Fundador do Wikileaks, Julian
Assange diz que um dos grandes problemas do Brasil e da América Latina é a
concentração da mídia; ele defende o presidente equatoriano Rafael Correa, que
lhe deu asilo, aprofunde a disputa com a imprensa local. "Deveria atacar
mais", diz ele. "Quando falamos em liberdade de expressão, temos de
incluir a liberdade de distribuição, uma das coisas mais importantes que a
internet nos deu", afirma
4 DE FEVEREIRO DE 2013
247 - Refugiado na embaixada do
Equador em Londres, Julian Assange, fundador do Wikileaks, recebeu o jornalista
Jamil Chade, correspondente do Estado de S. Paulo, para falar sobre sei livro
Cypherpunks, Liberdade e o Futuro da Internet, que está sendo lançado no Brasil
pela Boitempo Editorial. Na entrevista, ele disse que um dos principais
problemas da América Latina é a concentração da mídia. "No Brasil, seis
famílias controlam 70% da informação".
Leia, a seguir, os principais trechos
da conversa:
A
web como arma
Tecnologia produz poder, a
ponto de a história da civilização humana ser a história do desenvolvimento de
diferentes armas de diferentes tipos. Por exemplo, quando rifles eram as armas
dominantes ou navios de guerra ou bombas atômicas. Desde 1945, a relação entre
as superpotências era definida por quem tinha acesso a armas atômicas. Hoje, a
internet redefiniu as relações de força antes definidas pelas armas. Todas as
sociedades que têm qualquer desenvolvimento tecnológico, que são as sociedades
influentes, se fundiram com a internet. Portanto, não há uma separação entre
sociedade, indivíduos, Estados e internet. A internet é hoje o alicerce da
sociedade e conecta os Estados além das fronteiras. Conhecimento é poder.
Vigilância
global
A comunicação entre indivíduos
ocorre pela internet. Sistemas de telefone estão na internet, bancos e
transações usam a internet. Colocamos nossos pensamentos mais íntimos na
internet, detalhes, como diálogos entre marido e mulher e até nossa posição
geográfica. Enfim, tudo é exposto na internet. Isso significa que grupos
envolvidos na vigilância em massa realizam uma apropriação enorme de
conhecimento. Esse é o maior roubo da história.
Google
e Facebook
O Google sabe o que você estava
pensando. E sabe o que você pensou no passado, porque quando você quer saber
algum detalhe, busca no Google. Sites que têm Google Adds, ou seja, todos os
sites, registram sua visita. O Google sabe todos os sites que você visitou,
tudo o que você buscou. Ele te conhece melhor que você. Você sabe o que você
buscou há dois dias? Não. Mas o Google sabe. Alguém pode dizer: o Google só
quer vender publicidade. Mas, na realidade, todas as agências de inteligência
dos EUA têm acesso ao material do Google. Eles acessaram isso em nosso caso. (…)
Países como a Islândia têm uma penetração no Facebook de 88%. Mesmo que você
não esteja no Facebook, seu irmão está e está relatando sobre você.
Uso
pela CIA
Pessoas querem compartilhar
algo com meus amigos e amigos de meus amigos, mas não com meus amigos e com a
CIA. As pessoas estão sendo enganadas.
Concentração
de mídia
[Rafael Correa, presidente do
Equador] deveria atacar mais. A primeira responsabilidade da imprensa é a
precisão e a verdade. O grande problema na América Latina é a concentração na
mídia. Há seis famílias que controlam 70% da imprensa no Brasil, mas o problema
é muito pior em vários países. Na Suécia, 60% da imprensa é controlada por uma
editora. Na Austrália, 60% da imprensa escrita é controlada por (Rupert)
Murdoch. Portanto, quando falamos em liberdade de expressão, temos de incluir a
liberdade de distribuição, uma das coisas mais importantes que a internet nos
deu.
Revelações
sobre o Brasil
Sim. Publicaremos muito sobre o
Brasil neste ano.
Fonte: 247
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