Em 15/04/2014
Maior prêmio jornalístico do
mundo é concedido a reportagens baseadas em vazamentos de Edward Snowden — o
homem que Washington persegue em toda parte
Por Patrick Martin, no WorldSocialist | Tradução: Gabriela Leite
A Universidade de Colombia
concedeu a honraria mais prestigiada do jornalismo, a medalha de ouro do Prêmio
Pulitzer, aos jornais que publicaram artigos baseados em documentos vazados
pelo ex-contratado pela Agência de Segurança Nacional dos EUA, Edward Snowden.
O Washington Post foi escolhido
por artigos escritos por Barton Gellman e pela cineasta Laura Poitras, enquanto
o britânico The Guardian, por textos de Glenn Greenwald, Ewan MacAskill e
Pitras. Os quatro jornalistas fizeram amplo uso do material vazado por Snowden.
Grenwald, Poitras e MacAskill encontraram-se com ele em Hong Kong em 2013, para
iniciar o processo que expôs a espionagem ilegal e inconstitucional praticada
pala Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana.
A decisão da Universidade de
Columbia é um tapa na cara do governo de Obama e dos aparatos de inteligência
dos EUA e do Reino Unido. O governo norte-americano esta tentando extraditar
Snowden para julgamento, prisão e possível execução como traidor. Tanto
Washington quanto Londres ameaçaram e procuraram intimidar os jornalistas
honrados pelos prêmios.
A medalha é oferecida “por um exemplo incomum de serviço público meritório, prestado por um jornal ou site de notícias.” Ao Washington Post, “por sua revelação de vigilância secreta generalizada pela Agência Nacional de Segurança, marcada por relatos competentes e perspicazes que ajudaram o público a entender como as revelações se encaixam no quadro geral da segurança nacional”; ao Guardian, “por sua revelação da espionagem secreta promovida pela NSA, que ajudou, através de reportagens ativas, a acender o debate sobre a relação entre o governo e o público, sobre questões de segurança e privacidade”.
Uma medalha de ouro semelhante
foi oferecida ao New York Times em 1972, por ter publicado os Documentos do
Pentágono (Pentagon Papers), vazados por outro denunciante vindo de dentro do
aparato de segurança nacional, o antigo oficial Daniel Ellsberg.
Edward Snowden emitiu uma
declaração na segunda-feira, através da Fundação Liberdade da Imprensa [Freedom
of the Press Foundation], parabenizando os dois jornais e chamando o prêmio de
uma “defesa a todos os que acreditam que o público tem um papel no governo”.
Ele prosseguiu: “Devemos isso aos esforços dos repórteres corajosos e seus
colegas, que continuaram trabalhando diante de uma intimidação extraordinária,
incluindo a destruição forçada de materiais jornalísticos, o uso inapropriado
de leis de terrorismo, e tantas outras maneiras de pressão para tentar fazê-los
interromper o que o mundo agora reconhece como um trabalho de importância
pública vital. Essa decisão nos faz lembrar de que uma imprensa livre pode
conseguir mudar o que uma consciência individual não pode. Meus esforços seriam
inexpressivos sem a dedicação, paixão e habilidade destes jornais. Eles têm
minha gratidão e respeito pelo serviço extraordinário a nossa sociedade. Seu
trabalho nos permite pensar num futuro melhor e numa democracia mais
responsável.”
Os mesmos quatro jornalistas
receberam o prêmio George Polk por reportagens sobre segurança nacional,
recebido na última sexta-feira, num hotel em Manhattan, Nova York. Greenwald e
Poitras, ambos cidadãos norte-americanos, retornaram aos Estados Unidos para
receber o prêmio, sua primeira visita ao país desde que redigiram, em conjunto,
os relados sobre a espionagem e vigilância do NSA. Greenwald agora mora no
Brasil, e Poitras em Berlim, para evitar a interferência norte-americana em seu
trabalho jornalístico.
Ambos disseram que não foram
impedidos de entrar no país. Ao se pronunciarem na cerimônia do prêmio Polk,
homenagearam Snowden. “Este prêmio é, na verdade, para Edward Snowden”, disse
Poitras. Greenwald acrescentou: “o que ele fez, assumindo sua responsabilidade,
merece gratidão — não indiciamentos e décadas de prisão”.
Em seu discurso de aceitação no
Polk, MacAskil apontou que o Guardian enfrentou um ataque muito mais duro do
governo no Reino Unido do que a edição norte-americana do Guardian, ou o
Washington Post, já enfrentaram nos Estados Unidos. Em certo ponto, os agentes
da inteligência britânica visitaram a redação do Guardian, para supervisionar a
destruição de drives de computador, em um esforço pesado de intimidação.
Greenwald ainda não fez um
comentário público sobre o prêmio Pulitzer, mas Poitras disse: “Eu acho que são
ótimas notícias. É um testamento à coragem de Snowden, uma reivindicação por
sua coragem e seu desejo de fazer o público saber o que o governo está fazendo”.
Poitras e Snowden também
receberam o prêmio Ridenhour, que homenageia um veterano do Vietnã que
trabalhou com Seymour Hersh para expôr o massacre de My Lai. Editores dos dois
jornais fizeram declarações cumprimentando tanto os jornalistas quanto Edward
Snowden. Alan Rusbridger, o editor-chefe do Guardian, disse: “Estamos
particularmente agradecidos por nossos colegas pelo mundo que apoiaram o
Guardian em circunstâncias que ameaçaram sufocar nossas reportagens. E
compartilhamos essa honra não apenas com os colegas do Washington Post, mas
também com Edward Snowden, que arriscou muito em nome do bem público e hoje
está sendo reconhecido por este prestigioso prêmio.”
Janine Gibson, editora do
Guardian norte-americano, disse que ganhar o prêmio foi importante.
Referindo-se à escolha da Universidade de Columbia, ela foi além: “Acredito que
essas palavras dizem alguma coisa sobre o que Edward Snowden fez, e o que os
repórteres e editores fizeram, face a muita retórica e oposição.”
O editor executivo do Washington
Post, Martin Baron, afirmou que a reportagem expôs uma política nacional “com
profundas implicações para os direitos constitucionais dos cidadãos
norte-americanos” e os direitos individuais ao redor do mundo. “Divulgar a
expansão maciça da rede de vigilância da NSA foi um serviço público”, disse.
“Ao construir um sistema de espionagem com foco e capacidade de intromissão
espantosos, nosso governo também solapou abruptamente a privacidade individual.
Tudo isso foi feito em segredo, sem debate público, e com fiscalização
relaxada.”
Ele disse também que sem as
revelações de Snowden, “nós nunca teríamos sabido o quão longe este país se
afastou dos direitos individuais em favor do poder de Estado.
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