DAVID FRIEDLANDER
MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO
11/10/2013
O subsecretário de
Fiscalização da Receita Federal, Caio Marcos Cândido, deixou ontem o cargo
fazendo um tremendo barulho.
Numa
mensagem publicada no correio interno do fisco, que chega a todos os auditores
do país, reclamou sem meias palavras da ingerência externa em decisões do
fisco. A Receita nega que sofra interferência externa.
Lei beneficia bancos e
multinacionais
A área
até ontem chefiada por Cândido é uma das mais sensíveis na estrutura da
Receita. Responsável pela política de fiscalização do Fisco, decide as empresas
e setores que devem passar pelo pente-fino dos auditores e aplica as autuações
nos infratores.
O
ex-subsecretário de Fiscalização, Caio Marcos Cândido
"Há
algum tempo estava incomodado com a influência externa em algumas decisões, com
prevalência em algumas vezes, sob meu ponto de vista, de posições menos
técnicas e divorciadas do melhor interesse. Assim, melhor voltar para casa com
a certeza do dever cumprido e de ter combatido o melhor combate", escreveu
Cândido.
Ele
citou ainda saudades da família, que vive fora de Brasília, como outro motivo
para sua decisão.
O
conteúdo de sua mensagem, espalhada pela rede interna do órgão, provocou uma
onda de especulações sobre a suposta "influência externa" mencionada
por ele.
Em sua
mensagem, Cândido não revela de onde viria a pressão externa que o teria levado
a pedir para deixar o cargo. A Folha apurou, no entanto, que ele andava
incomodado com aquilo que enxergava como interferência de grandes empresas.
GOTA D'ÁGUA
A gota
d'água teria sido as condições especiais oferecidas às multinacionais
brasileiras no pagamento de tributos atrasados, em lei sancionada pela
presidente Dilma.
As
empresas foram autuadas pela Receita para pagar, com multa, o Imposto de Renda
e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de lucros obtidos no
exterior, mas questionavam a cobrança na Justiça.
Ontem,
o governo publicou uma lei que perdoa multas e juros dessas empresas, caso
paguem à vista. Elas também poderão usar créditos fiscais para quitar suas
dívidas.
Essas
condições, antecipadas pela Folha na semana passada, são consideradas incomuns
por auditores e tributaristas. São ainda mais favoráveis do que as oferecidas
em 2009, quando a economia brasileira se retraiu em decorrência da crise
externa.
A
medida azedou o clima na Receita, apurou a Folha. Entre tributaristas, ficou a
impressão de que o governo está recorrendo a medidas extremas para aumentar a
arrecadação a qualquer custo.
A
reportagem contatou Cândido pelo celular ontem, mas ele disse que não poderia
falar. Hoje é seu último dia na função e os colegas preparam uma festinha de
despedida.
O
secretário da Receita, Carlos Alberto Barreto, afirmou em nota que Cândido
deixou o cargo de confiança por razões pessoais e por "um natural desgaste
no exercício da função, decorrente de questões administrativas internas do
órgão".
"Qualquer
ilação de que o pedido de exoneração teria fundamento em supostas ingerências
externas à Receita Federal é equivocada e desconectada da realidade."
Fonte: Folha
de S.Paulo
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