e a Lua.

“A quantidade de informação tem crescido exponencialmente”, diz Hilbert. “Na verdade, ela sempre cresceu mais rápido do que nossas habilidades cognitivas. A era digital nos trouxe muitos alertas no sentido de que temos de ser mais humildes, diante de nossa limitada cognição do real. E a Wikipédia é um bom exemplo do que os sociólogos chamam de ‘construção social da realidade’.”

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Manifestação Indígena crítica à Copa do Mundo é reprimida com bombas e cavalaria em Brasília

27 May 2014 8:07

por NINJA

por NINJA

 

28-May-2014

Manifestação Indígena crítica à Copa do Mundo é reprimida com bombas e cavalaria em Brasília

 
Brasília teve um aquecimento do que poderá acontecer em dias de jogos da Copa do Mundo. De acordo com a Lei Geral da Copa, os inimigos da ordem - leia-se, cidadãos que exercem seus direitos de manifestação e reivindicação - não podem se aproximar dos locais pré-determinados pela FIFA, como estádios e as áreas do Fan Fest. Hoje cerca de 3000 manifestantes foram reprimidos com violência pelo estado brasileiro, que garantiu os padrões da Federação Internacional de Futebol intactos. Um verdadeiro show de bombas e truculência militar.

O ato Unificado "Copa pra quem?", organizado pelo Comitê Popular da Copa, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, e a Articulação dos Povos Indígenas (APIB) tomou conta da Rodoviária do Plano Piloto em pleno horário de pico. A movimentação atraiu passageiros e trabalhadores para um julgamento popular contra os crimes cometidos pela FIFA, Governo e Patrocinadores da Copa do Mundo. A ação contou com indígenas de mais de 100 etnias distintas, de todas as partes do país, que estão em vigília na capital federal lutando contra o avanço do agronegócio sobre suas terras.

"Ao invés do governo obedecer a Constituição Federal e concluir as demarcações de todas as terras indígenas, prioriza e investe bilhões de reais em um evento que dura somente um mês e ainda prejudica o povo. Para quem o governo brasileira trabalha, afinal?" questiona Lindomar Terena, da coordenação da APIB.
A multidão seguiu até o Estádio onde acontecia a visitação da Taça Oficial de forma completamente pacífica, com crianças, idosos e gestantes, mas foi recebida por 4 batalhões de choque da Polícia Militar, a força bruta e colonizadora da cavalaria se impôs, sem nenhum diálogo, negando a passagem dos manifestantes, atirando bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
"Não somos vândalos, tiram nossas terras e a gente não pode nem chegar perto desse coliseu" diziam as lideranças indígenas e sem teto presentes. Todos voltaram para a rodoviária do DF, onde o dia terminou com uma assembleia vitoriosa. "Amanhã vai ser maior" entoavam diferentes movimentos após toda repressão.

Fonte: Mídia Ninja

Como descolonizar o Brasil no século XXI

Publicado em 27 de maio de 2014

Decisão judicial que desprezou religiões africanas não é fato isolado. Para situá-la, é preciso examinar “colonialismo”, um processo cultural muito mais profundo que julgamos
 
Por Luã Braga de Oliveira

Recentemente, no dia 28 de Abril de 2014, fomos surpreendidos com uma decisão judicial absolutamente controversa. O juiz Eugênio Rosa de Araújo, titular da 17ª Vara Federal, recusou-se a dar ganho de causa a uma ação movida pelo Ministério Público Federal. A ação pedia a retirada de uma série de vídeos do Youtube que ofendiam o Candomblé, a Umbanda e seus praticantes. Assistindo aos vídeos, torna-se difícil aceitar a defesa de que aquele conteúdo não ofendia as religiões supracitadas e seus praticantes.

Porém, a tese defendida pelo juiz rompeu de maneira muito mais brusca os limites da sensatez. Segundo Eugênio Rosa de Araújo, as religiões afrobrasileiras em questão sequer cumpriam os requisitos que, segundo ele, configuravam uma manifestação religiosa como uma religião. Para ele, para algo ser considerado uma religião seria necessário : Ter um Deus a ser venerado (assim, com “D” maiúsculo), ter um livro sagrado e possuir um sistema hierárquico.

Como candomblecista, proveniente de uma família com diversos praticantes de religiões afrobrasileiras, me senti pessoalmente ofendido. Entretanto, me senti mais ofendido enquanto cidadão e ser pensante. Primeiramente, devido ao galopante desconhecimento do Candomblé e da Umbanda desfilado pelo juiz. Além de estas terem um rígido sistema hierárquico, possuem um respeitável portfólio de deuses a serem venerados. Em segundo lugar, pela constatação do estágio pouco avançado em que nos encontramos para a superação dos elos que nos prendem a nosso passado colonial e escravista. Estes elos manifestam-se recorrentemente nas atitudes e nos discursos dos indivíduos na sociedade. Entretanto, ultimamente eles tem se manifestado de maneira assustadora e preocupante nas altas esferas políticas – e agora jurídicas –, colocando a perder os singelos passos que demos em direção a pluralização de direitos básicos outrora restringidos a determinados setores da sociedade.

A discriminação enquanto elemento histórico

Não é possível discorrer sobre o preconceito com as religiões afrobrasileiras separadamente do racismo. Desse modo, é necessário contextualizar, politizar e historicizar as formas de discriminação (religiosa, racial, sexual, etc.). No que tange a discriminação racial e religiosa, é necessário trazer à tona o caráter particularmente histórico destas práticas. O racismo não está no discurso. Ele apenas manifesta-se no discurso. O racismo, todavia, está na forma subalterna e subserviente na qual se deu a inserção do negro e sua cultura na sociedade de classes e na construção do Brasil.

Isso posto, torna-se inviável discutir o racismo e o preconceito com as religiões de matriz africana no Brasil sem colocar como questão central a natureza escravista e colonialista da formação do Brasil contemporâneo. Atitudes de discriminação do negro e de sua cultura ressaltam o aspecto colonial que ainda é preservado no seio da sociedade brasileira, manifestando-se até em políticas públicas e em decisões judiciais, como visto. Nas palavras de Caio Prado Jr.: “O passado, aquele passado colonial [...], aí ainda está, e bem saliente; em parte modificado, é certo, mas presente em traços que não se deixam iludir”. Para abordar a questão do colonialismo e seu papel na propagação de discursos discriminatórios, utilizarei as contribuições de um filósofo tão brilhante quanto pouco explorado atualmente no meio acadêmico: Frantz Fanon.

Descolonização como caminho de superação

Frantz Fanon (1925-1961) foi um psiquiatra e filósofo crítico afro-francês nascido na ilha de Martinica – departamento ultramarino insular francês no Caribe. Ainda criança, fora incentivado a rejeitar sua ascendência africana em favor da nacionalidade francesa. Após receber o diploma de psiquiatria, Fanon trabalhou em um hospital na Argélia durante a ocupação francesa. A experiência – que lhe proporcionou contato com a faceta mais cruel do colonialismo francês – e a influência prévia nele exercida por Aimé Cesáire e seus pensamentos o fizeram se interessar pelos estudos anticoloniais. Sua obra contribuiu largamente para os estudos que se aprofundaram na pós-modernidade. Fanon atribuiu uma conceituação aprofundada e mais sofisticada ao colonialismo tal qual conhecemos. O filósofo não descrevia o colonialismo apenas como uma subjugação física de um povo por outro, mas como um conjunto de elementos que tinham como princípio a negação da diversidade e da pluralidade, em favor de um determinado modo de produção/comportamento/pensamento. Diferentemente de outras formas de dominação, o colonialismo teria como característica ser a “negação sistemática e estrutural da diversidade”. Segundo o autor, colonialismo seria a ”negação sistemática do outro”.

Para Fanon, o mundo colonial é um “mundo compartimentado e maniqueísta”. As manifestações culturais do colonizado e do colonizador são descritas como mutuamente excludentes, de modo que só haveria espaço no establishment para uma destas visões – no caso, a do colonizador. Dessa forma, sendo a colonização o processo de “negação sistemática do outro”, são comuns estratégias de desumanização. Caracterizar o indivíduo colonizado como “não-humano” ajuda a legitimar o discurso colonizador. São recorrentes na história instrumentos de desumanização compondo o discurso de regimes totalitários e xenofóbicos, por exemplo. Durante o regime nazista, pesquisas pseudocientíficas eram desenvolvidas com o objetivo de provar que judeus e negros pertenceriam a uma raça inferior, sub-humana.

Do mesmo modo que caracterizar o indivíduo colonizado como “não-humano” é um instrumento comum do discurso colonialista, caracterizar sua cultura como “não-cultura” – no caso, sua religião como “não-religião” – é igualmente comum. Visto isso, a determinação deste juiz em não considerar as religiões de matriz africana como religiões de fato e de direito só demonstra que o processo de descolonização pela qual a sociedade brasileira deve passar está distante de ser completado. Não só a descolonização não foi feita da maneira satisfatória, mas diversos atores sociais e políticos hoje presentes e atuantes empenham-se na tentativa de aprofundar o estágio de colonização do qual nunca nos livramos.

Por uma educação pluriversal e polirracional

Outro pensador que contribuiu amplamente para este debate foi Antonio Gramsci (1891-1937). Ao reformular a teoria marxista e ressignificar o papel da superestrutura na reprodução do modo de vida capitalista e da ideologia liberal burguesa, Gramsci desenvolveu um importante conceito: A hegemonia cultural. Por meio dela, a ideologia da classe dominante é disseminada de modo a ser internalizada nas classes dominadas. A hemonia cultural garante, portanto, que as classes dominadas não só concederão sua força de trabalho para a acumulação de riqueza da classe dominante, mas reproduzirão os ideais e os valores desta última. Como essa hegemonia é exercida? Gramsci afirma que a hegemonia cultural da classe dominante é exercida através do que chamou de meios de construção de consensos. Seriam eles as instituições responsáveis por construir os valores, o pensamento e os costumes da sociedade capitalista. Em outras palavras, são as instituições responsáveis por dizer o que vamos pensar, como vamos agir e que valores teremos como base em nossas vidas. São elas: A grande mídia, as instituições religiosas, as instituições de ensino, o núcleo familiar, etc. Dessa forma, como superar esta conjuntura e iniciar o processo de descolonização cultural que urge ser implementado?

O professor Renato Nogueira Jr. (UFRRJ), em palestra no TEDxUFF, enquanto versava sobre a questão do ensino religioso nas escolas, defendeu uma tese interessante de reestruturação da pedagogia envolvida no ensino das religiões na escolas. Para ele, o paradigma existente no processo pedagógico hoje é universal e monorracional. Este modelo pedagógico seria responsável por propagar ideologias colonizantes, e só a adoção de um processo pluriversal e polirracional de construção do conhecimento seria capaz de subverter esta ordem. Podemos dizer, portanto, que o modelo de construção de consensos detentor da hegemonia cultural em nossa sociedade é universal e monorracional. A universalidade (do latim “unius” – um- e “versus” – alternativa) exclui a multiplicidade de pensamentos, culturas, tradições e costumes, ao criar paradigmas axiomáticos e fronteiras do conhecimento. A monorracionalidade prevê um único caminho cognitivo para os processos construção do conhecimento. Na sociedade ocidental capitalista e cristã, a monorracionalidade nos condiciona a pensar sob a lógica positivista. Expoentes do pensamento filosófico ocidental – desde Platão, passando por Descartes e Kant – fundamentam o nosso modus pensandi. Este modelo é hegemônico, pois, por meio do discurso epistemológico, reforça o modo de produção e reprodução que é base da sociedade capitalista. Desse modo, uma possível alternativa no combate as práticas discriminatórias seria a implementação de um modelo pedagógico pluriversal e polirracional nos meios de construção de consensos (escolas, mídia, instituições religiosas, família, etc.). Não se trataria mais de buscar as teorias/visões/ideologias que supostamente melhor interpretariam e representariam a realidade, mas criar condições para um debate plural e polidialógico.

A implementação deste modelo, no entanto, esbarra nos interesses políticos, econômicos e ideológicos de frações da sociedade que hoje controlam as instituições responsáveis por produzir estes consensos. É de extrema dificuldade a obtenção de avanços no debate acerca dos métodos de descolonização do pensamento e de superação dos discursos racistas, machistas, homofóbicos – entre outros que representam a normatividade universal e monorracional a qual estamos submetidos – sem pensar em profundas reformas nas instituições mais conservadoras que hoje detém o monopólio do discurso. Existem alguns esforços neste sentido, como as propostas de democratização da comunicação, reformas na pedagogia aplicada nas escolas, ressignificação do conceito de família – no qual se incluiriam famílias compostas por casais homossexuais, etc. Cabe à sociedade apoiar e incentivar estes esforços de modo a nos fazer avançar no processo de descolonização cultural – ou, ao menos, nos fazer parar de retroceder.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Tens ouvido falar sobre feminicídio no Brasil?

LImagem: Latuff Cartoons / Pelo fim da violência contra a mulher.

Titulo original: ¿Has oído hablar sobre el Femenicidio en Brasil?

Por Suyan Castelo Branco
Explicado el 27/05/2014
 
En las 3 últimas décadas ha habido progresos significativos en lo que respecta a la vida y desarrollo de muchas mujeres y niñas en el mundo. Tanto en el ámbito de lo público como en el de lo privado, la fuerte y constante lucha de importantes movimientos en defensa de las mujeres, grandes demandas han entrado en la Agenda Política Mundial. Sin embargo, esta lucha tiene todavía que recorrer un largo camino para alcanzar una verdadera igualdad de género y el fin de la violencia contra las mujeres y las niñas. Hoy por hoy, todavía son muchos e importantes, los obstáculos que obstruyen el pleno ejercicio de la ciudadanía de muchas mujeres de este planeta. Uno de estos grandes obstáculos es sin lugar a dudas, el pleno ejercicio de los derechos sexuales y reproductivos, la violencia machista y especialmente, el feminicidio. Brasil, un país cuya población supera ni más ni menos que los 200 millones de habitantes, siendo más de la mitad mujeres, sufre también de esta dolencia social.  ¿Cuáles son las claves sobre el feminicidio en Brasil? A continuación, algunas pinceladas.


El Feminicidio en Brasil: los datos oficiales, la punta del iceberg

En Brasil, la violencia contra la mujer presenta datos alarmantes y raíces culturales. La génesis de la violencia contra la mujer está en el machismo, en la manera como la mujer es vista por la sociedad, en la limitación de sus espacios, comportamientos y sexualidad.
De acuerdo al mapa sobre violencia de género actualizado en 2012, en Brasil cada 2 horas una mujer es asesinada por su pareja, un familiar o una persona de su círculo cercano. De acuerdo a este mismo informe, entre 2000 y 2010, 43.654 mujeres fueron asesinadas en Brasil, víctimas de homicidios motivados por violencia de género. En línea con estas cifras, la Organización Mundial de la Salud (OMS) realizó un informe similar en base a datos comprendidos entre 2006 y 2010 que registraba una tasa brasileña de 4,6 asesinatos de violencia de género cada 100.000 mujeres para 2010 (es decir que ese año se dieron 4.465 casos). De esta manera sería la séptima más alta en una lista de 84 países citados por el informe.

Este mismo mapa señala que tras la puesta en marcha en 2006 de una ley contra la violencia doméstica en el país conocida como “Ley Maria da Penha”, la tasa de asesinatos de mujeres en Brasil bajó sensiblemente (a 3,9 cada 100.000).
Sin embargo, datos más recientes del Instituto de Investigación Económica Aplicada (IPEA) de Brasil señalan que estas cifras han vuelto a subir, estimándose hoy por hoy   una tasa anual de feminicidio de 5.82 mujeres asesinadas por cada 100 mil brasileñas. Del total de muertes, el 61% fueron de mujeres afro-descendientes, las principales víctimas de este tipo de violencia en casi todas las zonas del país (excepto en la región Sur). Siendo las mujeres jóvenes las principales víctimas: el 31% se situaba entre los 20 y 29 años y el 23% entre 30-39 años.

 Mortalidade de mulheres por agressões.

(Taxa de mortalidade, por 100 mil mulheres, antes e após a vigência da Lei Maria da Penha
Fuente: Estudo ‘Violência contra a mulher:
feminicídios no Brasil’ IPEA 2013

De acuerdo a este mismo instituto y a varios expertos consultados, los datos oficiales no dimensionan gravedad de feminicidio en Brasil. Un estudio publicado este mismo año 2014 por la Convención Interamericana para Prevenir, Sancionar y Erradicar la Violencia contra la Mujer (MESECVI), también conocida como Belém do Pará, destaca  que “la falta de cifras sobre violencia de género no ha permitido medir el impacto de las políticas públicas implementadas desde la entrada en vigor de la Convención en 1994”.

Las cifras de las encuestas de los registros de salud y de los distintos órganos de administración de justicia siguen siendo limitados y aún imposibles de contabilizar como cifras nacionales, más aun como cifras regionales, por lo que la violencia de género sigue siendo un fenómeno subregistrado.


Ley Maria da Penha: una ley insuficiente
Maria da Penha Fernandes fue una conocida víctima de violencia de género que en 1983 sufrió un ataque por parte de su marido que le provocó paraplejía. Éste le disparó mientras dormía, y no contento con ello, dos semanas después de salir del hospital, intentó electrocutarla. Después de un largo proceso y muchísima lucha a sus espaldas, Maria consiguió que en 2002 el su ex-marido fue condenado.

En un primer momento, Brasil no tomó las medidas adecuadas frente al crimen cometido por el agresor de Maria, y dado que la violencia de género es una violación de los Derechos Humanos, en 1988 Penha y otras organizaciones de defensa de los derechos de las mujeres, denunciaron a Brasil ante la Comisión Interamericana de Derechos Humanos por no tomar medidas efectivas contra este tipo de crimen. La Comisión responsabilizó a Brasil y exhortó al Estado brasileño a adoptar medidas inmediatas que garantizasen un efectivo la prevención y erradicación de la violencia contra las mujeres, así como la persecución de las personas que llevasen a cabo este tipo de violencia.
No fue hasta 2006 que se promulgó la ley Nº 11.340, más conocida como Ley Maria da Penha. Ésta establece sanciones penales por actos de violencia doméstica y familiar contra las mujeres y las niñas, y promueve programas de rehabilitación para los agresores, cuerpos policiales y tribunales especializados. En 2012, la Presidenta Dilma ratificó el compromiso de la plena implementación de dicha ley.

Sin embargo, tal y como ya se ha avanzado en anterior apartado, recientes estudios han mostrado que esta ley no ha tenido el impacto esperado sobre la mortalidad de las mujeres fruto de violencia de género. De acuerdo a las organizaciones defensoras de los derechos de las mujeres y a diferentes expertos brasileños, la ley por sí sola no es suficiente. No existe una verdadera red de apoyo institucional para las mujeres víctimas de este tipo de violencia, faltan policías especializadas, y sobre todo, una mejor preparación del los profesionales de la sanidad a la hora de reconocer la violencia de género en sus pacientes. Todo ello evidencia la necesidad de reforzar las acciones previstas en esta ley, así como la adopción de otras medidas orientadas a hacer frente a la violencia de género en el país, y a la efectiva protección de las víctimas y la reducción de las desigualdades de género en el país.

Brasil, una sociedad machista


Imagen: Latuff Cartoons / Pelo fim da violência contra a mulher

En el último mes de marzo de 2014 el IPEA publicó los resultados de una investigación sobre la tolerancia social a la violencia contra la mujer. Estos resultados pusieron de manifiesto algunos datos alarmante. Por un lado, gran parte de las personas encuestadas dijeron estar de acuerdo con la necesidad de perseguir judicialmente a los perpetradores de este tipo de violencia. Sin embargo, en otras preguntas más relacionadas con la libertad de la mujer a la hora de vestir y la violencia de género, casi el 60% de los/as encuestados/as se mostró de acuerdo o parcialmente de acuerdo con frases como: “las mujeres que usan ropas que muestran el cuerpo, merecen seratacadas”. Este mismo estudio revela también que el 55% de la población preguntada, “cree que existen mujeres que están hechas para el matrimonio y mujeres que están hechas solo para el sexo” y que “la culpa de los altos índices de violencia sexual -cerca del 60% de la población femenina ha sufrido un episodio de acoso sexual alguna vez en su vida-, recae en las mujeres que, insubordinadas, no se comportan como deberían hacerlo”.

Estos datos revelan así, que la población brasileña posee todavía una percepción de la familia muy tradicional y conservadora, donde el hombre es la cabeza de la familia y la mujer se debe hacer respetar y comportarse conforme al papel establecido en el modelo patriarcal. Se comprueba así que las transformaciones sociales de los últimos años no han impedido que el sistema patriarcal y machista siga estando muy presente en la cultura brasileña. Y mientras ello siga así, la violencia de género contra las mujeres, no cesará.

Sin lugar a dudas, todavía queda mucho camino por recorrer.
Fonte: UnitedExplanations

segunda-feira, 12 de maio de 2014

El nuevo “mapamundi” del poder económico

Manuel Ansede,
Republicado de Materia.

En el siglo XVI, bastaba ver el mapa político del mundo, con la mancha monocolor del imperio de Carlos V en el que nunca se ponía el sol, para saber quién ostentaba el poder. Hoy no es tan sencillo, pero el matemático español Carlos Pais acaba de presentar un buen intento, aplicando las técnicas de análisis de redes complejas, las mismas que se emplean en los buscadores de internet como Google o para estudiar el cerebro humano.

Han sido años de trabajo rastreando bases de datos de medio mundo para almacenar 700.000 coordenadas geográficas de barcos de mercancías a lo largo de los años de la crisis, entre 2008 y 2011. Cada posición incluye la matrícula del barco, la nacionalidad del armador, su bandera, su carga. Y el resultado es una especie de mapa (aquí en alta resolución) con las venas y arterias de la nueva economía mundial: las rutas de los barcos de mercancías desde 2008, cuando se sucedieron, como si fueran fichas de dominó, las bancarrotas del banco de inversión Lehman Brothers, las compañías hipotecarias Freddie Mac y Fannie Mae y la aseguradora AIG.

Los autores partieron de una mapamundi real, en el que localizaron los principales puertos con puntos de diferentes tamaños en función del volumen de mercancías que manejan. El mayor punto es Singapur, con 26 millones de contenedores, seguido por Hong Kong, el trampolín de las fábricas chinas con 21 millones de contenedores, y el puerto holandés de Róterdam, con casi 10 millones. A partir de esos datos, Pais y sus colegas han transformado el mapa real con algoritmos para que muestre las distancias económicas, no las geográficas.


El ajedrez y las tres en raya


El resultado no es un mapa, sino un grafo, una representación muy apreciada por los matemáticos para estudiar las interrelaciones entre los puntos de una red, en este caso los principales puertos de mercancías del planeta.

A toda esta maraña de datos, Pais y sus colegas de la Universidad de A Coruña han aplicado el algoritmo de Dijkstra, un algoritmo útil para determinar el camino más corto entre diferentes puntos de un grafo que también se utiliza para programar un videojuego de ajedrez o de las tres en raya.


De los 10 puertos más emergentes, tres están en África, tres en América Central y dos en Turquía

Los ojos expertos de Pais comparan ahora el grafo del transporte de contenedores en el periodo 2008-2009 con el de 2010-2011. En esos contenedores viaja cualquier cosa: desde teléfonos móviles y ordenadores hasta ropa o fruta refrigerada. Siguiendo su pista se puede saber quién produce y quién consume en el mundo. “En el transporte de contenedores siguen dominando los puertos de Hong Kong, Singapur y Róterdam, pero estamos viendo cómo aparecen muchos puertos emergentes”, explica el matemático.

De los 10 puertos que más han crecido en importancia, tres están en África, tres en América Central y dos en Turquía. El puerto emergente más importante es Dar Es Salaam, en Tanzania, seguido por el puerto turco de Mersin, cerca del congestionado canal de Suez, que comunica el Mediterráneo con el mar Rojo a través de Egipto.


Pisando el freno en el mar



El tercer puerto emergente, según el estudio, es Pointe-Noire, un embarcadero en República del Congo relacionado con la industria del petróleo que se ha beneficiado de su posición estratégica en las rutas entre la fábrica del mundo de Asia oriental y Europa a través del cabo de Buena Esperanza, la punta sur de África. “Durante la crisis, muchas empresas de transporte optaron por el slow steaming, navegar más lento para gastar menos combustible, y por ir sin prisa por la ruta del cabo de Buena Esperanza en vez de acortar por el canal de Suez, para no tener el buque fondeado en un puerto, que resulta carísimo”, explica Pais.

Los puertos de Arabia Saudí y Emiratos Árabes Unidos se han convertido en ricos intercambiadores comerciales

Los datos de los investigadores, publicados en la revista Transport Policy, también revelan el crecimiento “significativo” de algunos puertos de América Central, como el de Ensenada, en México, que movió 184.000 contenedores durante el periodo analizado. También destacan Puerto Cortés, en Honduras, y el veterano Cristóbal, el extremo caribeño del canal de Panamá, con 1,37 millones de contenedores.

“Lo que también llama la atención es la importancia que han adquirido en este periodo los puertos de Oriente Medio, como Yedá (Arabia Saudí), Jebel Ali (Emiratos Árabes Unidos) y Puerto Saíd (la entrada al canal de Suez en Egipto)”, explican los investigadores en su análisis. “Durante la crisis se han convertido en ricos intermediarios comerciales, generando su propia estructura de demanda y suministrando un volumen cada vez mayor de mercancías a los puertos del Mediterráneo y del mar Negro”, añaden.

“El transporte marítimo se considera un precursor del crecimiento económico. Uno no encarga un contenedor si luego no va a vender la mercancía. Y lo que subyace en nuestro grafo es la emergencia de algunas economías en Sudamérica y África, además de Turquía”, resume Pais.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Avança a luta contra a especulação imobiliária

A população pobre resiste aos ataques promovidos pelos grandes capitalistas que querem salvar os lucros a qualquer custo

Um dos componentes principais da luta das comunidades pobres e das periferias é contra a especulação imobiliária, que carrega consigo a sombra das remoções forçadas. São muitos os problemas que o povo pobre e trabalhador enfrenta diariamente nas comunidades brasileiras. O habitacional é um dos maiores – terra, moradia e serviços públicos de péssima qualidade. Os grandes capitalistas se valendo do controle do estado promovem ataques contra a população pobre com o objetivo de expulsa-los dos locais de moradia e garantir grandes lucros com as obras de remoção, viabilizadas em cima de recursos públicos, a construção de apartamentos e condomínios de luxo, e de obras orientadas ao turismo. Esses ataques sempre fizeram parte do Brasil, mas se tornaram muito mais frequentes e truculentos a partir de 2009, quando a crise capitalista mundial atingiu em cheio o País.

Inicialmente, se concentraram nas favelas do Rio de Janeiro, que contam com localização geográfica privilegiada, devido aos eventos esportivos, o Mundial de Futebol e as Olimpíadas, que abriram a possibilidade de criar grandes empreendimentos turísticos com dinheiro público. Rapidamente, a especulação imobiliária avançou na cidade de São Paulo, Belo Horizonte e em praticamente todas as principais cidades. A migração de enormes volumes de capitais imperialistas dos países desenvolvidos para os países atrasados, por causa da bancarrota da especulação imobiliária, a chamada subprime, em 2008 nos países desenvolvidos, provocou que o preço dos imóveis em várias cidades brasileiras triplicassem nos últimos cinco anos.

Os moradores que não são removidos ficam sufocados com o aumento do custo de vida e também acabam sendo expulso para locais mais distantes. Os removidos, no melhor dos casos apenas recebem uma bolsa aluguel de R$ 350 mensais por até um ano.

Dividocracia


Na Internet, toda a gente fala do documentário sobre a crise grega, preparado pelos jornalistas Katerina Kitidi e Aris Hatzistefanou e que tem por título "Debtocracy". Rodado com dinheiro próprio e com donativos de alguns amigos, o filme tem exibição gratuita em http://www.debtocracy.gr. Em menos de dez dias, foi visto por 600 mil utilizadores. Todos os dias, defensores e adversários do documentário apresentam os respetivos pontos de vista no Facebook, no Twitter e em blogues.

Os principais atores do documentário (cerca de 200 pessoas) assinam um pedido de criação de uma comissão internacional de auditoria, que teria por missão especificar os motivos da acumulação da dívida soberana e condenar os responsáveis. No caso vertente, a Grécia tem direito a recusar o reembolso da sua "dívida injustificada", ou seja, da dívida criada através de atos de corrupção contra o interesse da sociedade.

"Debtocracy" é uma ação política. Apresenta um ponto de vista sobre a análise dos acontecimentos que arrastaram a Grécia para uma situação preocupante. As opiniões vão todas no mesmo sentido, sem contraponto. Foi essa a opção dos autores, que apresentam a sua maneira de ver as coisas, logo nos primeiros minutos: "Em cerca de 40 anos, dois partidos, três famílias políticas e alguns grandes patrões levaram a Grécia à falência. Deixaram de pagar aos cidadãos para salvar os credores".

Os "cúmplices" da falência perderam o direito à palavra.

Os autores do documentário não dão a palavra àqueles que consideram "cúmplices" da falência. Os primeiros-ministros e ministros das Finanças gregos dos últimos dez anos são apresentados como elos de uma cadeia de cúmplices que arrastaram o país para o abismo.

O diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que se apresentou aos gregos como o médico do país, é comparado ao ditador Georges Papadopoulos [primeiro-ministro sob o regime dos coronéis, de 1967 a 1974]. O paralelo é estabelecido com uma facilidade notável desde o início do documentário mas não é dado ao personagem relevante (DSK) o direito a usar da palavra.

À pergunta "Porque não fazer intervir as pessoas apontadas a dedo", um dos autores, Kateina Kitidi, responde que se trata de "uma pergunta que deve ser feita a muitos órgãos de comunicação que, nos últimos tempos, difundem permanentemente um único ponto de vista sobre a situação. Nós consideramos que estamos a apresentar uma abordagem diferente, que faz falta há muito tempo". O público garante a independência do filme.

Para o seu colega Aris Hatzistefanou, o que conta é a independência do documentário. "Não tínhamos outra hipótese", explica. "Para evitar as limitações quanto ao conteúdo do filme, que as empresas [de produção], as instituições ou os partidos teriam imposto, apelámos ao público para garantir as despesas de produção. Portanto, o documentário pertence aos nossos 'produtores associados', que fizeram donativos na Internet e é por isso que não há problemas de direitos. De qualquer modo, o nosso objetivo é difundi-lo o mais amplamente possível."

O documentário utiliza os exemplos do Equador e da Argentina para suportar o argumento segundo o qual o relatório de uma comissão de auditoria pode ser utilizado como instrumento de negociação, para eliminar uma parte da dívida e do congelamento dos salários e pensões de reforma.

"Tentamos pegar em exemplos de países como a Argentina e o Equador, que disseram não ao FMI e aos credores estrangeiros que, ainda que parcialmente, puseram de joelhos os cidadãos. Para tal, falámos com as pessoas que realizaram uma auditoria no Equador e provaram que uma grande parte da dívida era ilegal", acrescenta Katerina Kitidi. Contudo, "Debtocracy" evita sublinhar algumas diferenças de peso e evidentes entre o Equador e a Grécia. Entre elas, o facto de o Equador ter petróleo.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

NOTA DO MTST SOBRE AÇÃO DE DESPEJO CONTRA A COPA DO POVO

Fomos informados da decisão em primeira instância estabelecendo a reintegração de posse da Ocupação Copa do Povo. O MTST irá recorrer da decisão, através de seus advogados, por considerá-la injusta e descriteriosa.

Foi publicado amplamente na mídia o fato da Viver Incorporadora, proprietária do terreno, mantê-lo fraudulentamente como área rural, sendo então tributada por ITR ao invés de IPTU. O resultado desta ação criminosa é uma sonegação violenta que faz com que a Empreiteira, que tem cerca de R$4 bilhões apenas em terras, pague R$57/anuais de imposto por um terreno de mais de 150 mil m².

Desconsiderando este fato e muitos outros – como o abandono da área por anos – o Juiz decretou a reintegração.

O MTST julga ilegítima tal decisão e alerta os efeitos dramáticos que ela pode causar.

Recorremos judicialmente e buscaremos todas as vias institucionais de negociação. Mas não sairemos da Ocupação sem uma negociação de solução habitacional para as famílias.

Em caso de tentativa de despejo forçado pela Polícia haverá resistência organizada. Esperamos que o Estado tenha o bom senso de não repetir erros passados. Não queremos outro Massacre do Pinheirinho. Nem que a imagem da Copa do Mundo no Brasil seja definitivamente marcada por um conflito violento e massacre de trabalhadores sem-teto.

COORDENAÇÃO NACIONAL DO MTST